Um Novo Amanhecer

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Até que me acalmasse, permanecemos no exterior. Não havia mais ninguém além de nós dado o horário. Talvez fosse hora de jantar, não tinha a certeza. Perdera a conta de quanto tempo esperara no escritório da diretora. Nada mais importava, no entanto. Agarrei-me a Sebastian como se fosse água no deserto, e o desespero parecia ser recíproco pela a forma como retribuiu. E chorei.

Chorei tanto que o ar faltou-me. O aperto na garganta era tal que sentia que ia sufocar. Sentia-me fatigada, restando-me forças apenas para prender Sebastian a mim. A certa altura, soltou-me o cabelo e afagou-o.

– Está tudo bem. Estou aqui – murmurou quando me fitou.

Segurou o meu rosto entre as suas mãos e secou-me as bochechas com os polegares numa carícia suave. Assim que levantei o olhar e busquei pelo dele, Sebastian selou os lábios nos meus. O que começou numa pressão leve, rapidamente evoluiu para um beijo desesperado. Não me importava se alguém visse. Sentia tanto a falta dele que o embaraço não tinha espaço, por isso não impus qualquer limite e aceitei de bom grado a língua que procurou se enroscar na minha. Segurei-lhe a nuca e enveredei pelos fios castanhos, apertando-os quando senti que ia se afastar, mas a sua força era superior à minha. As suas bochechas estavam rosadas quando o fitei. As chamas dos candeeiros refletiam-se ondulantes no seu rosto. Toquei-lhe as sardas espalhadas pelas bochechas e desci os dedos para o maxilar, deslizando-os sob a pele macia até ao queixo. Não estava tudo bem, porém, em algum momento, iria ficar.

O meu estômago roncou e quebrou a magia. Foi a minha vez de corar.

– Estás sempre com fome quando nos encontramos.

Era uma piada, eu sabia, no entanto não consegui rir. Limitei-me a um sorriso contido e concordei em acompanhá-lo. Negligenciar a minha alimentação era uma constante; não por opção, mas por hábito. Afinal, a única refeição que normalmente tinha – incluindo naquele dia – era o café da manhã. Por isso, foi bem-vindo o cheiro agradável no interior da casa, do caldeirão borbulhante no fogo.

– Ainda bem que fiz uma sopa hoje. Acho que estás a precisar – comentou.

Afastou-se em direção às camas, onde deixou a minha mala. Ominis veio na minha direção a passos largos. O semblante preocupado alarmou-me.

– É bom ver-te, Samantha! O que aconteceu?

Troquei o olhar entre Ominis e Sebastian, sem entender ao que se referia. Sebastian foi quem explicou, apreensivo, como se esperasse o pior. E, bom, podia ter acontecido o pior.

– Há umas noites atrás, ainda que por pouco tempo, um minuto talvez, deixei de sentir a tua presença.

O bracelete, claro.

– Sobre isso...

As lembranças voltaram como uma chuva de meteoros. Tentei expulsá-las, mas elas, simplesmente, furavam as minhas defesas. Ao mesmo tempo, as diversas imagens dos últimos dias misturavam-se ao ponto de me provocar dores de cabeça. Era tanta informação que não sabia por onde começar. Na verdade, não queria sequer começar.

– Não quero conversar agora. Podemos falar de outro assunto?

Ominis abriu a boca, provavelmente para protestar, mas Sebastian interveio.

– Tens razão. Estás cheia de fome. Vamos comer primeiro. – Arrastou uma cadeira e gesticulou para que me sentasse. – Que roupas são essas?

À minha frente, sentou-se Ominis, e os olhos claros fixaram-se num ponto próximo a mim. A sua varinha em riste intimidou-me. A extensão do que podia ver através dela era um enigma.

– Estive num casamento.

Um silêncio pesado instalou-se. Por instantes, ninguém se moveu. Também não tive coragem de espreitar Sebastian quando se afastou. Voltou com uma tigela de sopa e agradeci-lhe quando a colocou diante de mim. Assim que todos estavam servidos, comecei a comer.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora