46. Abelha

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Após a saída de Anne, os pais colocaram as filhas para dormir, exceto por Yasmin, que se mantinha atenta, deitada na cama de cobertas das princesas, enquanto Louis deslizava a mão direita sobre suas madeixas, contando uma história clássica.

- E eles viveram felizes para sempre? - O sorriso dela o contagiou.

- Calma, ainda não acabou.

Louis olhou para o abajur, apreciando as imagens projetadas na parede, de castelos à praias paradisíacas. Ao ter recolhido alguns tênis e meias pelo caminho, Harry os ouviu baixo e por curiosidade, parou próximo à porta.

- Depois do casamento, o esquilo Lucca e a esquila Harriet tiveram muitos filhotinhos e foram morar em uma floresta gigante.

- Quantos filhotinhos, papai?

Yasmin coçou os olhos, já não tão atenta a ele, apreciando os desenhos na parede.

- Cinco, dava para fazer até uma banda. - Louis suspirou, detectando a sombra de Harry atrás da porta. - A menor era um pouco mimada, obrigava o papai esquilo a ler historinhas todas as noites, além de ter comido dois milhões de nozes que deveriam guardar para o inverno.

Talvez, a menina estivesse com tanto sono, que não notou a referência/indireta.

- Depois dela, tinham duas esquilinhas idênticas, tão teimosas, que fizeram os cabelos da mamãe esquila caírem.

O pai ouviu um riso abafado do outro lado, mas continuou, se divertindo com as reações alheias.

- Se chamavam J1 e J2.

- Como a Jennifer e a Jeniffer?

Dessa vez, Yasmin não teve como não associar as semelhanças com a realidade, o tom de voz cada vez mais baixo.

- Sim, exatamente como a Jennifer e a Jeniffer. A quarta esquilinha, antes era comportada, só um pouco chorona, mas logo começou a andar com uns castores esquisitos, o papai esquilo também sofreu com queda de cab... pelos. - Louis acabou rindo sozinho, até voltar ao conto. - A esquilinha mais velha era uma boa garota, o único problema, é que estava crescendo rápido demais... Yasmin?

No último minuto, ele teve certeza de que a filha não havia acompanhado o final, de olhos bem fechados, adormecida como uma pedra.

- Boa noite, borboletinha.

Ao beijá-la na bochecha, Louis levantou, vendo a porta se abrir, com Harry segurando a maçaneta.

- Não me diga que eu era a mamãe esquila? - Rindo baixo, precisou cobrir a boca com uma das mãos.

- Óbvio!

O parceiro se aproximou, fechando a porta branca, frente a frente ao cacheado, com um sorriso zombeteiro nos lábios.

- Elas sentiram a sua falta aqui em casa.

A sós, no mesmo corredor branco em que trocaram ofensas acaloradas meses atrás, se analisavam, com todo o conflito ainda preso às paredes. Para Harry, era como se ainda pudesse ouvir os gritos de Louis. Entretanto, tê-lo de volta ali, tão acessível e emotivo, o fazia apenas ter vontade de chorar.

- Eu também senti falta daqui, Hazz... - O menor fita os pés, preso à mesma lembrança de dor. - E de você.

As mãos do cacheado levantam seu rosto, delicadamente, o trazendo para a vista de seus olhos brilhantes.

- Eu não quero que você vá embora de novo, gatinho.

- Acredite, eu não quero ir.

Louis coloca os dedos trêmulos em cima dos anéis dele, sentindo sua temperatura despencando.

DON'T LET ME GO Onde histórias criam vida. Descubra agora