Capítulo 1

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Mon

A manhã foi agitada, tive de editar algumas fotos para o jornal, e ainda tenho mais alguns trabalhos pra entregar até o fim de semana. Aproveitei para deixar todo meu equipamento em ordem, afinal, não sei quando podem me chamar para fazer alguma cobertura especial. Vida de fotógrafo jornalista é assim, a notícia chega e você muitas vezes tem que chegar antes dela.

Eu até gosto do ramo em que trabalho, mas já estou nessa a algum tempo, e mesmo com toda a experiência que adquiri durante a guerra, registrando a realidade, minha paixão sempre foi fotografia artística. Rosé vive me falando para expor minhas fotos... não vou negar que pendurá-las em galerias seria um sonho, mas não sei se é o momento para isso, muitas das fotos nunca foram vistas ou reveladas e eu deixei esse sonho trancado a sete chaves, quando resolvi ir em busca de ver o mundo através dos olhos de meu irmão. Depois do que aconteceu com ele, eu nunca mais fui a mesma. A negação de perder alguém que fez parte de minha vida desde sempre acabou comigo, com meu relacionamento, e quase com a minha vida. Perder um irmão é algo terrível, mas um gêmeo, tenho certeza que é pior, afinal vocês nunca existiram sem o outro. Bom, desde que ele se foi, existo sem parte de mim.

Nop era um ótimo garoto, seu sonho era servir o exército e se alistou aos 18 anos, mas infelizmente o sonho dele se tornou meu pior pesadelo quando ele foi morto em combate. Eu precisava ir para lá, precisava descobrir o que ele viveu, e quais eram as sensações que sentira quando ali estava. Eu queria continuar o sonho dele, para que de alguma forma, ele vivesse em mim.

Em alguns momentos, eu tirava um tempo sabático quando tudo se tornava pesado demais. Em uma dessas, conheci Rosé, ela é linda, divertida e leve, depois de alguns encontros começamos a namorar e a pouco mais de um mês noivamos. Se eu disser que ela é o grande amor da minha vida estaria mentindo, pois esse perdi a muito tempo quando resolvi largar tudo para viver minha jornada.

Sam

É manhã de sábado, acabei de acordar, desligo o despertador, encaro o teto tomando o ar em um longo suspiro, já faz tanto tempo e nada mudou, a maioria dos dias ainda sonho com aquela mulher. Pego o travesseiro e coloco contra meu rosto pra abafar um grito de frustração, porque mesmo depois de tanto tempo, ainda sonho com ela, penso nela e me apego à esperança de que esteja bem e que retorne para minha vida. Não ironicamente, o meu maior sucesso e motivo de minha turnê mundial, foram os poemas que escrevi para ela, uma maneira que encontrei de externar tudo o que sentia depois que Mon se foi.

Finalmente me levanto, passo um café e abro a cortina da sala para olhar para fora, o dia hoje está diferente, o céu acinzentado, não faz calor como de costume. Tenho 3 dias de descanso antes de viajar, seria a última parada da turnê: Inglaterra.

Aproveitando o clima ameno, abro uma fresta na janela, e uma brisa gelada adentra, pego um livro e sento na chaise branca de frente para mesma. O café ainda quente contrasta com a brisa gelada que entra dando um conforto ao ambiente, pego uma manta cobrindo minhas pernas e começo a ler uma de minhas autoras favoritas.

"Se eu puder evitar que um coração padeça

Não viverei em vão.

Se eu fizer que na vida alguém esqueça

A dor ou a aflição

Ou se ajudar um pássaro caído

A retornar ao ninho

Não viverei em vão."

- Emilly Dickinson

E assim passo meu final de manhã, tomando um café, lendo e descansando, logo teria que me arrumar para encontrar com minhas amigas para almoçarmos, afinal faltava pouco para que eu viajasse, e pensava em ficar mais um algum tempo por lá após o fim da turnê. Queria visitar museus e tirar umas férias depois de tanto trabalho.

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