Capitulo 4

1.2K 179 86
                                    

Sam

Acordei mais cedo que o normal para me preparar para o evento, ainda pensava sobre como fiquei presa naquela droga de elevador e não consegui visitar Nop pela primeira vez em anos, estou bastante chateada, por isso resolvi me antecipar para evitar novos imprevistos. O evento começará às 9h, minha leitura será apenas às 16h, logo depois assinarei alguns livros e, então o encerrarei. Lisa e Kade ainda querem sair, querem comemorar o fim da tour em grande estilo, elas têm insistido muito, e confesso que gostaria muito também, já faz algum tempo que não saio para me divertir. Pulo da cama sem muitas delongas, faço minha higiene matinal, me visto com uma roupa confortável para tomar meu café da manhã com as meninas.

— Bom dia, hoje é o grande dia, como está se sentindo Sam? – Lisa pergunta enquanto massageia minhas costas.

— Animada e tensa, ao mesmo tempo orgulhosa por ter chegado até aqui. – digo agradecida pela massagem que ela faz, meus músculos estão rígidos, estou mais tensa do que imaginava.

— Sam, fica tranquila, você apenas vai ler alguns poemas, responder perguntas e depois assinar alguns livros, daí podemos nos divertir. Precisa sair, está socada dentro desse apartamento desde que chegamos! – Kade diz enquanto completa seu copo de café. Olho para o balcão da cozinha e vejo que há um lindo arranjo de tulipas amarelas e laranjas. Levanto para ver de quem são abrindo o cartão que está ao lado, dando um sorriso de canto.

"Nós te amamos, mesmo você sendo estúpida às vezes, queríamos poder estar aí, e aplaudir seu sucesso. Com amor...

Tee e Jim.

Tee, porque a Jim só colocou o nome dela aqui.
Mentira eu escolhi as cores :)."

— Essas duas brigam até escrevendo um cartão. – balanço o papel enquanto me direciono à mesa para terminar meu café e finalmente começar a me arrumar. Queria chegar mais cedo, rodar pelo local e ter tempo de me preparar por lá. Espero que esteja tudo perfeito, além de ser o encerramento da turnê, é um evento muito importante, nada pode dar errado. Enquanto finalizava minha maquiagem, e colocava a roupa que iria usar sobre a cama, não pude deixar de pensar, será que ela sabia do livro? Se sim, será que leu e gostou? Será que ela pensava em voltar, ou ainda pensava em nós? Será que estava bem? São tantas perguntas, espero que um dia possa respondê-las.

Mon

Ontem foi um dia importante, sinto-me mais leve, admito que deveria ter ouvido minha terapeuta antes, porém me custava muito entender, me agarrava ao que tinha ido, me recusava a dizer adeus porque significaria para sempre, e a que custo? Partir o coração de quem eu amava, ir embora e quando finalmente voltar ver que tinha seguido em frente? Fico feliz por ela, mas no fundo ainda tinha esperanças que Sam tivesse me esperado, jamais poderia interferir em sua vida, por isso resolvi não voltar mais, não procurar e não ter notícias suas. Me doía muito saber que não sou o motivo da felicidade dela, mas me alegra que exista alguém que seja. Me arrependo de todas as vezes que a observei de longe e não tive coragem de me aproximar. Peguei o que tinha sobrado de melhor em meu coração e deixei em pedaços, parece que foi ontem, mas ao mesmo tempo tenho a sensação que já fazem décadas.

Depois de passar dois anos fazendo correspondência no Afeganistão e em outros locais afetados pela guerra, passei por uma situação complicada que quase ceifou a minha vida. Estava junto a um grupo de jornalistas a caminho de uma zona próxima a de confronto para pegarmos mais informações, eu lógico me voluntariei, falei que precisaria de exclusivas para o jornal. Enquanto estávamos ao limite de onde poderíamos avançar, fomos atacados, uma bomba caiu próximo ao nosso carro, me lembro do clarão, da fumaça, do zunido em meus ouvidos e depois nada, absolutamente nada, os relatos dos outros colegas e da equipe que nos resgatou foram que o carro em que estávamos capotou, que na verdade não existia explicação plausível para que ele não tivesse explodido. Tive uma concussão e lacerações, acordei na cabana que servia para intervenção imediata, me falaram que por um milagre não sofremos ferimentos mais graves, nossa equipe foi transferida para um local onde pudéssemos receber um melhor atendimento. Depois de me recuperar procurei terapia, não aceitava que precisava, mas resolvi ouvir o que meu irmão me havia dito. Sei que parece loucura, talvez tenha sido a concussão, porém acreditava realmente que ele tinha falado comigo, então fui atrás disso. No começo foi bastante complicado, diagnosticada com depressão, TPSD, o tratamento não foi fácil, nunca termina, mas eu precisava, por ele, por mim e por ela. Mesmo depois de ter ido embora naquele dia, e a deixado para trás, voltei várias vezes, e por várias vezes a observei de longe, mas o que eu poderia fazer? Chegar lá com a cara mais lavada do mundo e falar um oi, mesmo sabendo que não iria ficar? Hoje eu tenho pleno entendimento do buraco que estava nessa época, mesmo que afundada nele, meu amor por Samanun era egoísta, jamais poderia afundá-la comigo ou fazer com que ela precisasse lidar com o tanto de merda que eu estava lidando, isso era o que pensava. Após um tempo de terapia finalmente tomei coragem de me reaproximar, fui ao encontro dela, enquanto me aproximava de onde morávamos, a vi, linda como sempre, cabelos soltos, escuros, foi inevitável um sorriso estampar meu rosto, tudo em meu corpo gritava para ir em sua direção, entretanto por algum motivo meus pés não saiam do lugar, logo vi o porque, uma garota alta abraçou-a por trás lhe dando um beijo na bochecha, fazendo com que ela soltasse uma gargalhada que mesmo de longe era audível para mim, como eu sentia falta dela.

Tales of the Heart Onde histórias criam vida. Descubra agora