Entre Livros e Estantes

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Apesar de ser discreto, o bracelete que Sebastian me ofereceu não passou despercebido aos olhos de Samantha Dale. Não o tirei mais do meu pulso desde que Sebastian o colocara, nem mesmo para as aulas. No entanto, numa das vezes que Samantha se sentara ao meu lado, ao ajeitar o meu cabelo, ela vira o bracelete. Apanhara um susto quando a sentira puxar a minha mão sem qualquer cuidado.

– É lindo! Foi ele que te deu?

Concordara para sua satisfação e recolhera o braço, antes que mais alguém reparasse, principalmente o professor.

Poppy e Natty descobriram mais tarde, numa sessão de estudo na biblioteca. Foi apenas nesse momento que resgataram o episódio da carta.

– Já que o deixei à espera de uma resposta, quis fazer algo especial.

– Ainda estou um pouco reticente sobre esse Sallow, mas talvez seja a eterna rivalidade entre Gryffindor e Slytherin a falar mais alto. – Natty sorriu. – Vou confiar que a minha amiga não tem mau gosto para rapazes.

– Na aparência já ganhou, tens que admitir, Natsai – respondeu Poppy, surpreendendo-me por opinar sobre rapazes.

Talvez seja porque os nossos temas de conversa são sempre sobre criaturas mágicas. Até mesmo sobre a magia ancestral ela pouco sabia. Lembrando das palavras do professor Rackham, talvez devesse considerar contar-lhes tudo. Mas, no fundo, ainda não concordava em revelar a história completa para alguém além de Sebastian. Receava pela segurança delas. Acho que dormir sobre o assunto era a melhor opção

– Se precisares de conversar, estamos aqui – ofereceu Natty e Poppy acenou em concordância.

– Na verdade, o que preciso é de ajuda com os estudos – choraminguei e aterrei a minha cabeça em pânico no ombro de Poppy ao meu lado.

– Vejo-te sempre na biblioteca ou com algum livro na mão. Estás a fazer que estudas? – Indagou Natty, desconfiada. Tinha que ter o dobro do cuidado com ela, pois era bastante atenta.

– Acho que me foquei demasiado em Poções e Herbologia.

Atendendo ao meu pedido, ambas ajudaram-me nos estudos até à hora do jantar. Cada vez mais alunos ocupavam a biblioteca para estudar, à medida que os exames aproximavam-se. Por muito que quisesse salvar Anne, negligenciar a minha formação académica seria problemático.

Além disso, naquela noite, contra os meus planos iniciais, Sebastian ia acompanhar-me numa visita à Secção Restrita novamente. Não pretendia contar-lhe, porém, caí no erro de anotar no meu caderno que deixava na Sala das Necessidades. Por vê-lo aberto, Sebastian sentiu-se no direito de espreitar o que lá estava escrito. Sem outra saída, contei-lhe que pretendia recolher o máximo de informações possíveis, principalmente sobre a questão do sangue de unicórnio. Se conseguir confirmar que funciona... Será que queria que funcionasse? Sentia-me dividida. Como sempre, preferia sacrificar-me pelos outros, como fiz quando pedi a Sebastian que usasse em mim a maldição para entrar no Scriptorium. Neste caso, não conseguia fazê-lo diretamente. Apenas poderia carregar a culpa de magoar e roubar sangue inocente. Só o pensamento deixava-me nauseada.

Sebastian esteve disposto a tudo quando buscou pela cura da Anne. Precisava de ter a mesma determinação se queria levar isto até ao fim.

– Acho que deveríamos repetir estas sessões de estudo. Não te esqueças que só temos mais duas semanas – sugeriu Natty a caminho do Salão Principal, depois de deixarmos a biblioteca.

Aquela contagem regressiva tinha demasiadas agravantes para conseguir digerir de uma vez: exames, fim do ano, voltar para o orfanato e, consequentemente, atrasar a cura. Será que Ominis sabe como a Anne está? O tempo era relativo: para ela, dois meses era uma espera demasiado longa. Procurei-o entre a multidão de estudantes, mas nem sinal dele nem de Sebastian.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora