{Gritos silenciosos}

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Gritando,
Gritando,
E gritando sem parar.
Parece que é assim que a minha mente insiste em ficar.

Por que continua gritando que eu sou inútil?
Que não deveria existir?
Que não sabe o motivo de viver ainda?
Que preferia não existir a passar por essa bagunça mais uma vez?

Nem por um segundo,
Não tem como,
Simplesmente,
Você se calar?
Por que insiste em gritar tanto ao ponto de nem se ouvir?
Ao menos sabe do que fala?

Por que me fazer ouvir tantos gritos silenciosos?
Enquanto tudo que eu quero é só me encolher até sumir da face da terra?
Por que precisa me fazer ouvir,
Quando ninguém mais ouve?
Quando ninguém mais liga?
Quando nem você se importa?

Por que continua a gritar até sua voz ficar rouca?
Se nem ao menos som,
Ao menos,
Você faz?
Por que eu ainda argumento com você?
Por que ainda tento te contra argumentar?

E atrás de argumento,
E contra argumento,
Argumento,
E contra argumento,
Minha mente sucumbe em uma prisão onde ela mesma se colocou.

Uma prisão fria,
Escura,
E um tanto confusa,
Num labirinto,
Com a coisa que mais poderia me machucar,
Eu mesma.

E atrás de argumento,
E grito silencioso,
Me encontro mais uma vez no lugar sombrio,
Onde meus pensamentos se parecem com borrões.
Onde tudo acontece tão rápido,
Quando tudo que não consigo esperar.
Onde cada minuto se parece um segundo.
E cada segundo se parece um milissegundo.
E onde cada lágrima,
Se parece um mísero 'alagamente,
Simplesmente inundando meu rosto,
Sem eu sequer permitir.

Onde as batidas rápidas no peito,
As mão no rosto,
E uma pequena versão minha encolhida na cama,
Parecem tudo que eu vou ter por anos.
Tudo que eu vou ter por décadas.
Tudo que eu vou ter por milênios.

Até que de repente,
Tudo para.

Os gritos param,
E eu não escuto mais nada.

Minha mente se silencia,
Mas eu não abaixo a guarda,
Não abaixo as mãos,
Nem afroxo o aperto,
Que nem percebi fazer em mim mesma.
Porque no fundo,
Eu temo ouvir de novo os mesmos gritos.

E então o grito insiste em voltar me gritando de novo,
O quão inútil,
Incapaz,
Instável,
Insegura,
Indecisa,
Imbecil,
Insuportável,
E insolubre eu sou.

Mas dessa vez,
Eu tenho força o suficiente pra calar o grito silencioso que só eu posso ouvir.
Dessa fez,
Consigo mandar se calar.
Consigo fazer se calar.

Afinal, se não fosse eu mesma gritando nos meus pensamentos.
Talvez alguém mais saberia deles.
Talvez alguém mais se importaria com eles.
E nunca foi isso que eu quis.

Talvez eu prefiro ter mil desses gritos,
A magoar mais alguém.

Eu prefiro ouvir os gritos da minha mente,
Em constante repetição por horas,
E dias,
E semanas,
Ao ter que gritá-los,
Bradá-los,
E bradejar,
Em toda voz.

Afinal, parece que eles machucam mais os outros do que eu.

Parece que no final,
Eu sairia menos magoada do que eles.
Como se minha auto crítica,
Criticasse mais aos outros do que a mim.
Talvez isso só me mostre de novo,
Uma coisa que eu já sabia a muito tempo.

Que infelizmente já me acostumei com eles.

Que infelizmente,
Esses gritos silenciosos,
Acontecem por mais tempo do que sequer me lembro.
Mesmo quando tudo em mim só quer pedir uma coisa a eles.

Por favor, PARA!

Mesmo sabendo que vai ser só mais uma dos inúmeros gritos silenciosos no meio de tantos outros,
Que dificilmente,
Vão se calar novamente.

Já que eles se fizeram de silêncio por tempo o bastante.
E talvez esse seja o jeito de me fazer ouvir.
Pelo menos por alguns segundos eles.

Os Gritos silenciosos.

Interior de uma desordenada Onde histórias criam vida. Descubra agora