Capítulo 19

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Sam

Depois de uma certa tensão, agora teríamos a oportunidade de colocar todas as cartas na mesa, ter uma boa conversa, esclarecer tudo, decidir sim ou não pelo perdão.

— Sammie, quero que tente entender, não estou justificando meus erros, não estou tentando encobrí-los, estou os reconhecendo, e estou disposto a jamais cometê-los novamente. – olho em direção a meu pai, seus olhos estão marejados, logo minha mãe começa a falar, seus olhos se fixam na parede atrás de mim como se não tivesse coragem de me encarar ou talvez fosse somente muito doloroso tal feito, era perceptível a dor em seu olhar a cada palavra que saía de sua boca. Minha mãe revivia memórias que talvez preferisse deixar guardadas, meu pai que agora está ao lado dela, a segura em um abraço como forma de encorajamento, era visível o quão difícil toda essa história era. Em meio a dor éramos refúgio e alívio, parecia que um peso estava sendo retirado do peito de nossa família, meu pai toma a frente agora, e as revelações que faz, me causam ânsia e desespero, minha mãe segura sua mão, e eu de certa forma tento entender as atitudes que tomou, quem não cuida de seus traumas está fadado a repetí-los.

Saint carregou um trauma tão grande, calado, sozinho, e por tanto tempo, minha mãe sofreu tanto e tudo isso foi mantido em segredo. Esconder algo, não minimiza e não dizima, esconder algo não faz com que deixe de existir, por mais difícil que seja enfrentarmos as adversidades que a vida nos impõe, essa é a única forma de nos curarmos. Agora o elo que estava enfraquecido por mentiras, omissão e falta de companheirismo se fortalecia, porque estávamos encontrando forças em nós mesmos para seguir, estávamos dispostos a melhorar, não somente nossa relação, mas como seres humanos. Aqui, nossa família tomava as atitudes necessárias para pra se tornar alicerce. Em meio às lágrimas de tristeza e compreensão nos abraçávamos e selávamos nosso futuro. Talvez se o fato do luto extremo de minha mãe pela perda de meu tio tivesse sido tratado como deveria, ela não teria tentado o suicídio, meu pai não carregaria o fardo de se sentir impotente por não ter conseguido impedir, mesmo tendo chegado a tempo de salvá-la, o medo de novamente reviver algo que foi seu pior pesadelo é de certa forma compreensível, o pavor em seus olhos à mera lembrança desse dia, sentiria o mesmo caso tivesse acontecido comigo, ver o amor da sua vida e não saber se continuaria essa vida com ela, ver seu mundo desfalecido em seus braços e absolutamente nada que possa fazer para mudar esse cenário. Existem medos que são irracionais, traumas que são persistentes, nós não sabemos o que nos causará gatilhos, o que o futuro nos reserva, porém sabemos que sentimos medo por antecipação, ninguém quer que alguém querido passe pelo mesmo trauma que você passou, mas a escolha de cada indivíduo deve ser respeitada.

Meu pai sabe que errou, reconhece isso, seria hipócrita da minha parte não tentar entender o seu lado, apenas o pensamento de tal ato com Mon poderia ter tomado o mesmo caminho, que de certa forma mesmo que inconscientemente tomou. Estremece todo o meu ser, saber que isso aconteceu com a minha própria mãe, tenho uma tristeza profunda, a dor dela tão grande, tão absurda que a levou a tomar uma atitude tão dolorosa. Após esse extremo, durante todo esse tempo ela fez terapia escondido para cuidar da depressão que a acometeu, o fato de meu pai carregar o peso de quase ver sua amada sucumbir a dor, ambos esconderam isso para não me sobrecarregar, na verdade isso jamais aconteceria, quando se divide não se sobrecarrega, agora a dor era compartilhada, assim como o amor, porém esse quanto mais se divide, mais se multiplica.

Tee

Yuki me mandou alguns dos registros de Mon, fiquei pensando no quanto aquelas imagens falavam por si, são fotografias que expressam sentimentos, não são apenas fotos, são registros de beleza em meio ao caos, a pequena sempre foi muito talentosa, o que os sentimentos que as poucas imagens que vi transmitem são excepcionais, mal posso esperar para conversar com ela sobre expor em minhas galerias.

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