{Casa silenciosa}

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É a mesma casa de sempre,
mesmos quartos improvisados ou não,
mesmos gatos,
mesmos aparelhos,
mesmas memórias,
mesmos tudos.

A única diferença, é que só tem eu.

Eu sozinha,
andando nos mesmos quartos,
acariciando os mesmos gatos,
olhando os mesmos aparelhos,
lembrando as mesmas memórias,
fazendo os mesmos tudos.
Mas ainda consegue ser tão diferente.

É tão silencioso,
um daqueles silêncios agradáveis.
Os pássaros não param de piar,
meus gatos e cachorros parecem todos decidir retomar ao seus sonhos,
há conversas ao longe,
carros passando,
e uma música tão, tão ao longe que mal posso ouvir.
Enquanto eu estou só sentada,
esperando o silêncio,
não silencioso,
para escrever.

Como é curioso,
que apenas algumas pessoinhas podem fazer tanto barulho ao ponto de eu notar.
Cada um em um tempo diferente.
Um assistindo novela,
o outro animações,
o outro futebol,
e eu fazendo qualquer uma das coisas que eu faço.
Mas agora, eu não escuto nada disso.
Não há gritos de gol,
nem risadas exageradas por algum pedaço do drama,
nem se quer uma abertura épica de desenhos.

Tem só eu,
nessa casa silenciosa.

Com minhas músicas calmas de companhia,
ora tristes demais,
ora felizes demais.
E algumas conversas por mensagens.
Uma tentativa de poema rimado,
que mais se faz de rima,
sem saber onde seria sua prosa,
ou sua peça.
Sem se quer se tornar uma masterpiece,
virando um tipo de abraço quieto.
Ora quente,
ora triste,
ora confuso,
ora pensante,
ora repetitivo.
Um daqueles abraços que eu talvez esteja esperando por muito tempo.

Acontece que eu adoro o silêncio não silencioso.
Adoro essa casa silenciosa.
Adoro todo o barulho que falta dela,
e todo o barulho que poderia vir a qualquer momento.

Mas por enquanto,
só tem eu,
nessa casa silenciosa.
Vivendo o silêncio inativo dela.
Apreciando o que sei que vai acabar rápido.
E que talvez nem tinha começado para isso.

Ignorando os sinais de que essa casa não é silenciosa,
conhecendo cada um deles para excluir.
Encobrindo todas minhas inseguranças com algumas músicas,
e danças bobas que eu não vou mostrar pra ninguém.

Coisas assim que eu vou continuar fazendo,
porquê sei que vou continuar aqui por mais tempo do que acho.
Por mais tempo do que espero.
Como uma lesma parada no tempo,
Tentando congelar o que não pode ser congelado.
Derretendo o que acho que controlo,
enquanto ele só se esvai pelos meus dedos.

Assim como meu tempo nessa casa silenciosa.

Interior de uma desordenada Onde histórias criam vida. Descubra agora