Cap. 16: Quelqu'un M'a Dit

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"Dizem que as nossas vidas não valem tanto assim... que passam num instante, assim como murcham as rosas... Dizem que o tempo é um desgraçado, que as nossas tristezas são só aparência..."

Cada passo dado na direção da saída daquela clínica era marcado por uma dor que até então Santa Maria Pedreira não havia experimentado. Nem mesmo quando sua irmã Altiva lhe causou todo aquele mal ou nas noites perdidas nas paradas de caminhão se sentindo destruída e humilhada, nada tinha feito Santa Maria sofrer como estava sofrendo agora.

Não, ela não estava preparada para ouvir aquela frase "Você está com leucemia"... ela ia ser mãe, em seu ventre era gerado o fruto de seu amor e Richard, ela vivia os dias mais felizes de sua vida, era um filho, um menino, seu filho que agora era ameaçado por algo que ela não podia fazer sumir. Não, definitivamente, ela não estava preparada para isso.

Aliás mãe nenhuma está preparada para descobrir que quase ao final de sua gestação, está com câncer.

Ela sabia o que era, ela sabia que tudo seria mais difícil agora, ela sabia que o tratamento era doloroso, que poderia prejudicar seu bebê, sim ela sabia, apesar de não querer assumir, ela sabia. Se perguntava quando aquilo apareceu? Porque Ruy não havia visto em seus primeiros exames a meses atrás? Talvez a Doutora Júlia estivesse errada, talvez houvesse algum erro? Mas ela via que a médica tinha feito todos os exames possíveis e imagináveis, alguns até mais de uma vez, antes de dar aquela notícia.

Na França, Santa Maria fora testemunha do que aquela doença era capaz, vira uma das irmãs do internato sucumbir a essa maldita, mesmo depois de muito lutar. Houveram palestras e conversas com a Madre superiora sobre tudo aquilo, já que as alunas acabaram por acompanhar o triste fim da irmã Edithe.

Santinha via sua vida passando diante de si enquanto seguia aquele enfermeiro até a saída. E na mesma velocidade com que murcham as rosas ela perdia seu brilho e alegria de viver.
Injustiça, era esse o sentimento, ela não havia feito nada ainda, amara sim e fora amada, tornara-se mãe, mas ainda havia tanta coisa a ser feita, tantos momentos a serem vividos, não era justo... não podia ser verdade.

Os olhos dela pousaram em seu amado, Richard andava feito barata tonta pelo saguão da clínica, Chico seu irmão o tentava acalmar enquanto perguntava mais uma vez a atendente se já a tinham encontrado.

Enfim os olhos de Richard se encontraram com os dela. Havia dor nos olhos de seu noivo, havia medo, mas também havia amor.

"... No entanto, alguém me disse,
que você ainda me ama.
Alguém me disse
que você ainda me ama,
seria possível então?..."

Seria possível o amor que ela via nos olhos do seu inglês, ser tão forte a ponto de suportar a dor que viria com aquela doença? Seria ele capaz de estar ao lado dela quando tudo se tornasse caos, quando seus olhos já não tivessem mais o mesmo brilho e sua aparência já não fosse mais a que lhe encantava todos os dias?

Ela parou, seus pés fincaram no chão, o medo lhe invadindo a alma. Ele ficaria ao seu lado ou partiria lhe deixando só?

Nem um segundo foi preciso para que Richard ainda olhando nos olhos dela corresse literalmente ao seu encontro. Pois se ela tinha medo que ele lhe abandonasse, ele tinha medo de um mundo onde ela não fizesse parte.
Ele a tomou nos braços, apertou-a tão forte que ela sentiu que seus ossos poderiam se quebrar. Quando afrouxou o abraço ele tomou com carinho o rosto dela entre as mãos e distribuiu beijos por todo o seu rosto falando entre cada beijo:

- Nunca mais desapareça assim minha Santa Maria, não sabe como fiquei agoniado quando saí do consultório e não lhe vi... você é o amor de minha vida, me falta o ar só de pensar em você longe de mim, visse!

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora