Cap. 33: Memórias - Parte II

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Foi um momento maravilhoso, o reencontro da filha caçula com Eva. Enfim toda a família estava unida, após tudo que haviam passado era quase um milagre estarem ali. Porém os pingos ainda não haviam sido devidamente colocados em seus "is" e Serafim não aguentava mais de ansiedade para saber o que acontecera com Eva durante aqueles vinte anos.

- Meus amigos, eu sei que é um momento de ternura, mas meu lado investigativo está gritando por respostas que só a senhora Eva pode nos dar! A voz de Serafim era afobada e seu desassossego fez as irmãs sorrirem acompanhadas dos demais no quarto.
- Oxente mas porque esse desassossego todo investigador? Perguntou Santinha ainda rindo abraçada a mãe.
- Mama e Helia se lembraram do dia em que você nasceu Santinha! Disse Janete.

Os sorrisos se findaram, Santinha se afastou um pouco da mãe e a encarou. O reencontro tinha sido lindo, mas uma dúvida lhe veio a cabeça, porque a mãe sumiu? Porque só retornou agora? A testa franzida alertou seu noivo Richard que acompanhava tudo a distância, ele sabia que um pequeno furacão estava prestes a acontecer.

- Mon Dieu! Ela levou a mão a boca. - Agora que me dei conta, visse! Automaticamente as mãos pousaram na cintura. - Onde a senhora esteve? Porque sumiu?
- Calma minha filha! Otávio se aproximou.
- Oxente que eu tô calma... que mania de sempre acharem que tô nervosa! Foi impossível manter a pose diante da fala de Santinha, logo Chico começou a rir sendo acompanhado pelos demais.
- Se calma você já tá assim, imagina nervosa! Helia falou tentando parar de rir.
- Olhe melhor você nem tomar conhecimento, visse minha cunhada! Falou Richard. - Que ela mais parece um furacão quando está nervosa! Ele ria.
- Mas até você Richard, mon Dieu! E andem, quero respostas, não adianta me enrolarem, o que todos estão sabendo que eu ainda não sei!?
- Minha filha, não sei se seria bom para você conversar sobre essas coisas agora! Ponderou Eva.
- Imagina, eu tô é ótima! Santa Maria deu uma voltinha com as mãos para cima mostrando que estava em perfeita saúde. - Pelo que fui informada pela Doutora Júlia eu estive praticamente na cidade dos pés juntos e voltei, creio que seja capaz de ouvir algumas verdades!

Maristela abriu um leve sorriso, realmente as mulheres da vida de Otávio Montana eram imparáveis. Júlia fechou os olhos e respirou bem fundo, já estava pensando em como faria para manter sua paciente em repouso até ter certeza de seu pleno restabelecimento. Judite, Florência e Aristides apenas se sentaram num sofá ao canto do quarto, estavam velhos demais para comprar aquela briga, conheciam as filhas que tinham e sabiam que ninguém sairia dali até tudo estar esclarecido. Chico ria da situação, o jornalista estava feliz afinal tinha as irmãs bem e ali na frente dele, agora três, porque se preocuparia? Armon apenas se aproximou de Janete a abraçando de lado e observando quão linda ela ficava com Artemio nos braços, alheio a tudo naquele momento ele apenas pensava que logo seriam eles a viver aquele ensejo. Já nosso benemérito das artes estava furioso, o medo de que algo acontecesse com Hélia e seus filhos estava lhe dando uma bela enxaqueca e aquela manhã sequer tinha passado das dez horas, o que viria a seguir para a tarde daquele grupo? Aquilo tudo tirou a paz de JP.

Eva suspirou fundo e fechou os olhos contando mentalmente até dez, precisava manter a calma, não podia entrar em crise, não agora. Otávio segurou-a pela cintura puxando seu corpo para perto de si e demonstrando que estava ali para ela. Não seria algo fácil de contar, muito menos bonito. Eva tinha as memórias retornando, e com elas as dores e sensações ruins que enfrentou durante todos aqueles anos.

Helia viu que a mãe hesitava, também estava se recordando e sabia que não era algo fácil de se contar, mas como seu pai sempre lhe ensinou, o adotivo claro, temer é para os fracos, os fortes encaram com a cabeça erguida as suas lutas. E assim a bailarina decidiu que seria ela a começar a falar.

- Minha irmã, creio que você devesse se deitar novamente e então podemos lhe contar tudo!
- Concordo com Helia, você acabou de despertar de um coma, nem devia estar por aí zanzando! Completou Janete.
- Oxente, obrigado visse! Enfim alguém para colocar juízo na cabeça de minha noiva! Agradeceu Richard indo até Santinha. - Venha Santa Maria, deite-se e deixe que todos tomem fôlego para contar seja o que for, não percebes que toda essa sangria pode fazer mal a você!?
- Quel sac!!! Santinha resmungou. - Vocês agora vão me tratar como uma inválida? Já disse que estou bem!
- Olhe a boca mocinha! Aristides se pronunciou. - E obedeça seu noivo e suas irmãs, ainda nem tive tempo de lhe abraçar depois de descobrir que é minha neta, não quero que agrave sua situação! Aristides não falava do coma que ela havia estado, falava da leucemia que ela havia descoberto antes dele viajar.
Aquela frase fez Santinha voltar a si e a lembrança da doença lhe martelou a cabeça, sim ela precisava se cuidar e mesmo a contragosto voltou ao leito da clínica e aguardou que enfim começassem a falar.

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora