O Preço de um Sacrifício

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Setembro chegou e com ele o início de mais um ano em Hogwarts. Ao atravessar as portas do Salão Principal, a sensação que tinha era de despedida, de saudade. Essas sensações acompanhavam-me desde o dia em que visitara Joseph com Sebastian. Os restantes dias das férias de verão foram... Estranhos. Ao mesmo tempo que agíamos como se nada tivesse acontecido, pairava no ar um certo pesar. Era como se o luto já estivesse a acontecer. Quando nos despedíamos – fosse para dormir, fosse para sairmos para caminhar –, os olhares intensos que Sebastian me lançava eram de quem estava a ver-me pela última vez. O mesmo aconteceu naquele momento, pelo simples facto de que ele ia para a mesa de Slytherin e eu para a de Ravenclaw. O medo estava marcado nas suas íris, embora disfarçasse no seu rosto.

Como era de praxe, o discurso que abria o início de cada banquete começou. Qualquer coisa sobre o diretor Black esperar que tivéssemos as melhores notas possíveis e cumpríssemos as regras da escola. Em seguida, sucedeu-se a receção aos novos alunos do primeiro ano, liderados pela professora Weasley. No púlpito, quando o seu olhar varreu o salão e caiu sobre mim, a professora sorriu. À medida que os seus nomes eram chamados, os alunos sentavam-se no banco e aguardavam a avaliação do chapéu seletor, depois seguiam para a mesa da casa em que eram selecionados.

– Um último anúncio – a voz de Black ecoou por todo o salão ao término da seleção e, pela primeira vez, parecia seguro do que dizia; tão seguro que o silêncio foi sepulcral. Notei os professores desconfortáveis atrás de si. – Este ano, o ministério estará mais presente em Hogwarts.

A tensão pesou no ar e busquei por Sebastian; ele fez o mesmo.

– Depois dos acontecimentos com Ranrok no ano passado, o ministério estará a apurar o ocorrido para avançar nas investigações sobre esta infeliz revolta dos goblins. Esperamos apanhar qualquer seguidor seu que ainda possa ameaçar a paz da nossa escola.

Apesar das revelações, ninguém ousou tecer qualquer comentário. Nas mesas, os alunos entreolharam-se, mas a minha atenção continuava focada em Sebastian. Notava-o tão apreensivo quanto eu. Ominis cochichou algo ao seu ouvido; talvez combinassem alguma reunião para discutirmos sobre aquele tema. No entanto, não havia muito que pudesse fazer. Tinha entregue a Joseph a chave para o repositório e, desta forma, a responsabilidade passou a ser dele também. Tinha esperanças de que ele terminasse aquela tarefa que eu não teria tempo de finalizar. Contudo, Sebastian não estava inclinado a confiar em Joseph como eu. Das vezes que nos encontramos no Undercroft, Sebastian trazia este assunto à tona na esperança de que eu viesse a concordar com ele, que recuasse na minha decisão e que aceitasse proteger o repositório. Inclusive, numa dessas discussões, acusou-me de ter a minha visão nublada pelo facto de Joseph ser um parente distante meu, sendo esse o motivo da minha confiança. Não estava de todo errado, para ser sincera. O facto de ser um Lynch tinha o seu peso na minha confiança. No entanto, além disso, ele ensinou-me o que precisava sobre a magia ancestral. Pode não o ter feito da forma mais segura, mas o importante é que o tinha feito.

Enfim, suspeitava que Sebastian estava a insistir neste tema para adiar o que precisava de ser feito: salvar a Anne. Porém, não estaria a ser incoerente? Afinal, ele também confiou a Anne ao Joseph a partir do momento em que concordou com o relógio como uma solução temporária. Quando confrontado com essa realidade, Sebastian ficou em silêncio.

– Estás a cuspir no prato em que comeste, Sebastian – acusou Ominis, que sempre nos acompanhava nestes temas delicados, uma vez que também envolviam a Anne.

Sebastian continuou calado por mais alguns minutos. Tudo o que fez antes de se pronunciar foi estalar a língua em clara impaciência, tão típica dele quando se via contrariado.

– Tu e a tua mania de confiar nos outros facilmente, sem fundamento – murmurou, mas estava perto o suficiente para que conseguisse escutar.

– Quando confiei em alguém sem fundamento? – A minha voz foi mais severa do que alguma vez usara com Sebastian. Ele escolheu não me interromper. – Nunca, não é? Eu tinha razão em confiar no Lodgok. Quem amaldiçoou a Anne foi alguém tão humano como nós. Agora é a eles que descarregas o teu ódio? Pois fica tranquilo que eu matei quem fez isso; eu vinguei a Anne! – As minhas mãos tremiam, principalmente a esquerda. Sentia-a e ao meu braço em chamas. – O Joseph nada tem a ver com isso. Ele é a nossa melhor opção!

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora