Cap. 27: Ao ouvir teu nome

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Quando não se sabe o que fazer, as vezes o melhor é parar e respirar... deixar o tempo passar e esperar que o dia amanheça.
Metade dos nossos problemas as vezes se resolvem com uma boa e relaxante noite de sono, e foi isso que Aristides fez naquela noite logo depois que adentrou sua casa acompanhando de Eva sua filha e a enfermeira.

Eva havia tido mais uma crise de ansiedade, para ela, sair daquela ilha fora demasiado difícil, passara os últimos quinze anos vivendo apenas ali, ajudando a senhora que tão carinhosamente a acolheu após sua chegada naquela praia. Sua mente confusa, ainda não conseguia processar que ela tinha um pai, que não se chamava Aparecida e que tivera uma vida antes daquela fatídica noite em que fora encontrada vagando naquela ilha.

Segundo a psicóloga que atendeu Eva a pedido de Aristides, a mulher hoje com seus mais de quarenta anos, sofria possivelmente de um transtorno de estresse pós traumático, que acarretou numa perda de memória ou como chamam os médicos uma "amnésia dissociativa" que no caso de Eva acarretou na perda de memórias pessoais importantes a fazendo esquecer-se até mesmo de quem era. Na percepção da médica, o trauma sofrido por ela deveria ter sido horrível, pois apenas um trauma realmente significativo faria alguém esquecer-se até mesmo sua identidade.

Aristides sentiu seu mundo ruir ao ouvir a médica, principalmente depois que a mesma lhe disse que pelo tempo de perda da memória, talvez nunca mais Eva se recordasse de sua vida antes de aparecer naquela praia.

Ainda sim, o velho biólogo decidiu levar a filha consigo, daria tudo de si para vê-la restabelecida, quem sabe os médicos no Rio de Janerio pudessem fazer algo por ela, ou quem sabe até mesmo no estrangeiro, afinal a medicina vinha evoluindo muito nos últimos anos.
Mas ele nada poderia fazer naquela noite, então após a enfermeira dar um calmante a Eva, ambos foram descansar.
Ele ainda precisava descobrir como iria contar a Judite e a Serafim que reencontrara sua filha, mas que a mesma sequer lembrava-se do seu próprio nome.

O dia amanheceu e a noite caiu novamente, e assim foram mais alguns dias. Aristides não saiu de casa, Eva estava em crise e ele permaneceu ao lado dela. Ainda não falara com ninguém, nem mesmo sabia de tudo que se havia passado na sua ausência. Não tinha ideia de que Otávio havia acordado, não imaginava que suas netas haviam sido encontradas e menos ainda que um bisneto havia nascido. Estava alheio a tudo e a todos, focado apenas em cuidar de sua filha.

Mas claro que esse sumisso dele não iria durar para sempre, afinal uma espevitada dona Judite não iria esperar muito mais tempo por notícias e sem muita cerimônia partiu numa linda manhã ensolarada rumo a casa do ex mordomo para verificar se o mesmo já havia retornado de viagem. E ainda não fora sozinha, levava consigo sua mais nova "amiga" Florência, as duas haviam dado uma trégua nas implicâncias, afinal a família precisava de união agora e duas velhas rabugentas se alfinetando o tempo todo não ajudaria em nada. Já bastava Santinha que não saia daquele coma profundo, e Janete e Richard que estavam em frangalhos. Aliás todos estavam. Helia trancada dentro de casa com medo até de sua sombra, principalmente depois de tarde da noite receber uma ligação de Niemman lhe parabenizando pela gravidez e dizendo que não via a hora de ter seus filhos nos braços, seria o "pai" mais feliz do mundo. Aquilo tirou o sossego de Helia que após aquela noite tinha pesadelos horríveis todas as vezes que seus olhos se fechavam. É realmente aquele não era o momento para se ter duas velhas rabugentas brigando atoa por um ciúme sem cabimento. E foi assim que as duas amigas forçadas pela circunstância, saíram naquela manhã em direção a casa de Aristides.

Naquela manhã Eva estava mais calma, começava a se familiarizar com sua nova condição. Percebeu que Aristides não era um homem mal, embora não conseguisse ver nele a figura paterna que ele lhe dizia ser. Tomavam café à mesa tranquilamente, quando algumas batidas soaram na porta de entrada.

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora