3| Um corpo

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Termino de organizar as pastas sobre a mesa e me jogo no encosto da cadeira, sentindo minhas costas doerem por conta da minha má postura durante a maior parte do trabalho. Fecho os olhos e respiro fundo, ainda incomodada com as imagens do terrível pesadelo me atentando.

Por mais que eu dissesse para mim mesma que era coisa da minha cabeça, era estranho não ter me esquecido das cenas... Ainda estavam nítidas em minha mente, embora um pouco confusas quanto a ordem. Mas era como se eu realmente tivesse vivido aquilo.

Inconscientemente,levo meus dedos até a tatuagem em minha nuca, sentindo agora um leve choque ao tocá-la. Me endireito na cadeira e toco novamente, um pouco confusa por essa reação. Eu nunca havia feito alguma tatuagem antes, era deprimente saber que eu havia feito a minha primeira estando bêbada e inconsciente.

ㅡ E essa cara de assustada?ㅡ me assusto com a voz de Débora.

Ela se inclina sobre a minha mesa, arqueando uma sobrancelha, curiosa.

ㅡ Preciso da sua ajuda.ㅡ Digo, repensando bem antes de pedir isso.

ㅡ O que? ㅡ pisca lentamente, cautelosa.

Mordo meu lábio inferior, hesitando por alguns segundos antes de dizer:

ㅡQuero saber o significado...ㅡ ergo meus cabelos e me viro um pouco para que ela tenha uma boa visão da minha recém tatuagem. ㅡ Disso. Pode tentar ver melhor?

Vejo os olhos de Débora brilharem conforme analisavam a pele marcada.

ㅡ Não sei se fico surpresa por você ter feito a tatuagem ou por gravar algo em sua pele, permanentemente, sem nem saber o significado!ㅡ me olha como se eu fosse louca, e, talvez, eu realmente fosse.

Suspiro, soltando as mechas novamente sobre os meus ombros.

ㅡ Eu sei, eu sei! Não preciso de mais sermões... Estava bêbada. Acontece! Todo mundo faz alguma merda na adolescência.

Ela me olha com as duas sobrancelhas erguidas agora.

ㅡ Acontece que você não está mais na adolescência, fofinha.ㅡ dá a volta na mesa e vem até mim, checando mais de perto o meu pescoço. ㅡ Hum... Pelo menos tem bom gosto. ㅡ a sinto desligar o polegar sobre a pele sensível, mas o puxa assim que me retraio. ㅡ Tudo bem... Vamos ver.

Alguns segundos se passam e logo escuto o som da foto sendo tirada.

ㅡ O que as duas fazem aí paradas? ㅡ a voz do supervisor nos assusta. Ergo meus olhos para Richard, que ajeita seu óculos de forma intimidadora. ㅡ Vamos! Ao trabalho!

ㅡ Relaxa, Richard. ㅡ Débora bufa ao passar por ele, mas antes, pisca para mim como se dissesse que iria resolver isso. Sorrio, agradecida e volto para o me trabalho.

ㅡ Senhorita Marie...ㅡ Richard me chama, me fazendo o encarar.ㅡ Devo lhe dar meus parabéns por ser a funcionária do mês. Sempre mantendo o pódio. ㅡ lança um de seus terríveis sorrisos fingidos.

Richard não era um velho rabugento, como as suas atitudes indicavam... Ele só era alguns anos mais velho que eu que tinha vinte e dois. Os cabelos castanhos, encharcados de gel para que os fios permanecessem alinhados, reluziam sob as luzes do lugar. Olhando daqui, ele não era tão ruim... Mas o fato de ele estar acima de mim, fazia com que ele se sentisse um rei ali.

ㅡ Obrigada, senhor Richard.ㅡ também lhe lanço um dos meus sorrisos forçados. ㅡ Agora, se me der licença, voltarei para o meu trabalho.

ㅡ Claro...ㅡ ri pelo nariz e sai andando por entre as mesas dos funcionários.

Respiro fundo e baixo o olhar disfarçadamente para o meu celular sobre a mesa, o qual havia brilhado na tela uma mensagem de Alice... Depois mais uma e mais uma. Franzo minha testa e desbloqueio o aparelho, lendo as mensagens desesperadas da minha irmã.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora