O Meu Mundo Cinza

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As palavras de Anne não me saiam da cabeça. Ainda tinha dificuldades em acreditar que tudo o que me contara era verdade. Sebastian não tinha reservas quanto a expressar os seus sentimentos, então porque nunca me contou o que realmente significava o bracelete? Será que a única intenção com ele era, de facto, vigiar-me? Sebastian mostrara-se apreensivo quanto à aproximação do fim do nosso quinto ano, que resultará no meu retorno ao orfanato. Seria esta a razão? Se assim fosse, faria sentido que nunca tivesse falado, pois sabe que não concordaria. No entanto, se não fosse... Por qual motivo não me diria a verdade? Ele estava a honrar uma das promessas que fizera a Anne, portanto honraria o significado do bracelete, certo? Mais umas quantas questões para me atormentarem e nenhuma resposta.

Tinha urgência em ver Sebastian e esclarecer tudo aquilo antes que o nosso tempo terminasse. Por isso, no dia seguinte revirei o castelo à sua procura, para apenas encontrá-lo no último lugar que considerei possível: a Sala das Necessidades. Afinal, pensei que um domingo seria um bom dia para acompanhar Ominis numa última sessão de estudos, mas estava errada.

No viveiro dos Mooncalf, adiante, junto ao extenso lago, estava Sebastian sentado sob a luz dourada do sol. Estava demasiado concentrado em pensamentos para notar a minha aproximação, por isso aproveitei-me para, uma última vez, contemplá-lo, desde os fios castanhos desalinhados, a pele branca salpicada de milhares de sardas, as sobrancelhas grossas, o olhar intenso, o nariz perfeitamente esculpido, os lábios cheios e convidativos. Pelos dois botões abertos da camisa entrava a brisa primaveril, confirmando as minhas suspeitas de que as sardas se estendiam pelo corpo. Naquele momento, senti como se ele fosse o céu numa noite estrelada: tão perto, mas, por mais que te esforces, a mão nunca irá tocá-lo. Sentei-me ao seu lado, em busca de estudar as suas constelações.

– Sebastian – chamei-o num tom baixo, para não o assustar.

Ainda assim, foi em vão. Ele deu um salto quando me viu, pousando a mão sobre o coração num gesto dramático.

– Desculpa interromper qualquer que fosse o plano que estivesses aí a elaborar.

Sebastian lançou-me um sorriso travesso e logo soube que não podia ser coisa boa.

– Estava a estudar as formas mais eficazes de deixar esta semana de exames menos aborrecida.

Revirei os olhos com a confirmação.

– Não me digas que vais enfeitiçar os livros da biblioteca outra vez.

– Foi uma ideia genial, tens razão! Merece que a repita!

Empurrei-o com o ombro e ambos rimos da sua perda de equilíbrio. Com o impulso da mão no chão, voltou à posição inicial. O silêncio voltou, sendo quebrado por mim.

– Surpreende-me que estejas no mesmo espaço que os Nifflers – comentei, olhando para atrás. Vi um deles escondido entre os Puffskein, de barriga para cima, provavelmente a meio de uma sesta.

– Estou de bolsos vazios hoje, por isso não tenho nada a temer.

Uma vez mais, o assunto morreu ali. Sebastian não ia perguntar sobre o dia anterior, com toda a certeza, a menos que eu o fizesse. Tê-lo-ia feito a esta altura.

– Não dizes nada, Sebastian? – Recebi o seu olhar confuso. – Sobre ontem. Saí boa parte do dia, mas não me perguntaste nada sobre isso.

– Sabes cuidar de ti – balbuciou.

– Sempre soube, no entanto ainda esta semana estiveste bastante agitado com as minhas saídas.

– Onde queres chegar? – Estreitou o olhar sobre mim e a voz tremeu, no que me pareceu ser nervosismo.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora