O TRAIDOR

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A foto acima pode ser temporária, depende Nem vou dizer nada...

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Kroḍha

Antes…

Há coisas que devem ser reconhecidas pela importância que têm. Sou um Nagahriano que leva a sério a tradição de seus ancestrais, por conta disso, sempre fui resistente à ideia de cruzar nossa espécie com outras. Pior ainda com seres tão inferiores quanto os humanos. Em algum momento da nossa expansão espacial, meus antepassados chegaram até eles e foram recebidos como seus deuses, então como pode deuses se misturarem com meros mortais?!

Então, fui contra meu irmão desde o princípio; não pude tolerar seus ideais modernos demais. Como um rei pôde se rebaixar indo até um planeta medíocre atrás de fêmeas?! E ainda teve que passar por toda aquela humilhação com o Ceifador de Mundos. A única coisa boa, é que ele o pegou num bom estado de espírito e conseguiu uma aliança, do contrário, teria perdido a própria vida. 
Sempre achei que poderíamos buscar meios tecnológicos de fazer nossas fêmeas dar mais crias, mas tudo, nesse sentido, falhou; a natureza não está ao nosso favor.

Por outro lado, a colônia com fêmeas humanas já está prosperando e não faz nem tantos sóis assim. Temos tido uma alta taxa de natalidade entre elas, o que tem deixado seus companheiros satisfeitos, além de superprotetores. Até aí, fui perfeitamente capaz de me conter; mas, quando mesmo depois do que aconteceu na Terra, meu irmão resolveu comprar uma humana e esse quase seu fim, acabou minha tolerância. Se o deus Naga não tivesse se compadecido, ele seria poeira cósmica hoje.

Por muitos ciclos liderei a caçada à humana traiçoeira que o queimou vivo, tudo que eu desejei, enquanto Ananta estava entre a vida e a morte, era encontrá-la e tirar sua pele com minhas próprias mãos. Porém, a bastarda conseguiu se ocultar dos meus guardas, o que significa que um dos nossos a ajudou; através do DNA do meu irmão em seu ventre, podíamos rastreá-la, contudo ela se tornou indetectável em determinado trecho da caçada e somente um Naga poderia suprimir a sua presença. A questão é que nunca conseguimos descobrir o maldito traidor.

Tempos depois, Ananta passou a sentir a presença de seu DNA novamente e foi quando encontraram o filhote e a humana chamada Lya, numa parte remota de nossa densa floresta. Até então, acreditei que ela seria enviada à colônia para que os machos a cortejassem; não julguei que, não só meu teimoso irmãozinho a manteria no palácio, como também surtaria com um guardião por causa dela. 

Meus esforços para arranjar uma noiva qualificada para ser rainha estavam todos "indo por água abaixo". Como ele podia ser tão imprudente?! Para piorar, assim que vi como a sua cria mestiça é semelhante à mãe traidora, quis tirá-lo do palácio, mas depois de tudo, seu pai é um sentimental.

Assim sendo, foi um encontro previamente anunciado pelo destino, quando encontrei o pequeno e a humana na mesma ocasião; nunca imaginei, em meus milhares de ciclos de vida, que uma fêmea se tornaria tão animalesca por uma cria que não lhe pertence. Chamá-lo de bastardo foi o estopim para torná-la irracional ao ponto de me atacar, foi aí que descobri que Ananta foi muito mais longe: ele a havia marcado, tornando-a sua companheira. E mais que isso, ela não é uma simples companheira, mas uma predestinada de alma, pois somente elas conseguem absorver a força da união do parceiro para se defender.

Confesso que fiquei muito surpreso. Predestinadas são citadas ao longo da nossa história, porém são raridades; é quase como o nascimento de uma estrela. Ainda que ela tenha um temperamento explosivo, sei que não machucaria meu irmão, o que me tranquiliza. Também, não é à toa que se afeiçoou a sua cria; a ligação é tão natural quanto respirar. Nem acredito que vivi suficiente para presenciar um evento dessa magnitude.

— Como você está?! — Ananta aponta os machucados em meu rosto, após estar muito disperso para me dar atenção.

— Só com o orgulho machucado! — Rio da situação e ele me encara com seu semblante sério, obviamente sem entender minha manifestação de humor.

— Sorte sua eu ter aparecido à tempo… 

— Aposto que sim! — Concordo, embora saiba que pela inexperiência da fêmea, eu conseguiria contornar a situação — Como ela está depois de ouvir o " canto da serpente"?!

— Ainda dormindo! Acho que exagerei! — ele suspira aparentemente cansado. 

Recitar o cântico do deus Naga é sempre exaustivo. Requer muita energia! Mas são eficientes para acalmar fêmeas quando se tornam irracionais, o que é bem incomum, desde que nos tornamos civilizados. Lya parecia uma forma primitiva.

— Você é um macho agraciado pelo deus Naga com sua predestinada, por que não parece feliz?! — Pergunto.

— Essa frase em sua boca é, no mínimo, estranha! — Ele tem razão, definitivamente não é algo que eu falaria antes da surra que levei. — É complicado, Kroḍha! Nunca acasalei realmente com a fêmea…apenas a marquei num momento de fúria! — não acredito no que estou ouvindo.

— Você encontrou a escolhida de sua fera interior e ainda não se uniu a ela?! E ainda se atreveu a marcá-la sem seu consentimento, é isso?! — Questiono muito sério, ainda não conseguindo acreditar no quão estático Ananta parece diante de uma situação grave.

— Basicamente isso… — ele admite — Mas isso não deveria ser motivo para você mudar tanto em relação a ela…

— É uma predestinada…ela é uma em centenas de milhões, sequer éramos nascidos quando um evento assim ocorreu…como eu não mudaria?! A fêmea já não é uma simples humana e você sabe disso! — Acabo me indignando com o pouco caso que ele está fazendo para um assunto tão importante e que diz respeito a todos.

A fêmea é como um amuleto de bons presságios enviado pelo nosso Deus ao seu povo e esse tolo se comportando, esse tempo todo, como se não soubesse?! Pior ainda, não me disse nada!

Subitamente, uma batida na porta chama nossa atenção.

— Entre! — falo e a porta da sala de reuniões range, deixando passar uma figura tremente. Não é a serva que cuida do filhote do rei?!

— Majestade, o príncipe não está em seus aposentos. — ela fala sem rodeios.

— Deve estar com Lya, em seus aposentos! — Ananta sugere.

— Não, não está! Ela também sumiu! — explica e percebo a agitação do macho em minha frente — Os guardas não a viram sair das dependências do palácio! É como se tivessem evaporado! — Completa, temerosa.

Ouvindo isso, meu irmão se levantou abruptamente e saiu furioso da sala, indo direto para os aposentos da fêmea e depois do filhote, como se quisesse constatar por si mesmo que não estavam mais lá.
Segui-o de perto, sabendo que não tinha como a fêmea e o filhote saírem do palácio sem serem vistos. 
Ordenei aos guardas que fizessem uma varredura pelo perímetro, porém nada foi encontrado. Todas as naves de passeio permaneciam no pátio, portanto ela não fora a lugar algum com elas.

— Kroḍha, a passagem secreta… — Ananta fala após andar inquieto pelos corredores.

— Ela sabia dela?! 

— Não tem como, somente nós e o guardiões sabemos dessa passagem de segurança…e mesmo que ela soubesse, não conseguiria passar pelos túneis sem ajuda externa. Alguém levou minha fêmea e meu filhote…maldição! — ele soca a parede à sua frente e realmente entendo o que está sentindo. Queria poder protegê-lo de mais esse golpe.

Espera…

Os guardiões?! 

O traidor é um guardião!

Pelo deus Naga…!

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O REI DE NAGAH: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora