47. Eu não viverei sem ti

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Charterhouse School.


Os minutos que se sucederam, das palavras gentis de Johannah voltando aos ouvidos de Gabrielly, trouxeram ao psicológico dela um bloqueio. Sua garganta havia se enrijecido de tal forma, que sequer conseguiu se despedir dos pais ou das irmãs. No instante em que o carro parou, apenas correu para o teatro, na direção contrária de seus amigos, como se fizesse parte da produção ao invés do elenco.

Ao saírem na grama, Harry e Louis se entreolharam, cientes de que algo não estava certo. Mais propenso a lidar com crises de ansiedade ou circunstâncias semelhantes, o mais novo jogou os cachos para trás.

- Acho que a Bil está nervosa...

- Deixa que eu falo com ela, Hazz... acho que sei o que é.

Louis assente, talvez, não tão bem preparado para tranquilizá-la, contudo, compartilhava do mesmo sentimento da garota, na verdade, havia o experimentado numa dose maior, claramente.

- Tudo bem. - Harry suspira, apontando para o cubículo entre alguns camarins. - Ela entrou ali.

- Já volto.

O mais velho solta sua mão, partindo na direção do compartimento, atravessando o gramado a passos velozes. Ao alcançar a porta cinza, efetuou duas batidas, quase mínimas.

- Bil? - Ele gira a maçaneta, grato aos deuses por não ter sido trancada. - Você está aí?

Ainda que possa abri-la, anseia pela resposta dela, que soa enfraquecida, dada sua posição cabisbaixa, abraçada aos joelhos.

- Pai, o que está fazendo aqui?

Ao empurrar a porta, Louis a vê no chão, desolada, a cabeça escondida nos braços, o que abafa ainda mais sua voz.

- Eu? - Do lado de dentro, termina os dois metros que os separam, sentando ao lado dela. - Você não deveria estar em um desses camarins, colocando o figurino de Julieta?

A verdade apenas conturba Gabrielly, que se afunda ainda mais, julgando-se terrivelmente por não estar cumprindo o papel corretamente. Entre soluços tímidos, levanta o olhar atormentado, ao sentir os braços do pai a circundando.

- Eu sei... a vovó Jay me ajudou a decorar a parte mais longa, pai.

A admissão não a aliviou. Assim como não aliviou Louis, enxugando suas lágrimas.

- E agora ela não vai estar lá para me ver.

- Ela me contou quando ensaiou com você, Bil... sabe o que ela me disse?

Os olhos dele brilhavam, as gotículas de água se acumulando ali, aprisionadas pelo seu dever de levar paz ao coração da filha, não mais escuridão.

- O quê? - Gabrielly murmura, como se nada que ele dissesse pudesse libertá-la.

Ao respirar fundo, estimulando-a a fazer o mesmo, Louis admite:

- Que você nasceu para isso, meu amor, que se tornaria uma atriz brilhante.

A menina desaba nos ombros dele, o coração palpitando violentamente, enquanto mais lágrimas voltam ao seu rosto.

- ... que você mudaria o mundo com o que sabe fazer, Bil. Ela tinha fé em você.

Acolhendo-a, o pai não resistiu, acabou soltando algumas lágrimas, sempre tentando sustentar o tom de voz, para que não se perdesse no tormento.

- E eu também tenho, você vai subir naquele palco e vai mostrar para todo mundo que sua avó estava certa.

- Eu sinto muito, pai... - Ela se rejeita pelo momento de fraqueza, lutando para respirar fundo. - Eu não deveria decepcionar vocês.

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