Chuva de Outono

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Uma névoa densa acompanhou-me durante todo o caminho até Hogwarts. Estávamos em pleno outono, mas o frio da manhã já tinha cheiro de inverno. Esperava encontrar o conforto dos tons quentes da estação na folhagem das árvores de forma a enfrentar o dia com disposição, no entanto, foi-me negado. Sentada na típica carruagem conduzida por Thestrals, sentia-me inquieta com a falta de visibilidade.

As memórias do meu primeiro dia a caminho do castelo voltaram, fragmentadas, à minha mente. Fora a primeira vez que vira alguém morrer diante de mim, consequentemente a primeira vez que vira um Thestral. O dragão, controlado pelo colar de magia ancestral corrompida, ainda estava vívido na minha lembrança: a enorme boca a abrir-se na minha direção, a abocanhar metade da nossa carruagem, onde o senhor George estivera sentado, e a comê-la. Um arrepio percorreu-me a espinha. Respirei fundo para espantar os pensamentos inoportunos.

Uma pedra no caminho chacoalhou a carruagem e fez-me saltar, quase gritei com o susto. Depois de um ano adormecida parecia que tinha voltado mais assustadiça e atordoada. Afinal, porque motivo iria recordar-me agora daquele dia? Não havia a possibilidade de se repetir, pois não?

Quem eu queria enganar? Sempre haveria essa possibilidade e, por estar sozinha, o receio era maior. O professor Fig não estava mais aqui. Suspirei. Desde que acordara, ele era das pessoas mais presentes no meu pensamento. Ter que atravessar os portões de Hogwarts sem ele... Sentia um vazio enorme no peito. Parecia custar ainda mais voltar do que quando cheguei a primeira vez. Como será que seria recebida?

O meu olhar caiu para o bracelete no meu pulso direito. Não havia nele o brilho da magia ancestral de outrora. Toquei nas pequenas opalas e deslizei o indicador sobre a sua superfície fria. A esta altura, Sebastian já devia saber que estava acordada e que estava a caminho. Mordi o lábio frente aos variados cenários que a minha mente criava, desde ele receber-me de braços abertos até rejeitar-me, quem sabe ignorar-me.

Remexi-me quando vislumbrei as torres do castelo. Próximo dele a névoa parecia mais leve. Os grandes portões, ainda fechados, surgiram a alguns passos de os alcançar. Quando a carruagem parou diante deles, puxei a mala comigo e desci. No interior do grande jardim estava o senhor Moon, como se me esperasse. Quando me viu quase correu na minha direção.

– Miss Lynch! – Tirou-me a mala da mão assim que atravessei o portão. – A professora Weasley disse que chegaria hoje. Estava à sua espera.

– Agradeço, senhor Moon.

Segui-o para o interior do castelo ao mesmo tempo que varria o perímetro com o olhar. Tudo parecia igual: o jardim perfeitamente podado; a fonte no centro de pedra limpa e de onde jorrava água cristalina; o sol ainda a sair do horizonte, cobrindo o castelo em tons alaranjados.

– Parece que nada mudou desde a última vez – deixei escapar num murmúrio, mas o senhor Moon ainda conseguiu escutar.

O olhar aguçado espreitou-me por cima do ombro.

– Só parece. Espere até ver como fica durante o dia. – Atravessamos a porta e dirigimo-nos para a torre onde ficava o dormitório de Ravenclaw. – O diretor autorizou o retorno de Quidditch no ano passado. Desde então, o estádio está sempre cheio e os gritos ouvem-se até mesmo dentro do castelo.

– Imagino o quanto a Imelda Reyes deve ter ficado feliz com essa notícia.

– Não só ela; a escola toda queria a volta de Quidditch. Eu também queria – e finalizou com uma risada.

Limitei-me a sorrir. Será que o Sebastian também fazia parte da equipa? Será que Anne estaria com ele? Queria acreditar que, no mínimo, Anne estaria bem. Quanto mais próxima estava de descobrir, mais a ansiedade revoltava-me o estômago e acelerava-me o coração; tanto que a tagarelice do senhor Moon durante o caminho não passava de mais um burburinho na minha mente. Foi com alívio que encontrei a águia da entrada do dormitório. Nada contra a companhia de Moon, pelo contrário, agradecia o facto de falar tanto ao ponto de não precisar de participar da conversa. Porém, precisava de preparar-me para o dia que tinha pela frente.

Entre Luz e Sombras (Sebastian Sallow x FemOC)Onde histórias criam vida. Descubra agora