Capítulo 10

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Sam

Passei semanas pensando no que iria fazer, no que iria falar, Mon finalmente havia chegado e meu coração errava algumas batidas, sabia deveríamos conversar, era óbvio que precisávamos, me sentia nervosa, falamos em uníssono que queríamos o mesmo, a olho sorrindo tímida. Após ajudá-la a colocar as sacolas que trouxe sobre a ilha da cozinha, já não havendo nenhum impedimento entre nós, a puxo para meus braços, ao sentir seu corpo contra o meu, uma onda de desejo me invade pela saudade que sentia, não resisto e a beijo, profundamente, um beijo repleto de sentimentos, seus lábios macios faziam com que a desejasse cada vez mais, ela pareceu surpresa com meu ato, mas logo o retribui com a mesma intensidade. Não que houvesse mais espaço entre nós, porém em um movimento rápido a puxo mais conta mim, minha língua pede passagem, ela cede, logos estamos em total sincronia como em uma dança, nada ali tinha pressa, tudo era perfeito, ambas não queriam que acabasse, entretanto já se fazia difícil respirar. A emergente necessidade de ar fazia-se presente, então colamos nossas testas, sorrimos e demos um último selar, ela me abraça forte e afunda seu rosto na curva de meu pescoço dando um longo suspiro, o que faz meu corpo inteiro arrepiar. Com minhas mãos envoltas em sua cintura e as dela ao redor de mim, diz em um som abafado.

— Eu e Rosé terminamos. – sou pega totalmente desprevenida, fico sem reação, opto
então, pelo menos por enquanto não aprofundar aquele assunto, mesmo sentindo meu coração bater acelerado com aquelas palavras. A afasto de meu pescoço e ao olhar em seus olhos, sorrimos novamente.

— Estava morrendo de saudades, precisava fazer isso. – digo e ela sorri de uma maneira que contrasta com o rubor em seu rosto.

— Também senti saudades, babe! – me responde deixando mais um selar em meus lábios, nos olhamos mais alguns segundos, até que me afasto.

Próximo ao horário de almoço disponho a mesa enquanto ela serve uma taça de vinho para cada uma, ainda havia certa tensão entre nós, um medo de dar um passo errado, eu a observava a cada movimento, meus olhos não conseguiam desviar dela, nos sentamos de frente uma para outra, o clima apesar de tenso, era confortável, estava nervosa, e ela visivelmente também, afinal teríamos por fim, uma conversa franca e honesta desde que nos reencontramos. Tentava afastar todo e qualquer pensamento de medo, focava apenas no agora, sabia que além de precisar falar, queria ouvir o que ela tinha a me dizer.

Diante de mim, Mon tinha seus olhos fixos aos meus, ora ou outra fitavam minha boca, estávamos em silêncio, e acredito que era possível ouvir as batidas do meu coração que estavam a mil. Iria me expor e me abrir totalmente, queria que ela entendesse o porque de eu não estar pronta para aprofundar o que tínhamos - se é que tínhamos alguma coisa - e seguir em um relacionamento, queria que soubesse o quanto a ida dela me quebrou em muitos pedaços, com esse pensamento dou um suspiro profundo, e me encorajo mentalmente para começar a falar.

— Mon, antes de tudo, quero que entenda que o que irei falar, tudo o que senti desde o dia que você se foi, também é uma maneira de tentar pôr todas as cartas na mesa, e se você tiver algo para falar, que seja da mesma maneira, te chamei aqui pra colocarmos tudo, tudo mesmo para fora, quebrar qualquer barreira que nos impeça de seguir em frente. – falo de uma só vez e a mais nova assente com um leve sorriso no rosto em uma feição compreensiva, e então, decido que não vou segurar nada, ela precisa saber.

— Li sua carta de despedida todos os dias repetidas vezes durante um ano, ali não havia um adeus, e acreditei por muito tempo que não existia um, ainda a tenho comigo, não consegui me desfazer, pois aquilo era uma das poucas coisas que me restavam de você. Eu esperei todos os dias por notícias suas, e chorei todas as noites por não tê-las. Uma semana depois de sua ida, minhas amigas vieram até aqui e me levaram de volta para Bangkok, não tinha forças para dizer que não, eu não queria, achava que você voltaria e não me encontraria aqui pra recebê-la. Antes de sair te escrevi um bilhete, o mesmo ficou nessa mesa por longos meses, não tinha nada demais escrito, apenas um aviso de onde estaria caso o encontrasse. Mon o que você fez, me destruiu, achei que você jamais seria capaz de me abandonar, te entreguei meu coração, nunca imaginei que o despedaçaria em mil pedaços e deixaria espalhado para que eu mesma recolhesse. – enquanto estou falando com toda franqueza que sinto, vejo a mais nova colocar seu talher de lado, e engolir em seco, seus olhos marejam, tenho certeza que ouvir está sendo tão difícil quanto falar, mas preciso disso, ela precisa entender o que senti.

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