Cap. 40: Tempestade

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Violenta; perigosa; terrível; arrasadora; assustadora; de gelo; de vento; de areia.

DE MEDO...

O vento batia forte nas janelas da mansão, a chuva voltara e dessa vez muito mais violenta do que antes. O céu escureceu ainda mais e o fim de tarde se tornou noite. De longe era possível ouvir no penhasco as ondas se chocarem com as pedras tamanha era a fúria das ondas pelo vento forte que soprava. A luz piscou uma, duas, três vezes até que não mais retornou. Estavam no meio do nada, assolados por uma tempestade e entregues à mercê de dois homens sem nenhum escrúpulo e compaixão, tendo de quebra uma doidivanas disposta a tornar tudo ainda pior.

Eva odiava tempestades, lhe faziam lembrar do dia em que deu a luz sua filha caçula e perdeu tudo. Lhe levava de volta a dias sombrios onde era torturada e subjulgada por um monstro. E quando o vento bateu forte estilhaçando uma das janelas em pequenos e pontiagudos pedaços de vidro pelo chão, a esposa de Otávio Montana se encolheu num canto da parede, travada, inerte, perdida nas lembranças que só ela tinha daquela maldita noite a vinte anos atrás.

O vento entrava pela vidraça quebrada e o frio logo foi sentido por todas elas, com o barulho Artemio acordou e agora chorava sem parar. Helia tentava a todo custo acalmá-lo, mas como acalmar um bebê quando ela própria não conseguia se acalmar diante do caos que se tornara aquele dia. Janete se viu sem saída, precisava ser forte no meio de mulheres traumatizadas, ela era a que deveria tomar a frente e ser racional, mas nem sempre o que se pensa é o que se consegue fazer pois quando a porta do quarto foi aberta e Teobaldo apareceu cada uma delas incluindo Janete tremeu e não foi pelo frio ou pela tempestade, mas sim pelo medo do que estava por vir.

...

- Armon!!!
- Santinha!? Mas... Serafim disse que vocês tinham ficado no convento!
- Mon Dieu, e você achou mesmo que com meu filho e minhas irmãs desaparecidos eu iria ficar parada!?
- Mas o que fazem aqui?
- Encontramos uma pista de onde San Marino está! Santinha lhe mostrava o documento que havia encontrado no escritório do pai.
- Nós também temos uma pista, Vanessa entregou o lugar onde ele se esconde, mas esse seu documento... Santinha aqui tem a localização exata! Armon olhava atento o papel onde continha um pequeno mapa e uma trajetória feita a mão.
- E onde está Serafim? Perguntou Richard.
- Numa ocorrência! Respondeu Armon.
- Mas que dispauterio eles não tinham outra pessoa pra mandar!? Se indignou o pai de Artemio.
- Não... pois a ocorrência é na clínica São Lucas! Armon olhou para sua cunhada. - Santa Maria, alguém invadiu a clínica e seu pai estava sob a mira de uma arma quando a ocorrência foi relatada!
- Mas como assim? Richard segurou a cintura de Santinha lhe dando apoio.
- Eu não sei detalhes, ninguém me diz nada agora... eu ia com eles mas fui impedido pelo delegado, ele disse que melhor seria eu ficar na delegacia!
- Mon Dieu, mas esse inferno não vai terminar!?
- Mas o que vamos fazer agora? Outra vez Richard se pronunciou.
- Eu não sei vocês..  mas eu vou atrás de San Marino! Armon pegou o mapa da pasta que Santinha lhe entregou e fez menção de sair. - Não vou ficar aqui parado enquanto minha Janete está em perigo!
- Pois eu também vou, visse! Santinha segurou na mão de Richard.
- Of course que sim, vamos todos!
- Mas e seu pai Santa Maria? Armon falou quando já estavam descendo as escadas da delegacia em direção ao carro.
- Eu não posso ajudar meu pai, só me resta orar pra que ele fique bem... minha prioridade é meu filho e minhas irmãs!

Um raio cortou o céu negro, fazendo um enorme estrondo. Um arrepio percorreu a espinha da jovem, como se algo terrível estivesse por vir, o destino estava sendo traçado mas nem todos sairiam bem no final.

●○●

O capanga de San Marino adentrou o quarto, o vento gelado entrava ainda pela janela. Eva encolhida no canto abraçava as próprias pernas sentada no chão como uma criança com medo. Artemio nos braços de Helia chorava alto enquanto sem sucesso a bailarina o tentava acalmar. Janete deu dois passos para trás, o medo era difícil de ser contido, um sentimento que devastava a alma e lhe causava arrepios. Dona Judite viu o pavor nos olhos de sua menina, uma mãe conhece sua cria ainda que não a tenha gerado no ventre, precisava fazer alguma coisa, precisava proteger sua princesinha a qualquer custo. Mas como lutar contra um brutamontes duas vezes maior do que ela? Ela não sabia como, mas ainda sim enfrentou o capataz.

Paralelas do Destino - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora