Um Pesadelo Chamado Realidade

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A minha busca naquele livro de Poções mostrou-se infrutífera. Por isso, ao término das aulas, corri para a biblioteca, usando da mesma justificação de antes: estudar para os exames. Natty, que me acompanhara durante o dia, juntar-se-ia a mim depois de atender a um pedido da sua mãe. Iria aproveitar para agradecer-lhe pela ajuda pois, sem ela, teria adormecido durante as aulas.

No segundo andar da biblioteca, busquei a secção de livros de Poções e comecei por uma ponta, recolhendo o máximo de livros que conseguia carregar até à mesa mais próxima. Depois de uma última consulta no relógio, comecei a leitura.

Tinha uma hora para conseguir encontrar alguma coisa útil, no mínimo alguma receita que pudesse aproveitar e alterar um ou outro ingrediente. No entanto, parecia que não ofereciam nada além de poções de amplificação de poder em batalha. Se não estivesse sem opções, teria descartado aquela matéria e passado à próxima.

Folheei uma, duas, três vezes. Chegara a meio da pilha de livros sem sucesso. Virei mais uma página e mergulhei na memória das catacumbas de Feldcroft. Inferis estavam por toda a parte a arrastarem o esqueleto até mim. A pele fina e brilhante refletia as chamas das tochas, raros fios de cabelo tentavam cobrir a sua cabeça e caíam sobre o rosto ossudo. Dois lançaram-se sobre mim e eu afastei-me, atacando-os com Incendio em seguida. Atrás vieram três e repeti o processo, mas quantos mais queimava, mais apareciam. No desespero que me abraçava, ataquei sem pausas tudo o que via à frente. Perdera a noção do tempo. O cansaço pesava e tornava-me mais lenta.

Até que um clarão verde tomou a minha atenção, acompanhado de um grito.

– Avada Kedavra!

Suguei o ar como se tivesse voltado de um mergulho e sentei-me reta no banco da biblioteca. Fixei o olhar no livro, em puro choque. Mais um pesadelo.

Uma mão tocou-me o ombro e, instintivamente, afastei-me.

– Sam, estás bem?

Era Sebastian. Senti o alívio abraçar-me, como se fosse uma brisa fresca numa tarde de verão, por ser ele e não outro colega que por acaso tivesse presenciado o meu sono nada tranquilo. Voltou a tocar-me, desta vez fechando a mão no meu braço, e puxou-me com ele para levantar.

– Estás com uma cara péssima. Anda, hora de comer.

– Quanto tempo dormi?

De imediato, busquei o relógio no meu pulso e confirmei que Sebastian tinha razão. Talvez fosse uma boa ideia mudar o local de estudo, para o caso de ceder ao sono novamente.

Aceitei a sugestão de Sebastian e recolhi os livros.

– Outra vez Poções?

Franziu as sobrancelhas grossas em desconfiança. Sebastian era demasiado perspicaz para que detalhes passassem despercebidos. Mais tarde ou mais cedo teria que lhe contar o motivo do súbito interesse em poções e plantas.

– Sim. Estou a estudar bem cada matéria em separado. Tenho que trabalhar o dobro para chegar ao nível de um quinto ano, lembras-te?

– Se precisares de companhia... – Trocamos olhares por alguns instantes. – Não vou aceitar silêncio como resposta outra vez. Aceitas ou não?

– Aceito, na condição de me acordares caso adormeça.

Quando chegamos ao Salão Principal, separamo-nos, cada um para a sua mesa. No instante em que me sentei, Natty agachou-se ao meu lado.

– A minha mãe prendeu-me por mais tempo do que o esperado. Depois conto-te, a seguir ao jantar. Acho que é importante saberes.

O que poderia ser? Não tive tempo de perguntar, pois tão depressa estava ali comigo como já estava a caminho da sua mesa. Um mau pressentimento – o mesmo que sentira antes em relação a Sebastian e a Anne – deixou-me um gosto amargo na boca. O pouco apetite que tinha diminuiu ainda mais, mas esforcei-me por comer. A última coisa que precisava era adoecer.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora