DOCE VENENO

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Lya

Eva me guiou para fora do magnífico palácio, que me lembrava os palácios fantásticos, à beira do mar, que vi em fotos de fantasia.
Fomos sair numa construção idêntica a um deque. Um lago magnífico se estendia a se perder de vista, como se fosse um lindo tapete azul cristalino no chão. Interessante que aqui predomina esse tom de cor. Digamos que é semelhante ao Caribe. O chão era coberto por um tipo de grama num tom alaranjado e de frente para a água, bancos forrados com tecidos e travesseiros. Acima deles, uma cobertura de finos tecidos sobre o pergolado, que eram responsáveis pela sombra.

Armet estava ali majestosamente sentado, mas assim que nos viu, ergueu-se e veio em nossa direção. Eva pulou em seus braços e foi imediatamente acolhida. Fiquei até constrangida vendo a manifestação de carinho entre eles. Definitivamente não era uma cena nada comum.

— Não me aperte tanto ou vou fazer xixi na roupa! — ela resmunga e ele a põe no chão — É melhor eu ir ao banheiro logo…

O quê?! Ela não está pensando em me deixar aqui sozinha com ele, não é?! Sequer tive tempo de protestar e ela já saiu correndo. Que merda! Por que tenho a impressão de que vim espontaneamente para uma armadilha?!

— Não precisa se preocupar…— ela inicia sua fala.

— Eu tenho ouvido muito isso hoje! — interrompo-o — O que quer, senhor cabelo vermelho?! — ele mostra um leve sorriso com minha manifestação de humor.

— Eu gostaria de me desculpar pelo que aconteceu antes! — Aham, sei! Que conveniente, não é?! — É provável que você tenha que ficar aqui por um tempo e quero oferecer minha proteção… — nisso somos interrompidos por Eva que vem correndo de volta.

O que diabos houve com ela?! Mijou atrás de um arbusto para voltar tão rápido?! E por que está tão pálida?!
Logo atrás dela vi o motivo de estar correndo como se os demônios a estivessem perseguindo. O rei vinha se aproximando e pela cara intimidante do bastardo, senti vontade de pular no lago e nadar para longe.
Que merda aconteceu agora?! Achei que já tínhamos superado nosso "primeiro encontro".

— Seu bastardo, tenho sido muito generoso com você! Uma fêmea não é o bastante?! Você também quer tirar uma debaixo das minhas vistas?! — Epa, Epa! Ele está zangado com o homem-cobra ao meu lado.

A loira está encolhida atrás do seu companheiro, claramente amedrontada.

— Não é o que está pensando…

A imensa cauda escura do rei balançou perigosamente na frente do rosto do outro, numa ameaça explícita. Dei um passo instintivo para trás quando o clima se tornou ainda mais tenso. Sei reconhecer quando dois predadores estão prestes a se atracar.

De repente, o rei se volta para mim, seu olhar vermelho parece ainda mais aterrorizante assim de perto.

— Você vem comigo…

— Você está maluco?! Não vou a lugar nenhum…

Para meu desespero, ele me dá o "bote" e no segundo seguinte, estou enrolada em sua cauda, elevada do chão e sendo levada para longe.

— Me põe no chão sua cobra estúpida! — grito com ele, mas sou ignorada.

Que filho de uma raputenga! Continuo gritando a plenos pulmões. Aí dele, se eu conseguir um canivete; vou tirar sua linda pele e fazer uma bolsa para carregar minhas meias fedidas. Estou quase sem voz de tanto gritar quando sou colocada no chão.

O quê?! Fui trazida para uma caverna?!

Estava tão concentrada me debatendo que não percebi o caminho que ele tomou. A luz no ambiente é fraca, porém meus olhos logo se acostumam. É um quarto gigante. Sob a luz tênue percebo as cores que o compõem, dando um aspecto sombrio e frio ao conjunto. Para os mais modernos, diria ambiente gótico. Meu instante de contemplação foi interrompido por sua fala rouca e ameaçadora:

— Tire isso!

— Tirar o quê?! — um arrepio percorre minha espinha diante das minhas poucas possibilidades para o que ele está exigindo.

— Essas vestes! — Agora sim, tremi na base e não foi de um jeito que eu gostaria.

— Você enlouqueceu?! Por que eu faria isso?! — indaguei pondo alguma distância entre nós, mas ainda não o suficiente para me dar alguma segurança. Afinal estou lidando com uma cobra surtada.

— Porque não gosto do que está vestindo…

— Você não tem que gostar de nada, vá se tratar…esqueceu de tomar o remédio hoje?! Não vou tirar nada… — não tem como manter a calma diante de tanto absurdo.

Ele encurta a distância entre nós à medida que caminho para trás, até esbarrar em algo! A partir daí, as coisas acontecem bem rápido, sinto uma brisa passar por meu corpo assim que sua cauda avança e no segundo seguinte, meu vestido é estilhaçado. Por reflexo, cubro os peitos com as mãos e o olhar insano desse desgraçado desce para minha calcinha.

— Até isso?! Como ele ousa?! — Do que inferno esse estúpido está falando?! Cometi algum crime sem saber?!

Não tenho tempo de reagir quando sua cauda se enrola em minha cintura, erguendo-me do chão.

— O que vai fazer?! Olha eu tenho gosto péssimo…me deixa ir e não apareço mais na sua frente…— É claro que vou levar Vāyu comigo, essa cobra insana não tem a menor condição de cuidar dele. Mas ele não precisa saber, não é?!

— Eu não vou te devorar…só quero tomar isso…— a voz dele é apenas um fio agora. Vejo quando suas unhas se tornam pequenas garras afiadas, com as quais ele estraçalha minha calcinha e arranca do meu corpo.

— Seu desgraçado, o que você quer de mim?! — grito tentando me cobrir como posso.

— Você está proibida de aceitar presentes de outros machos! — ele parece muito zangado ao dizer isso, mas é ruim de eu deixar homem me dizer o que devo ou não fazer e o cobrão aqui não entra na conta.

— Quem você pensa que é para me exigir isso, cobra imbecil?! Eu não te conheço, não temos parentesco algum… e você agora me deve roupas novas! — esperneio sobre seu agarre e ele me traz bem próximo do seu rosto.

— Não temos parentesco, ainda…— fala bem próximo da minha orelha me trazendo ainda mais próximo do seu corpo. Uso as mãos para tentar afastá-lo, o que só serve para irritá-lo mais.

— Se não me soltar agora, vou arrancar tua pele e fazer roupas novas para mim… — Ameaço e vejo um sorriso sinistro surgir em seu rosto.

— "MINHA". — essa simples palavra mais parece uma ameaça.

O rosto dele está muito perto do meu, ele então desvia para o meu ombro e eis que o pânico latente em mim, se torna astronômico quando sinto sua mordida em meu ombro. Uma dor aguda se espalha gradativamente como uma erva daninha por meu corpo, junto com uma letargia. Esse bastardo está injetando veneno em mim. Conheço bem essa sensação, porque já fui picada por uma cobra peçonhenta. Sou atingida por múltiplas sensações. Meus peitos estão esmagados contra seu tórax. Nunca tive esse contato pele a pele com um homem e é bem estranho que aconteça nesse tipo de situação bizarra. Suas presas saem da minha carne e sinto sua língua lamber a ferida, me causando arrepios…eu classificaria como bons arrepios.

Então, bruscamente ele se afasta e seu olhar parece perdido ao me encarar.

— Eu sinto… — ele não completou o que ia dizer.

Fui colocada na cama e o vi sair rapidamente do quarto, como se fugisse da cena de um crime. Tentei me erguer, mas meu corpo parecia pesar uma tonelada. Só agora me dei conta de que ele havia me coberto com um tecido preto com um brilho metálico.
Outra vez me forço para cima, porém sem sucesso. Meus membros não me obedecem e tudo que consigo fazer é me aninhar sobre aqueles travesseiros e cobertas com cheiro almíscar…e esperar a letargia passar ou morrer pelo veneno…

Que merda! Saí da Terra para vir morrer num planeta estranho… não basta ter levado um par de chifres?!

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O REI DE NAGAH: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora