Da Inércia à Entrega

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Sebastian não foi mais o mesmo. Estava extremamente quieto, perdido em pensamentos e, segundo Ominis, continuava sem dormir pelos pesadelos constantes. Temi que algo se tivesse quebrado dentro dele ou que ainda estivesse sobre o efeito da magia ancestral. Quem sabe ainda fosse algum truque de Isidora para fazer-me recorrer às anotações dela e aprender a manipular os sentimentos dos outros. Tentei conversar com ele, mas a sua mente estava demasiado distante para ver-me ou ouvir-me.

A minha última tentativa foi no jantar de quinta. Entrei no Salão Principal e fui direta ao seu encontro. Ignorei os olhares e os comentários dos alunos de Slytherin e toquei-lhe o ombro. Sem ter a atenção dele, chamei-o.

– Desiste, sangue-ruim. O teu lugar não é aqui – atacou Imelda, a sua voz sobrepôs-se à dos colegas de casa.

Usei todas as minhas forças para não me deixar afetar e tentei novamente acordar Sebastian daquele transe. Busquei socorro em Ominis, sentado à sua frente, mas não recebi a resposta que queria. Li-lhe nos lábios para ir-me embora.

Hesitei, mas acabei por afastar-me. Desisti do jantar e saí ao som dos risos dos orgulhosos sangue-puros. Desde então refugiei-me na Sala das Necessidades e debrucei-me sobre os livros espalhados no chão, na tentativa de distrair-me com os estudos. Deek sentou-se ao meu lado por alguns minutos, em silêncio, e ficou a observar-me. Talvez estivesse à espera que lhe pedisse algo. Só queria estar longe de todos, porém não tive coragem de dizer-lhe.

– Deek vai recolher-se por hoje. Deek espera que tenha uma boa noite

– Obrigada, Deek.

Num estalar de dedos, Deek desapareceu. Deixei-me cair para o lado e rolei até ficar de barriga para cima. Contemplei o teto de vidro. Feixes de luz iluminavam a sala, suaves e dourados. Fez-me recordar das aulas de herbologia com a professora Garlick, na estufa do castelo. Sebastian sempre reclamava quando tínhamos de mexer nas mandrágoras. Sorri ao lembrar-me de um momento em particular: ele tinha colocado mal os protetores de ouvidos e, ao senti-los escorregarem, deixara a pobre mandrágora cair. Mesmo com os protetores de ouvidos, conseguira ouvir o grito de desespero dela. Esperneara como um bebé com dores, o que dificultara o trabalho de colocá-la de volta na terra. Desde então ele declarara ódio eterno às mandrágoras.

Sorri com a lembrança, apesar da tristeza que sentia pesar-me no peito. Peguei na minha varinha, que entretanto servia de marcador de livro, e observei-a, como se ali fosse encontrar respostas sobre o que fazer.

– Samantha?

Uma cabeça surgiu à minha frente e, com o susto, levantei-me à pressas. Resultado? As nossas testas colidiram e a minha visão falhou por segundos.

– Desculpa, achei que tinhas ouvido a porta – choramingou Poppy, agachada ao meu lado, com a mão sobre o lugar dorido.

Arrastei-me na sua direção e espreitei onde lhe batera. Um círculo vermelho na testa começou a ganhar um discreto volume.

– Estava longe, Poppy, desculpa.

– Deek vai buscar uma porção Wiggenweld para cada uma.

O meu ar confuso com o retorno de Deek arrancou gargalhadas de Poppy.

– Encontrei-o por acaso, a caminho da minha sala. Ele reconheceu-me e pediu-me para vir aqui.

– Samantha parecia tão abatida que Deek foi pedir ajuda. Perdoe a ousadia de Deek. – E entregou-nos as poções. Agradeci-lhe por ambas. Não tinha palavras suficientes para expressar a minha gratidão. – Agora sim Deek vai sair. Deek deseja-vos uma boa noite.

Feitas as despedidas, ajeitei-me de frente para Poppy. Ela estava encantada com a aparência da sala. Tinha plantas por todo o lado. Árvores erguiam-se pelos pilares até ao teto, lançando os seus ramos carregados de folhas para a luz.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora