Tales of the Heart

Capítulo 5

Sam

O evento encerrou e estamos a caminho da minha casa, continuo em silêncio, minhas amigas estranham, digo que não é nada, não quero falar sobre, todas respeitam, mas percebo que se olham disfarçadamente com certa confusão estampada em seus rostos, decido apenas ignorá-las. Me sinto um pouco perdida em meus pensamentos, não é possível que seja ela, só de imaginar essa possibilidade meu corpo estremece inteiro, Mon, você não tem o direito de reaparecer assim, parece até que o universo está me pregando uma peça. Eu sei, sinto sua falta, porém queria que tivesse vindo até mim, não que nos encontrássemos ao acaso, me sufoca essa ideia. As meninas me acompanharão até meu apartamento para pegar algumas roupas, logo irão para o hotel com Jim e Tee, farão algo primeiro, preferi ficar em casa para tomar um banho e descansar antes de finalmente sairmos.

Mesmo que me esforce muito não consigo tirar aquela mulher da minha cabeça, ela estava sendo levada, arrancada outra vez de mim ou somente era alguém muito parecido? Lembrava muito a Mon, a minha Mon! Se for mesmo, por que não veio falar comigo, por que não me procurou e por que saiu daquela forma? São tantas perguntas sem respostas que sinto um nó apertado em minha garganta que me asfixia.

Já em casa sozinha me sirvo uma taça de vinho, prendo meu cabelo em um coque frouxo, me desfaço de minhas roupas e visto meu roupão. Ao chegar no banheiro preparo meu banho, sempre gostava de tomar um bem relaxante depois de dias que me exauriam, o dia estava agradável por mais que caísse uma leve garoa do lado de fora. Coloquei uma playlist no aleatório, me sentei em minha banheira enquanto bebia o vinho e apenas aproveitava a calma que sentia no momento, ou que tentava me forçar a sentir, de repente me vejo tomada por lembranças: o último dia em que estivemos juntas, em cada canto desta casa...

Flashback on

Narrador

- Mon, não pode fazer isso, entendo o que está passando, pelo menos tento, mas ir até lá não irá resolver nada, já fazem três meses desde que tudo aconteceu, você ainda tem os mesmos pesadelos diários, não dorme direito e acorda gritando. Não tem que fazer isso! Por favor, procure um terapeuta, converse com alguém sobre. Sua mãe perdeu um filho, eu perdi um amigo e você seu irmão, como pode sequer cogitar isso? - a mais velha fala em meio a lágrimas em tom irritadiço, sentindo seu coração apertar a cada palavra, diante da atitude que a mais nova pensava em tomar.

– Sam, naquela noite, mesmo sem saber de fato o que estava acontecendo eu ouvi tudo, barulhos de explosões, gritos, senti um medo enorme, um aperto muito forte em meu coração que me fez despertar gritando, chorando, estava suada e desesperada. - disse a mais nova sentindo o coração apertar ao lembrar do fatídico dia. – depois descobri que naquele exato momento Nop morreu. Como posso não querer fazer isso e tentar achar as respostas que sinto que preciso? Meu irmão e parte de mim se foi, talvez tudo o que senti no momento em que ele morreu naquela emboscada era realmente a minha metade se soltando de mim. Preciso ir para o Afeganistão, não é possível que em meio aquele horror não exista algo bom, não tenha luz... ele parecia tão feliz estando ali, você sabe disso. Necessito saber, mesmo que tenha morrido tão tragicamente, se viu, se viveu amor e beleza por lá. Ele sempre falava que eu também deveria ir, que iria amar registrar as nuances únicas daquele lugar. Sinto que essa é a missão que tenho que cumprir para honrar sua memória. Eu te amo, posso até fazer terapia, faço o que quiser, exceto desistir de ir, por favor, não me peça isso. - Mon diz com lágrimas saltando do olhos, era como se tivesse tirado um peso dos ombros.

– Já que insiste tanto, irei com você!

– Sam, por favor, não torne isso mais difícil do que já é, jamais poderia te colocar em uma situação de risco, não posso arriscar te perder também, se algo acontecer contigo, não me perdoaria jamais.