Capitulo 12

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Saint

Fazem algumas semanas que não falo com minha filha, com a turnê que andou fazendo não conseguimos nem mesmo nos juntar para uma refeição, como era o habitual. Ela está em Londres, o último lugar do mundo que gostaria que estivesse depois de tudo o que aconteceu. Sempre apoiei todos os seus sonhos, a incentivei a querer mais, a nunca passar por cima de ninguém e também a amar como se não houvesse amanhã, lembro-me de quando ela veio apreensiva me contar sobre sua sexualidade, eu apenas ri, e ela bom, ficou sem entender o porque.

"— Você não está decepcionado, papai?" – me perguntou com os olhos marejados, como poderia me decepcionar pelo simples fato de ela amar? Ri, pela surpresa que passou por sua cabeça eu que a rejeitaria. Apenas lhe disse que poderia amar quem quer que fosse, desde que essa pessoa cuide bem do seu coração, zele por seu bem estar e seu amor. Sei que por vezes passo dos limites no quesito proteção, mas quando se é pai, não queremos que nada magoe nossos filhos, não suportamos vê-los sofrer, e Sam é minha única filha, minha princesinha, jamais permitiria que alguém lhe machucasse.

Ela namorou apenas uma vez, e isso foi o bastante. O dano que esse relacionamento trouxe a vida dela me quebrou por não poder tirar a dor que sentia e tomá-la para mim. Vê-la em tal estado me fez tomar decisões que nunca achei que tomaria... Retorno de meus devaneios lembrando que Samanun está a algumas boas semanas sem entrar em contato, resolvo então ligar, ela não me atende, fico um pouco triste, mas sei que quando ver a chamada retornará, como o fuso horário é diferente provavelmente a pequena está dormindo.

Flashback on

Nueng

Samanun mal sai do quarto, quando sai é somente para comer, e também mal come, já está a semanas dessa forma. Estamos preocupados, tentamos falar com ela de todas as maneiras possíveis, porém parece não nos escutar, somente chora todos os dias copiosamente, mais ainda apenas em ouvir a menção do nome de Mon.

Eu realmente não acredito que a garota tenha feito isso propositalmente, na verdade, toda essa situação é bem estranha, de qualquer forma não a culpo, pois no passado me vi em uma situação parecida quando o tio de Samanun partiu. Tive uma reação tão ruim quando a da garota, a vontade de sumir me consumia. Não acho que Mon faria qualquer coisa para magoar minha filha, pelo menos não intencionalmente, concordo que foi egoísta a decisão de ir embora, porém não cabe a ninguém julgar a dor do outro, ela errou achando que estava fazendo o melhor para minha pequena, infelizmente o luto faz com que tomemos atitudes impensadas.

O celular de Sam toca sem parar, suas amigas sempre ligam querendo saber se está melhor, ela nunca atende, parece alheia a tudo ao seu redor, enfiada em seu quarto perdida em todos seus pensamentos. Saint decidiu trocar o número, segundo ele, "para ninguém perturbá-la", sabia que de nada adiantaria, logo as garotas apareceriam por aqui querendo a todo custo falar com ela e saber notícias.

Meu marido zela por nossa filha de uma maneira super protetora, está tão cego de raiva de Kornkamon que não percebe que ambas estão sofrendo a sua maneira com toda essa situação. Ouço passos e ao me virar o vejo.

— Ela dormiu de tanto chorar de novo, não aguento mais vê-la assim, juro, se me encontro com essa garota...

— Você não fará nada, ou se esqueceu do que aconteceu comigo quando perdi meu irmão? Se esqueceu, trate de lembrar que se tivesse conseguido isso aqui não existiria. – digo em um tom baixo e ríspido, apontando para nós dois e vejo em seus olhos que a mera lembrança desse momento o assusta.

— Nueng, é diferente, uma coisa não tem nada a ver com a outra, nossa filha está deitada, chorando, esperando que ela volte. Mon sumiu, foi para guerra. E se nunca voltar, sabe quais as chances disso acontecer? Sam precisa esquecer essa garota, precisa seguir em frente e se depender de mim, nunca mais chegará perto de Kornkamon.

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