Cap. 31: Memórias - Parte I

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O milagre às vezes está no despertar pela manhã e poder ver o nascer do sol.

Richard não conseguia acreditar que sua Santinha estava ali, segurando o filho deles nos braços e o amamentando como se nada tivesse acontecido.

Chico, desesperado, andava de um lado para o outro da clínica a procura de Júlia. Enquanto andava pelos corredores, o jornalista repensava suas crenças, nunca fora dado a religião e pensar em milagres era algo surreal para ele, porém depois de tantas coisas acontecendo com sua família que ele jamais imaginou presenciar, estava passando a crer que existia sim algo maior do que tudo e capaz de realizar milagres inimagináveis.

Enfim um enfermeiro soube dizer onde estava Júlia, e ele apesar de estranhar a médica estar no quarto que era de Otávio, seguiu apressadamente até lá. E nem mesmo bateu na porta de tão nervoso que se encontrava, nervoso e eufórico por finalmente ter sua irmãzinha caçula acordada.

- Doutora Júlia! Chico entrou de sopetão no quarto. - Santa Maria... Santa Maria acordou!

No mesmo instante a atmosfera de ternura do reencontro de Eva e as filhas fora quebrado, e vários pares de olhos seguiram na direção da porta questionadores encarando o jornalista.

- O que tá acontecendo aqui? Ele perguntou encarando de volta àquele pequeno grupo.
- A mãe das meninas apareceu! Judite falou indo na direção do filho.
- Mas como isso? O lado investigativo dele aflorou e por um instante se esqueceu do que fora fazer ali.
- Isso não importa, você disse que Santa Maria acordou? Júlia interrompeu o jornalista.
- Sim, sim... ele se lembrou de seu objetivo. - Faz alguns minutos, eu andei a clínica toda atrás de você!
- Vamos, eu preciso examiná-la! Julia pegou na mão de Chico despertando um olhar curioso em Dona Judite e um pequeno tremor no homem.
- Espera... Chico... meu irmão!? Janete gritou em vão pois Júlia saiu puxando o homem tão intempestiva quanto fora a entrada dele no quarto.
- Eu ouvi direito? Perguntou Florência.
- Parece que sim... A jovem Santinha acordou! Maristela se pronunciou.
- Eu preciso ver minha irmã! Janete soltou a mão da mãe e começou a sair em direção a porta.
- Eu vou com você!!! Gritou Helia também fazendo o mesmo que a irmã. Mas algo as fez parar no meio do caminho.

- Santa Maria... não te esqueças Hélia... Santa Maria! A voz de Eva era nada mais que um sussurro, seu olhar vago perdido a mirar o nada, como se lembrasse de algo e estivesse revivendo. - Elas são só crianças, por favor!

Ao ouvir sua mãe falar, Helia sentiu seu corpo tencionar e gatilhos foram disparados em sua memória. Parecia estar novamente naquela casa mal iluminada e fria, ouvindo os gritos da mãe e o choro das irmãs. O cheiro da cera das poucas velas que iluminavam o lugar, o barulho forte das ondas batendo nas pedras, o vento que assobiava fino fazendo bater uma janela ao fundo, era como estar lá novamente, o medo lhe acometeu, uma lágrima se formou no canto de seus olhos e ela fraquejou as pernas tendo que ser amparada por Otávio que estava perto dela.

- Filha o que foi? Ele disse enquanto a ajudava sentar.

Mas Helia estava perdida em suas lembranças. Os olhos parados olhando um ponto fixo à frente, mas sem ver nada. As vozes estavam longe, muito longe. Um arrepio percorreu o corpo da bailarina, ela lembrava, depois de tantos anos ela agora se lembrava. Cada memória reprimida, cada instante passado em sua vida desde a infância ao lado dos pais até aquele dia chuvoso e frio numa praia deserta onde ela, a mãe e a irmã haviam se escondido. Sim, Helia se lembrou de tudo.

- São só crianças! Eva repetiu fazendo Maristela ficar em alerta, já havia passado por aquilo com Helia alguns dias atrás e também com Otávio, memórias quando retornam as vezes podem causar crises de ansiedade e Eva já era propensa e esse tipo de crise.

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora