Gaiola do Tempo

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Conforme os dias foram passando, dormir tornou-se mais fácil. As noites ainda eram preenchidas por sonhos – memórias da Ophelia, na verdade –, mas todos eles confusos até que os verbalizasse para Sebastian. Notei-o com o sono mais leve, talvez preocupado com possíveis pesadelos ou o retorno das insónias. Sempre o encontrava atento a mim, apesar dos olhos caídos e pesados. Nunca me deixava adormecer sem um beijo na testa ou uma palavra de conforto, e era-lhe grata por isso.

Continuamos a dormir juntos, mas nunca sem antes vencer Ominis numa partida de xadrez bruxo. Conforme recuperava as horas de sono atrasadas, comecei a ser capaz de acompanhar as partidas deles e a aprender sobre o jogo. Com isso pude notar que a impaciência do Sebastian era o motivo de muitas vezes perder. Quando se sentia demasiado seguro também tendia a cometer erros. Porém, suspeitava que uma certa distração estaria a agravar aqueles problemas. Afinal, muitas vezes encontrava-o a olhar para mim, com o costumeiro sorriso convencido que fazia borboletas debaterem-se no meu estômago.

– Da próxima vez queres jogar contra o Ominis? – Perguntou-me Sebastian antes de se livrar da camisa.

Depois da primeira semana a dormirmos juntos, tinha-se tornado um hábito Sebastian passar a noite apenas com a calça fina de pijama. No início, ainda protestei; Ominis mais ainda. Contudo, Sebastian pouco se importou. Chamava-lhe de hábito, mas a verdade é que não me tinha acostumado. Sempre que acordava primeiro pela manhã perdia-me nas inúmeras sardas espalhadas pelos ombros. Uma vez, Sebastian apanhara-me a tocá-las. Por mais leve que tivesse sido, ainda assim fora o suficiente para acordá-lo. Não preciso de dizer o quanto tinha inflado o seu ego desde esse dia, se é que ainda era possível.

– É, no mínimo, injusto. Sem querer ofender-te, Samantha – respondeu Ominis, já acomodado na sua cama.

– Tiraste-me as palavras da boca! É mais justo jogar contra ti, Sebastian – alfinetei e não fui capaz de conter uma risada frente à carranca dele.

– Pois é. Iniciantes treinam com jogadores mais próximos do seu nível – continuou Ominis e vi-lhe um sorriso contido antes de me deitar.

Nada disse, mas os seus gestos falavam por si: puxou o lençol sem nenhum cuidado e atirou-se para a cama. Deu-me as costas e ousou não se despedir de mim. Sabia que era birra, no entanto, ainda assim, cedi: abracei-o pelas costas e encostei o rosto no seu ombro. Sem nenhuma resposta, beijei-lhe a pele macia pausadamente, desde o ombro até ao pescoço. Precisei de continuar até à orelha para lhe tirar uma reação: um suave suspiro. Temi que Ominis nos repreendesse, mas nada disse. Esperava que tivesse adormecido.

Finalmente, Sebastian voltou-se para mim e, ainda em silêncio, puxou-me para o seu abraço, roubando-me os lábios no processo. Como de costume, manteve-se num beijo calmo. Porém, naquela noite, ele decidiu ir mais além: a mão, que sempre encontrava o seu lugar na minha cintura, desceu para a minha coxa; levantou-a ligeiramente e girou o seu corpo sobre o meu. Retesei as pernas e ainda tentei travá-lo, mas Sebastian forçou-se a ocupar o espaço entre elas. Embora por instantes, ondulou o quadril contra o meu, numa pressão fugaz, mas suficiente para provocar um tremor de prazer pelo meu corpo. Felizmente, o beijo não deixou que qualquer som me escapasse.

– Seb – alertei.

– Eu sei – sussurrou de volta.

Apesar disso, continuou. Beijou-me novamente e repetiu a gracinha. Instintivamente, apertei-lhe os ombros. Estava à mercê dele e sem escapatória possível. O meu desespero para interromper o beijo e afastá-lo fê-lo sorrir. Talvez só tenha feito pior e o tenha atiçado, pois no lugar do corpo dele e da evidente ereção veio a sua mão.

Tentei alcançar-lhe o pulso, mas tive os meus presos.

– Um pouco de respeito pelo Ominis, o que achas?

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora