18. Domingo

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Na manhã de domingo, a casa permanece silenciosa, como se não houvessem cinco crianças nos quartos, que no dia anterior, não calaram a boca por um único segundo, sempre rindo ou cantando pelos cômodos. Somente o som da garoa londrina contra os telhados e a grama se fazia presente.

As meninas haviam adormecido todas no quarto das gêmeas, onde ainda se mantinham, apesar de algumas já terem aberto os olhos, não queriam sair lá fora de jeito nenhum.

Harry acorda detonado, como se três caminhões houvessem o atropelado. O moletom se tornara um trapo, úmido por infinitas lágrimas e amassado. O moletom que ele não tem coragem de tirar. Se chama de covarde, como havia dito Louis. Todas as palavras dele ainda ecoam na cabeça de Harry, que dói pela ressaca, com a sensação dela ter sido pisoteada.

Ao sair naquele corredor branco e vazio, cujos pedaços do vaso ainda compunham o chão, Harry se põe a juntar um a um, antes que uma de suas filhas se acidente. Abaixado, não vê Gabrielly na brecha da porta, tentando ver se Louis havia voltado.

- Pai? - Ela murmura timidamente, o fazendo largar os cacos e se levantar.

Respirando um grau mais adequadamente, Harry reprime qualquer vontade de chorar e assume um semblante indecifrável.

- Bom dia, Gaby. - Rouco, soa um pouco mais baixo do que havia pretendido.

Gabrielly encosta a porta atrás de si, parada a poucos centímetros dele, olhando para cima, detectando a tristeza em suas orbes brilhantes.

- Pai... tá tudo bem?

- Sim, querida. - Harry puxa o braço dela delicadamente, a abraçando, para não se concentrar naquela mentira. - E você? Tá bem?

Ele repara que ela não havia dormido no quarto certo, entretanto, tenta não pensar muito nisso.

- Sim... - Bil mente igual a ele, lutando para não desmoronar em seus braços, que tanto a aconchegam, quando na verdade, o dono é quem mais precisa de um consolo.

- Bil... - Talita surge um pouco surpresa ao ver Harry de pé e interrompe o que quer que ia dizer. - Ahm... você tá aí.

Harry vê a mais velha abaixar os olhos verdes, com algum peso sob os ombros. Ele solta Gabrielly para também abraçar a outra, porém, olhando para aquela que ainda segura, se perde, olhando no fundo de seus olhos azuis e vendo Louis através de seus traços.

- Pai? - Bil nota uma gotícula de água nascendo nos olhos dele, que imediatamente pisca forte, destruindo a lágrima. - O que foi?

- Eu já disse que está tudo bem, Gabrielly. - Ele vira para Talita, que permanece encarando o chão, analisando os pedaços do vaso a alguns metros. - Talita?

Ele não teria esperado duas vezes para abraçá-la, se a referida não se encontrasse tão vagarosa, com o semblante fechado, contendo metade das lágrimas que havia se recusado a chorar na presença das irmãs, para ter alguma força para protegê-las.

- Eu vou fazer as panquecas. - A garota percorre o corredor determinada a alcançar a cozinha em menos de um minuto.

- O que ela tem? - Harry olha para Bil, minucioso.

- Não sei.

A mais nova expressa a verdade, preferindo não investigar a irmã, que conclui ter seus motivos para estar atordoada.

Styles desce as escadas, entra na varanda, olha para a tempestade desabando no jardim e reage às notificações do celular, o desbloqueando.

No decorrer de trinta minutos, o cheiro de queimado o faz franzir o nariz e retornar à casa nervoso, seguindo o odor até a cozinha, onde se depara com Talita tentando finalizar a décima panqueca, totalmente torrada.

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