16 - Sangue Venenoso

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Levi ficou um bom tempo assimilando a história contada por Babayaga no dia anterior. No fim ele achava que a velha não dizia coisa com coisa. Mas, depois de tudo que havia passado não deveria subestimar certas histórias contadas. Ele ainda voltou ao pátio mais umas 3 noites seguidas a fim de encontrar a anciã. novamente.

No fim da terceira noite a mulher estava lá mais uma vez diante da pintura de Betina.

-Ora, pensei que jamais voltaria aqui depois da nossa última conversa. - Babayaga disse com a voz arrastada pela idade já avançada.

-Ah, é que eu gosto de ouvir uma história de ninar.

-Raciocínio rápido e língua afiada. Eu gosto de você.

-Desculpe, não estou muito interessado em terceira idade.

A velha deu uma risada assustadora e alta, enquanto Levi mantinha-se com a mesma expressão.

-Ah... a anos não ria assim.

-As pessoas deste país têm um mal hábito. Gostam de dizer meias verdades e a gente nunca sabe o que é verdade e o que é mentira.

-É assim que fomos acostumados. E sobre o que exatamente você quer saber? - a velha estreitou os olhos.

-Não sei exatamente. Eu, um estrangeiro, paro diante da imagem da mulher com quem tive um conturbado relacionamento nos últimos 10 anos e uma figura sinistra me conta uma história sobre como surgiu o país dela e suas lendas. Onde aparentemente há uma outra herdeira legítima. Se não entendi errado. E eu me pergunto qual o seu objetivo afinal. Me matar de tédio?

-Sabe, garoto. Antes de mais nada, tenho uma pergunta pra você.

-Desembucha logo Velha.

A Babayaga sorriu um sorriso maléfico e depois ficou séria.

-Se for necessário, você mataria sua mulher?

Levi ficou sério e encarou a velha com fúria.

-O que quer dizer?

-O que perguntei. Se for necessário, você a mataria?

-Estou cansado de joguinhos. Me diga logo o que quer dizer?

-Acalme-se. Responda a minha pergunta que continuo a falar.

Levi cerrou os dentes e apertou os punhos. Não gostava do rumo da conversa.

-SE, fosse necessário, se não houvesse mais o que fazer, eu faria sim.

A velha sorriu maliciosa.

-Vi nos seus olhos desde o primeiro dia. Me desculpe por isso. Eu realmente precisava saber. Primeiramente, eu quero saber, você sabe o que é o sangue de Dragão?

-Não é um apelido dado a Betina?

-É, em partes. E foi dado à Calandiva, a Rainha Dragão. Ela é antepassada de Betina, tataravó, tetravó ou algo assim. Nas histórias contadas, diziam que ela era benevolente, de coração bom, o que não era de tudo mentira. Mas, quando os Eldianos atravessaram o mar e vieram até aqui, destruiu casas e massacrou nosso povo ela mostrou ao que veio. Não se sabe de onde surgiu, nem o que era exatamente. Dizem que na noite mais fria daquela ano um dragão imenso surgiu nos céus e queimou o exército Eldiano até virar cinzas. E depois disso, Calandiva não foi mais a mesma. Diziam que ela tinha tremores, alucinações e a raiva que ela sentia fazia qualquer um tremer de medo. Os mais próximos diziam que uma marca surgiu em seu corpo, como uma maldição. O sangue parecia venenoso. Cada vez que ela se enfurecia, a marca aumentava, ia se formando como um dragão por todo o seu corpo. Calandiva não tinha medo, escrúpulos. Dizem que foi por isso que os primeiros homens se voltaram contra Calandiva e contra todos os descendentes de Elise. Era isso ou a rainha destruiria o mundo inteiro. Foi aí que a família Real Drachen foi destruída. A partir daí, como bons hipócritas que fomos, nós unimos a Marley. Depois disso, os descendentes de Calandiva foram usados como armas de guerra. O sangue era passado de geração em geração, sempre em mulheres. O filho que Calandiva teve aquela noite foi criado por uma criada... Minha bisavó, Moema. Os homens não tinham o veneno. Somente as mulheres. Minha família era responsável por cuidar para que elas nunca se revoltarem, algumas mulheres foram mortas ao nascer. Muitas foram fortes, mas nenhuma era como Betina.

Sangue de DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora