Capítulo 6

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Sam

Mon está aqui na minha frente, a observo por um breve momento, seus cabelos agora curtos, tem um ar mais adulto, estão molhados provavelmente pela chuva que cai lá fora, ela passa as mãos nos mesmos para retirá-los de seu rosto, sua roupa colada ao corpo, não deixo de notar como está sexy, extremamente sexy, não posso permitir que esses pensamentos me permeiem nem mais segundo e os afasto, pegando uma toalha a entregando, não sem antes direcioná-la ao sofá com um aceno.

— O que faz aqui depois de tanto tempo, Mon? – pergunto sem entender, de fato era uma dúvida genuína. Ela permanece calada durante alguns instantes, parece perdida dentro de sua própria cabeça, possivelmente escolhendo as palavras para me responder.
 
— Eu sinceramente, não sei bem...

— O que te deu coragem para aparecer justo hoje na minha porta? –  repito e percebo uma tentativa dela de se aproximar, mas a vejo hesitar, parece um pouco inquieta.

— Fui a feira de livros, vi você lá, me desculpe por isso... – então era realmente ela, penso. — Yuki estava comigo, o impacto de te ver depois de tanto tempo fez com que eu não me sentisse bem, então ela me tirou dali. – confesso que ouví-la dizer isso traz certo reconforto ao meu coração, não sou só eu que ainda sinto, que me perco em meio a toda essa confusão com apenas uma troca de olhares.

— Você conseguiu o que queria? O que foi buscar?

— Consegui muita coisa Sam, mas nenhuma delas era o que eu precisava. Quero te contar tudo, te dar todas as respostas, devo isso a você. Sei que não tenho nenhum direito, muito menos sou merecedora, mas gostaria de pedir o seu perdão.  Eu sinceramente espero que não me odeie. – diz fitando meus olhos um pouco cabisbaixa com um olhar triste e esperançoso.

— Mon, o tempo que tive para te odiar já passou, houve um período que te odiei, odiei que você tenha feito o que fez, saindo na calada da noite e deixando apenas aquela carta. Odiei que você se foi e não olhou para trás, não colocou meus sentimentos na balança, e não, não me protegeu fazendo as coisas daquela maneira, protegeu apenas a si mesma. Eu poderia ainda te odiar, porém não, não te odeio. Quanto ao perdão... – suspiro de forma profunda. — não sei se estou pronta para isso, não no momento pelo menos. Você sumiu durante cinco anos, fiquei mal, partiu meu coração, levei tempos para me reconstruir, seria falsa se falasse que te perdoo assim, instantaneamente, como um dia já havia prometido, não falo nada que não condiz com a verdade do que sinto. – a vejo respirar mais aliviada apesar da tensão que ainda nos cerca.

— Me desculpe, Sam, de verdade, talvez o universo goste de nos pregar peças, não iria ao evento de hoje, mas depois de um imprevisto fui, e lá estava você, parece que não importa o caminho que seguimos, sempre acabaremos nos encontrando mesmo que demore. Eu... – a vejo hesitar mais uma vez. — Gostaria de saber sobre sua vida, como você está? O que tem feito?

— Estou bem, feliz, não moro mais aqui, tenho uma vida tranquila e estruturada em Bangkok. – digo tentando manter cordialidade, realmente não a odiava mais, agora que sei que ela está bem sinto um peso sair de minhas costas, mas não nego que o fato dela ter esperado o destino interferir para vir até mim me magoa. — E você pelo visto ficou adepta as loucuras de seu irmão. – aponto para o capacete que descansava na ilha da cozinha.

— Ah, sim! Aprendi no Afeganistão, acredite ou não é maravilhoso andar sentindo o vento em seu corpo, traz uma certa liberdade, sem contar que não fica tão presa no trânsito, o que facilita chegar até os locais com mais rapidez. – ela diz como se tentasse me convencer que não é coisa de maluco, você é seu próprio air-bag, como isso pode ser seguro?

— Ainda trabalha como correspondente? – pergunto com curiosidade.

— Não, não faço mais correspondência em locais de conflito, digamos que por intervenção divina. – Mon diz com um sorriso triste ao aparentemente lembrar de algo.

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