Cap 1: A Bailarina

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"Mas Madre, elas são tão pequenas. Como crescerão separadas?
Eu não sei irmã Cecília!
E quando os pais adotivos chegam?
Daqui a pouco!
Pobres crianças!"

Hélia Pimenta encarava o espelho com o olhar perdido, sempre que terminava uma apresentação ela se via sentada no camarim recordando um passado triste e melancólico que mesmo após vinte anos ainda a machucava.

A voz de sua assistente a tirou de seu transe e ela retomando sua postura de diva olhou para a jovem com um sorriso nos lábios.

- Chegaram para você Hélia! A moça lhe entregou um ramo enorme de rosas vermelhas.
- Que lindas, quem as enviou? Hélia perguntou a moça enquanto pegava as rosas e cheirava se embriagando com o perfume suave das flores.
- Eu não sei, no cartão diz apenas de seu eterno admirador JP!
- JP? Não conheço ninguém com essas inicias! Hélia pegou o cartão. - Que letra linda e olha o cartão esta perfumado!
- Nota-se que é um homem de muito bom gosto! Comentou Nara sua assistente. - Você quer que eu coloque com as outras?
- Não Nara, essas eu vou levar para a casa!

Hélia Pimenta era uma mulher de vinte cinco anos, linda com seus cabelos castanhos cacheados e olhos verde esmeralda tão profundos e penetrantes que pareciam ler a alma de quem os encarava.
Vivia o auge de sua carreira, bailarina conceituada, dançava para uma das mais importantes companhias de dança da Espanha onde vivia a 5 anos com seu marido Otto Niemman. Conheceu Otto numa de suas viagens em turnê pela Europa e quando se deu conta já estavam casados, as vezes ela pensava se não havia sido um tanto precipitado o seu relacionamento com Niemman, ele era um homem mais velho, envolvente, tinha uma lábia capaz de vender gelo para esquimó. Herdeiro de uma grande empresa de arquitetura, que mantinha negócios por todo o mundo, ele tinha usado de toda a sua perspicácia para conquistar Hélia e conseguiu.

- Hélia querida vamos? Niemman entrou no camarim. - Que flores são essas? Ele perguntou olhando para as rosas na mão dela.
- Um fã mandou! Hélia deu de ombros pegando sua bolsa na cadeira em frente aos espelhos.
- Então porque não estão com as outras? Niemman era um tanto ciumento e possessivo, ao menor sinal de aproximação de outros homens ele já assumia uma postura mais agressiva e isso por muitas vezes tirava Hélia do sério.
- Porque essas eu vou levar comigo, Niemman! Respondeu ela já sem paciência, não havia tido uma noite fácil, um dos bailarinos que a acompanharia faltou e ela teve que improvisar uma apresentação solo, claro que se saiu bem, mas Hélia Pimenta não era mulher de aceitar deslizes, cobrava profissionalismo de todos da mesma forma que ela cobrava a si mesma.
- Não vejo motivo para você levar as flores de um fã para casa? Niemman parecia querer uma briga, e Hélia estava a ponto de lhe dar o que ele queria.
- É sério que você vai fazer uma tempestade por causa de flores que eu nem sei quem me mandou, Otto? Hélia estava cansada, de uns tempos pra cá seu casamento parecia ainda mais um erro e ela já estava pensando se não seria melhor se separarem.

Niemman pegou as flores da mão dela a deixando extremamente furiosa, Hélia tinha um gênio do cão, temperamental como todo artista, ela pagava pra não entrar numa briga, mas quando entrava coitado de quem estivesse no caminho dela.
- Do seu eterno admirador JP? O que é isso Hélia? Quem é JP? Otto jogou o cartão na direção dela.
- Não começa Niemman! Hélia pegou o cartão do chão e olhou pra ele, os olhos o fuzilando. - Eu não sei quem é JP, mas sei que com certeza é alguém bem mais educado que você!

Niemman jogou as rosas no chão e pisou em cima, e segurando o braço de Hélia falou: - Você é minha mulher Hélia Pimenta!
- Disse bem Otto Niemman, sua mulher e não sua propriedade! Ela puxou seu braço da mão dele e o encarou no fundo dos olhos. - Nunca mais faça isso ou você irá se arrepender!
- Cuidado Hélia não me provoque!
- Cuidado você Otto Niemman, você não sabe do que eu sou capaz!
E dando as costas, ela se retirou.
Niemman ainda tentou segui-la mas ao chegar em frente ao teatro Hélia entrou num táxi e partiu. Tinha endereço certo para ir, o único lugar onde Hélia Pimenta a famosa e conceituada bailarina podia voltar a ser somente Hélia a filha adotiva de Dom Pietro Rivera, um grande empresário aposentado dono de uma frota de pesca no interior da Espanha.

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora