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"Que gracinha."

É o que respondo em sua mente, através do nosso fio. Mas de graça, em seu puro desespero, não tinha nada.

Sua mente não passava de névoa densa e impenetrável. A sensação de estar impotente quanto à sua dor, me deixava irritado. Muito irritado.

Só era questão de tempo até eu descobrir o causador disso. Algo ou alguém. 
Eu iria descobrir, e destroçaria a coisa.

Eu não sabia como ainda estava me controlando. Se não fosse pelo fio que nos conectava, eu não saberia o que ela estava sentindo.
E eu adorava senti-la.

Era muita coisa junta.
Dor física, mental, desespero, medo... Tudo isso estava exalando de seu corpo, fazendo minhas narinas se dilatarem.

Eu também não poderia tentar fazer nada à respeito ali.

Não sem assustá-la.

Eu saberia se ela estivesse grávida, seu cheiro teria mudado para mim, sem contar que ninguém mais havia a tocado se não eu.
Eu também saberia se alguém tivesse o feito.

Ainda não tínhamos nos relacionado dessa forma, mas a ideia de Marie se quer carregar algo demoníaco como eu em seu ventre, ao mesmo tempo que me enchia de sensações  estranhas e diferentes das que costumo sentir, também me deixava maluco.

Mas era nítido que se tratava de algo além da minha compreensão... ainda.
Minhas habilidades sombrias não seriam usadas ali sem despertar algumas suspeita ou algo ruim.

Eu não podia usar nada nela, tudo era forte demais para sua mente e corpo, ambos delicados e frágeis. Normalmente, eu usava apenas dosagem pequenas e que não a machucariam.

A ideia de se quer a machucar, também me irritava.

Marie é minha, de corpo e alma.
Era mais forte do que eu. Mais forte do que qualquer coisa nesse mundo.

Ian? ㅡ escuto sua voz me chamar.

Saio de meus pensamentos assim como da última vez em que percebi que ela realmente estava preocupada com meu bem estar.

Isso só me fazia querer guardá-la do restante do mundo, do restante das inúmeras coisas aterrorizantes que suas mente nem se quer podiam imaginar. E nunca imaginaria, se dependesse de mim.

Seus olhos, antes brilhantes, agora opacos e vazios, me encaram. Evito engolir em seco diante da fisgada em meu peito.

ㅡ Sim? ㅡ Minha destinada.

ㅡ Eu não terminei o que tinha que fazer, e nem avisei à Débora...ㅡ uma pausa.ㅡ quando fui pegar minhas coisas, ela não estava lá.

Já estávamos no estacionamento.

ㅡ Relaxe, Marie. Sou eu quem mando aqui. E pode mandar uma mensagem pra sua amiga, não? ㅡ ergo uma sobrancelha, a olhando de canto.

Ponho minha mão no bolso, evitando tocá-la.  Ela assente, ficando quieta.
Seu silêncio me incomodava. 
Eu gostava de suas perguntas e  pensamentos agitados e até mesmo pervertidos.

Respiro fundo, esperando ela digitar em seu celular. Após ter feito, me olha.

ㅡ Acho que podemos ir.

Assinto e indico meu carro, onde ela já devia saber estar. Ao entrarmos, sou tomado por seu alívio mas preocupação. 
Me encosto no banco, e a encaro.

Como eu iria assegurá-la de que estava tudo bem?

Ela me olha, confusa.

ㅡ Está se sentindo melhor? ㅡ pergunto, observando seu rosto ganhar um pouco de cor. ㅡ Sua pressão deve estar um pouco baixa, vou lhe dar algo para comer antes de irmos.

Ela pisca rápido.

ㅡ E-eu acho melhor não.  Vou acabar colocando tudo para fora de novo e...

ㅡ Confie em mim.ㅡ suaviza minha voz da melhor forma que consigo, odiav ver a ruga de preocupação em sua testa. ㅡ Acho que se fosse pra acontecer algo, já tinha acontecido, não?

Ela para por alguns segundos.

ㅡ Não sei... ㅡ olho para frente, o olhar se afastando aos poucos.

" Não confio nele.", a ouvi pensar.

Ok, eu deveria melhorar em minhas visitas. Medo não era o meu objetivo.

ㅡ Tenho algo que vai gostar.

Ela me olha desconfiada e ignoro o leve cheiro de curiosidade e excitação que exala dela.

Porra.

ㅡ Ok, então. ㅡ é o que diz, a voz baixa e cautelosa.

Boa garota.

A observo levar o sorvete até a boca, as bochechas mais rosadas do que antes, combinando melhor com seu lindo rosto

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A observo levar o sorvete até a boca, as bochechas mais rosadas do que antes, combinando melhor com seu lindo rosto.

Embora ela ainda estivesse contida e insegura, não deixou de aceitar o sorvete.

Noto sua língua deslizar por seus lábios avermelhados e perfeitamente desenhados. Eu me elogiava pelo grande esforço em controlar meus instintos perto dela.

Completamente tudo em Marie me deixava fora da linha, abalava até mesmo meu lado mais obscuro. Tão jovem. Linda, inexperiente e frágil. E minha.

Perto dela, a encarando agora, eu não passava de uma criatura milhares de anos mais velha que ela. Marie era um grão de areia em comparação à minha vivência. 

Ela era humana.

Isso me faz desviar o olhar pervertido de sua boca, e encarar algumas crianças que brincavam ali perto.

Não que eu não gostasse de sua espécie...

Observo uma menininha cair e chorar, enquanto alguns adolescentes riem.

Humanos. 

Na verdade, eu gostava de Marie, e isso bastava.

ㅡ Minha nossa.ㅡ Marie exclama ao meu lado, e olho para onde ela encarava.

Um garoto mais velho havia empurrado um dos adolescentes que acaba de rir da menina. Não me dei o trabalho de ouvir com minha audição apurada, apenas observei a briga desenrolar.

O adolescente, reage e empurra de volta o outro garoto.

ㅡ Deve ser irmão dela.ㅡ Marie comenta, sem piscar. ㅡ Onde estão os pais desses garotos?

Exalo, desinteressado.

ㅡ Bem...ㅡ deixo um pouco da extensão de meu poder fluir, chegando aos dois.ㅡ os pais do garoto mais novo devem ser portadores de vícios, o que explica o menino estar tão maltrapilho.ㅡ concluo, as imagens chegando como bomba em minha cabeça. ㅡ e os do outro devem estar tão focados em outras coisas, que colocam a responsabilidade de criação da caçula no mais velho. Por isso ele deve se sentir obrigado à defender a irmã, mesmo que em uma situação tão patética como essa. ㅡ digo, e puxo de  volta meu poder. ㅡ É uma suposição. ㅡ completo ao notar sua expressão. 

São questão de segundos até eles estarem se embolando no chão.

ㅡ Ian! ㅡ Marie arregala os olhos.
Noto as pessoas se aproximarem para separar a pequena briga de rua entre os dois  jovens imaturos.

Me And The Devil ( Em Andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora