Me And The Devil ( Em Andamento)

22| Ligação

A manhã parecia mais leve, mais bonita. Abrir os olhos após uma longa e maravilhosa noite de sono, sem interrupções com pesadelos, era um alívio  que eu custava sentir.

Me sento na cama, notando que o dia de sábado  já estava na metade.
Dormir até tarde também era um privilégio.

ㅡ Marie! ㅡ as batidas de Alice e logo em seguida a porta sendo aberta me tiraram o sorriso.

Ter paz também, pelo visto.

ㅡ Odeio que entre sem esperar uma resposta.ㅡ fecho  a cara e levanto.

Ela bufa, me seguindo até o banheiro.

ㅡ Parei de dividir o quarto com você faz pouco tempo e já está o monopolizando?

Revirou os olhos e pego minha escova de dente. Um breve silêncio  se perdura conforme eu escovo meus dentes e ajeito os fios desorganizados de meu cabelo.

Só quando já estou desembaracando a última  mecha que eu olhar encontra com o de Alice pelo reflexo do espelho.

ㅡ Vai ficar aí? ㅡ ergo as sobrancelhas.

ㅡ Estava dando o seu tempo, já que vive de cara feia quando falam com você pela manhã. ㅡ isso me faz bufar. ㅡ É sobre a vovó,  Marie...

Paro de mexer a escova em meu cabelo e me viro para olhar nos olhos de minha irmã, notando um pouco de preocupação  ali.  De repente. Noto que o tempo em que ela havia  ficado em silêncio,  era mais para organizar seus pensamentos do que os meus, me deixando em estado de alerta.

ㅡ O que houve?

Alice morde o lábio  inferior como se pensasse no que dizer.

ㅡ Houvi uma ligação  dela com alguém e parecia ser algo muito sério.ㅡ seu tom de voz diminui.ㅡ Parecia ser o papai...

Ao pensar no pai de Alice, algo aterrorizante preenche as minhas veias, mas afasto qualquer reação  instintiva e foco a minha atenção  nela.

ㅡ O que escutou? ㅡ pergunto devagar, controlando mais a minha respiração. 

ㅡ Ele parece ter pedido algo, mas a vó disse que não sabia e que nós deixasse em paz. ㅡ o lábio  de Alice  estremece.ㅡ Depois disse que eu não queria falar com ele e que o odiava, e que não importava o que ele dissesse,  nunca o perdoaria.

Isso me faz parar  por alguns segundos. Eu não sabia que vovó  ainda tinha contato com ele, não sabia nada sobre o pai de Alice, a não ser as suas agressões  contra mim. Mas era difícil  me lembrar de muita coisa, era como se minhas lembranças  tivessem sido embaraçados  e algumas descartadas, e eu culpava os traumas por isso.

ㅡ Sendo que ela nem mesmo falou comigo.ㅡ Alice continua, a voz mais baixa e carregada de tristeza. ㅡ Ela não me deixa ter contato com ele, e eu já parei de pedir para que pelo menos me dissesse qual era o seu número,  para quê eu pudesse pelo menos uma vez conversar com ele.

Isso me pega de surpresa.  Alice nunca havia demonstrado interesse em conversar com o pai até onde eu sabia, indicando que haviam coisas que ela escondia de mim. Seus sentimentos,  principalmente.

Eu achava que ela o odiava tanto quanto eu.

ㅡ Alice...ㅡ tento dizer algo, mas nada sai. Eu concordava com a nossa avó, mas não diria isso em voz alta. Alice me odiaria.

ㅡ Sinto que ela mente sobre isso há tempos. Só não  sei como faz para que ele realmente  não  nos encontre.

ㅡ As vezes ele nem está procurando. ㅡ a frase sai mãos rápido  do que eu imagino, o que a faz se calar por alguns segundos. ㅡ Desculpe...

ㅡ Tudo bem.ㅡ me corta.ㅡ Não  a julgo por não gostar dele. Só não concordo com o que nossa avó está fazendo. Está metido para mim, nem mesmo diz o que aconteceu durante os casamento da nossa mãe... ela não  fala nada. Está na cara que nos esconde diversas coisas e eu odeio isso!

Respiro fundo, sentindo minha cabeça  lateja pelo esforço  em pensar. Odiava qualquer assunto relacionado ao nosso passado.  Odiava com todas as minhas forças. 

Um barulho no andar de baixo, seguido da porta se fechando é o que nos faz sair do transe. Alice suspira e balança  a cabeça. 

ㅡ Acho que ela chegou.ㅡ se afasta um pouco, me encarando com culpa no olhar, como se percebece que algo havia me afetado.ㅡ Me desculpe... Eu só queria desabafar.

Alice não sabia de muita coisa, era pequena quando as coisas ruins aconteceram. Eu também  nunca a culpe por isso, e não  a culpava agora por querer falar com o pai.

Sorrio fraco e me aproximo para tocar seu ombro.

ㅡ Podemos conversar sobre isso depois. Pode contar comigo. ㅡ Por favor, não  toque nesse assunto de novo.

Ela sorri de leve e beija a minha bochecha antes de sair, me deixando parada no portal da porta do banheiro.

Toddy se mexe na cama, me tirando dos pensamentos. 

Meu dia havia sido estragado pois eu sabia que não pararia de pensar naquilo.