Faz do meu Coração um Lugar Melhor

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Sebastian não voltou para Hogwarts. Durante um ano fomos só eu e ele na casa da minha família. Apesar da minha insistência, Sebastian quis seguir à risca as instruções do professor Sharp para proteger-me e isso incluía não sair da casa além do necessário. Felizmente, ela estava construída num local isolado, o que nos permitia sair e caminhar nos campos ao redor.

Na primeira vez que o fizemos, Sebastian levara-me até à orla da floresta onde tinha sepultado Joseph, logo ao lado de uma das árvores mais antigas e fortes. Sebastian nunca tinha simpatizado com ele, mas ainda assim tinha-lhe feito aquela homenagem. Sebastian tinha amadurecido.

Anne nunca mais nos procurou. Ao contrário dela, Ominis escrevia-nos com frequência e era através dele que tínhamos notícias sobre a irmã do Sebastian. Depois de concluírem o último ano em Hogwarts, ambos conseguiram cargos no ministério. A residência deles continuava a ser em Marunweem.

– Vamos para Feldcroft, Sebastian.

Pedira-lhe quando voltara da sua casa em Feldcroft e confirmara que estava vazia. Tinha esperanças de que tivesse ido para preparar a nossa mudança, no entanto não adiantou nenhuma confirmação.

– Não, Sam. Até que o Sharp confirme que é seguro, não saímos daqui.

Teria adorado viver na casa da minha família em outras circunstâncias, porém, depois do que acontecera, as más memórias eram uma constante na minha mente. Tinha pesadelos todas as noites e a maldição parecia estar a evoluir. Sentia-me cansada com mais frequência e as dores eram mais fortes. Já tínhamos revirado metade dos livros de Joseph sem sequer uma esperança de atenuar os efeitos. Tudo piorava nas horas que ficava sozinha. Sebastian não me contava para onde ia por mais que lhe perguntasse. Por isso, para me distrair entre os estudos, relia as cartas que tínhamos recebido até então.

Poppy tinha conseguido uma vaga em Hogwarts para ser assistente da professora Howin. Pelo que contara, dentro de alguns meses deixaria a sua profissão e Poppy tomaria o seu lugar. Estava certa de que faria um ótimo trabalho como professora!

Natty e Imelda tinham-se tornado jogadoras profissionais de Quidditch. Começaram juntas na mesma equipa, mas no final do ano iriam separar-se e seguir para equipas diferentes. Surpreendia-me terem se tornado amigas; talvez o gosto pelo mesmo desporto as tivesse aproximado.

Garreth tinha conseguido abrir a sua primeira loja de Poções na Diagon Alley e Samantha Dale estava a trabalhar com ele. Ainda era um pequeno negócio, no entanto estava a crescer graças à excentricidade das criações do Garreth e à gestão da Samantha.

Todos tinham seguido os seus caminhos e apenas eu e Sebastian continuávamos parados no tempo. Haviam dias que a culpa pesava de tal forma que nem vontade de sair da cama tinha. Porém, se parasse é que seria vencida pela maldição e todos os sacrifícios feitos até então teriam sido em vão.

Por isso, levantei-me para mais um dia de luta.

A casa já mostrava sinais do tempo. Joseph não estava mais por perto para mantê-la e os primeiros sinais foram as flores que murcharam até morrer. O pó pousava pela mobília e devagar limpava-o onde conseguia alcançar, enquanto que em lugares altos acumulava-se. As capas e as folhas dos livros começaram a desgastar-se depois de tanto usá-los. Dos vitrais não vinham mais as luzes artificiais de outrora e o fonógrafo não reproduzia as memórias por muito que tentasse.

– Mais um dia com os meus ecos – desabafei para o fonógrafo.

Felizmente, ele não começou a funcionar milagrosamente. Se o fizesse seria o início da minha loucura e não seria mais do que uma sombra do Joseph. A solidão era desesperante e, no fundo, eu merecia-a. No intuito de afastá-la, sentei-me no sofá do escritório com um livro no colo. Nada como mergulhar numa sessão de estudo para esquecer o mundo ao redor, e o plano resultou pois não me apercebi da chegada do Sebastian até que se sentasse ao meu lado.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora