{Ruidos de TV fora dela}

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Isso é tudo que eu escuto,
Um ruído insuportável de televisão.
De rádio,
Que enche meus ouvidos,
E bloqueia os meus pensamentos,
Eu querendo ou não.

Eu forço meus olhos a se fechar mais uma vez.
Tapando eles ainda mais com as mãos,
Mais do que achei que conseguiria.
Usando a desculpa de que:
“Eu só tenho sensibilidade na vista, não é nada demais.”
Quando na verdade,
Tudo que eu penso é que depois de tanto barulho,
E de tantos pensamentos bradejados.
Eu ainda vou ter que lidar com o ruído.
O ruído dos meus ouvidos insuportável.

E quando fecho meus olhos,
Me deparo com a imagem de ruído na televisão.
Aquela imagem onde tudo parece não fazer sentido.
Onde o som da tv é só um chiado forte,
E desconfortável.
Onde tudo que eu vejo são simples quadrados brancos e pretos,
Bagunçados,
E dançantes em um grande retângulo.
Que me deixa atordoada.

Um retângulo que atrapalha a minha visão.
Mas que parece manipular meus pensamentos,
Apagar meus sentimentos,
E me fazer tirar as mãos do meu olho.
Que me faz acordar.

Como se gritasse:
EI, NÃO É VERDADE O QUE ELA FALA!
TALVEZ VOCÊ SÓ PRECISE ACORDAR!
E me lembrasse que me prendi nos meus pensamentos de novo,
Por angustiantes momentos,
Mais longos do que eu sei.

Que me faz pensar de novo,
Será que vai ser sempre assim?
Será que vou sempre ter que acordar dessa prisão?
E se um dia eu não acordar?

E em mais uma das vezes onde algo me acorda,
Durante um surto passageiro,
Eu me levanto.
Com a perna mancando,
Sem nem saber onde eu machuquei.
Se é que eu me machuquei,
Ou se simplesmente esqueci como se anda.
Com as mãos doendo,
Por nem saber o quão forte bloqueava a luz de mim mesma.
Com o rosto inchado,
Pra me lembrar que eu ainda sou humana,
E que não importa se eu chorar ou não,
Eu ainda posso me levantar.
Eu ainda posso me acalmar.
E seguir em frente.

Vou calmamente até o banheiro,
Me apoiando nas paredes,
E andando tonteando,
Como uma bêbada,
Mas sem ter nunca bebido uma gota se quer de álcool.
Lavo o rosto,
Deixo o resto da raiva ir,
Descendo junto a água fria pelo ralo.

Bebo um grande copo de água morna,
E me relembro pela quingentésima vez na hora,
Que vai ficar tudo bem.

O ruído de TV volta assim que fecho meus olhos.
Percebendo uma recaída idiota.
Mas dessa vez ele parece mais amigável do que eu esperava.
Ele me parece mais normal do que eu lembrava.
E mais uma vez,
Me finjo esquecer do que ouvi.
E me lembrar do que não houve.

Mais uma vez,
Eu volto a achar que tudo era normal.
Volto a achar que reencontrei minha preciosa,
E inconstante calmaria.

E que aquele singelo ruído,
Talvez seja só eu mesma me acordado,
De mais um dos meus pesadelos reais.
De mais um dos tantos,
E tantos gatilhos detestáveis.
De mais um,
Pensamento intrusivo,
Que dominou a minha mente,
Sem eu nem mesmo perceber.
De mais uma vez onde o meu cérebro,
Perdeu lutando pra ele mesmo.
Mas que se lembrou que era ele mesmo o culpado da briga.
Que não havia perdedor ou vencedor quando se luta consigo mesmo.

Ruído de tv,
Que vaza pelos meus ouvidos,
E pelo frio que parece insistir em me cobrir.
Por cada fio invisível de energia,
Que nem eu devo sentir,
Ou notar,
Mas que passa pelo meu corpo,
Enviando inúmeras informações.
E que de alguma forma me fez ressurgir.
Que me faz levantar em meio as cinzas mais uma vez.
Depois de um fogareiro incontrolável de emoções.

E me lembrar,
Que de todos os males,
Talvez chorar,
Seja um dos menores deles.

E que mesmo se me perder em mim mesma,
Talvez sempre tenha algo que me lembrará de novo,
Como um alarme:
EI, NÃO É VERDADE O QUE ELA FALA!
TALVEZ VOCÊ SÓ PRECISE ACORDAR!

Como um Ruído de TV,
Que minha própria mente me mostrou,
Durante um momento em pleno escuro.
Escuro que eu mesma fiz,
Que eu mesma me assustei,
Que eu mesma notei.
Que eu mesma resolvi.
E que eu mesma misturei com Branco.

Ao ponto de lhe confundir,
Com um Ruído de TV fora dela.

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