TEMOS UM ACORDO

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Segundo capítulo de hoje!

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Rei Ananta

Não estou tendo bons sonhos; retornei ao dia em que tudo à minha volta estava pegando fogo e àquela dor excruciante. Subitamente sou chamado de volta à realidade ao sentir dor em meu braço. Abro os olhos, um tanto, em pânico por lembrar da sensação de ser queimado vivo.

— Vai continuar aí babando em cima de mim ou quer outro beliscão?! — A fêmea me olha com uma expressão brava e junta a pele do meu braço com os dedos e a retorce, causando outra fisgada.

Só então percebo que estou praticamente deitado sobre ela. Minha cabeça em seu ombro e uma das minhas pernas jogada por cima das suas. Afasto-me rapidamente e ela se senta com a mão no peito.

— Graças a Deus…você é pesado pra caramba! Quer me matar sufocada, cobra idiota?! — posso apostar que ela está me insultando.

— Eu não ousaria…

Ela olha para as roupas que está vestida e então para mim.

— Foi você?!

— Sim! Não me falou que eu te devia roupas novas?! 

— É verdade! Por isso, não irei agradecer, você já estava devendo! — É estranho que ela não esteja brigando depois de tudo.

— Concordo! Ali tem mais roupas para você! — aponto as que deixei no suporte. — Aceite como pedido de desculpas pelo que fiz antes!

— E você dormir em cima de mim faz parte do pedido de desculpas?! — uma ruga se forma entre suas sobrancelhas enquanto me encara.

— Eu sinto muito! Mas dou minha palavra que não fiz nada de que pudesse me envergonhar depois! — digo diligentemente, minha fera me fazendo parecer um felino fofinho da Terra.

— Hum…sei! — ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha — Como vamos resolver nossas diferenças?! Sejamos práticos…

— Você aceita ser minha companheira?! — Precipito-me e ela me olha assustada — Digo, ficar próximo para cuidar do Vāyu…— dou meu melhor contra-ataque. Sei que isso não é totalmente verdade e que sem saber, ela estará se atrelando a mim como minha companheira. Mas, uma coisa de cada vez.

— Sério?! — seus olhos brilham ao me ouvir e é aí que percebo que seu apego por meu filhote é real. Que fêmea ficaria tão feliz assim por poder ficar perto de uma cria pela qual não tenha apreço?!

— Eu não brincaria! — afirmo olhando-a nos olhos. Realmente não tenho mais a intenção de afastá-los, pelo contrário, essa proximidade me ajudará a conquistá-la e é tudo que meu "eu interior" deseja.

— Parece razoável, mas tenho duas condições… — as palavras estalam em sua língua, fazendo um som bonito ao final.

— O que você quiser! — a interrompo.

— Primeiro: você terá que se cobrir quando se transformar e estivermos próximos, não sou obrigada a ficar olhando seu pau balançando pra lá e pra cá. — aponta minha nudez. Isso não será problema de qualquer maneira — Segundo, você não vai mais me intimidar ou dizer o que devo ou não fazer, temos um acordo?!

— Sim! — Bato a mão no peito em sinal de juramento, afinal não está sendo pedido nada demais.

— Ótimo! Temos um acordo! — ela estende a mão para mim num cumprimento humano que passei a conhecer bem. Aperto sua palma delicada e então ela se levanta. — Ah, só mais uma coisa…

— O quê?! — questiono curioso assim que ela se vira para mim.

— Aproxime-se! — ela pede e venho mais para a ponta da cama — Mais…— chego um pouco mais e antes que eu possa processar a informação do que está acontecendo, ela se precipita para o meu pescoço e me atinge com os dentes. E que mordida forte ela tem! O ataque dura alguns segundos apenas e ela se afasta com um meio sorriso nos lábios — Agora estamos quites! Nunca mais me morda! Agora você já sabe que isso dói…— diz passando a mão na boca e sai apressada.

Essa fêmea entende o que acabou de fazer?! Duvido muito! Mesmo sob pretexto de se vingar do que lhe fiz anteriormente, ela acabou de me marcar também, como sendo seu macho. Que complicação! Tudo que desejei foi chegar num ponto aceitável que pudesse acalmar minha fera, então ela faz isso, me fazendo voltar à estaca zero. Novamente meu "ser instintivo" está à deriva, só esperando para assumir o controle e reivindicá-la.

Olhando em volta, percebo que ela não levou as roupas que lhe dei, então me ergo para pegar e levá-las ao seu encontro. Nesse instante, ouço o barulho sutil de algo caindo no tapete e ao me abaixar para pegar, fico muito surpreso. É o que chamamos de lágrimas de Nagas. Sempre que saem lágrimas dos nossos olhos, elas se solidificam em pequenos cristais. Exatamente como o que tenho em mãos. Sei perfeitamente que outro Naga não se atreveria a entrar aqui sem permissão, então essa lágrima é minha, o que me leva à seguinte questão: quando chorei?! Não recordo um momento sequer, o que me leva à conclusão de que o fiz dormindo, mas quando?! Se foi quando a fêmea estava aqui, ela me julgaria um fraco?!

De qualquer forma, melhor não pensar muito sobre isso. O que está feito, está feito! Pego o pacote, me transformo e deslizo atrás dela. Ao longe vejo-a cantarolando, indo na direção dos aposentos do meu filhote. Vejo que ela está calçando as sandálias feitas com a pele de Armet; agora sim, isso é apropriado. Só serve mesmo para ser pisado por minha fêmea. Até rio disso.

— Está me seguindo, senhor cobrão?! — ela fala assim que percebe minha presença, mas sem parar de caminhar, nem mesmo me olha. Obviamente sentiu minha presença, o que é uma consequência da marca esponsal. Estou certo que haverá mais mudanças, mas deixarei que descubra sozinha e aos poucos. É melhor não amedrontá-la durante o processo.

— Você esqueceu isso! — estendo-lhe o pacote.

— Não falei que aceitaria… — ela me olha de esguelha.

— Talvez eu deva ofertar para outra fêmea…— é claro que estou apenas testando o poder do vínculo entre nós.

— Me dá isso…— ela toma das minhas mãos — Por que quer dar para outra, se já me deu?! Isso é contra as regras de presentear… — É como pensei, o vínculo tem efeito tanto nas fêmeas da minha espécie como na dela. E mesmo não sabendo do que se trata, ela agiu marcando território, o que me deixa extremamente satisfeito. — Obrigada! — agradece.

— Só agora me dei conta de que não sei seu nome…— falo ao me recordar disso e ela faz uma careta de quem não gostou do que ouviu.

— Sério?! Até dormimos juntos… — seu humor parece oscilar e suas faces ficam vermelhas — meu nome é Lya…Ananta, não é?!

— Então já sabe?!

— Ouvi por aí! — fala parando diante de uma porta — Vai entrar?! — fala empurrando-a.

De súbito, um pequeno vulto corre e se choca contra ela.

— "Man", Vāyu com saudade!

— Eu também estou com saudades! — afirma apanhando-o no colo — Você tem se alimentado direito, amorzinho?! Parece mais magrinho! — fala levantando seus bracinhos e avaliando.

— Lya…oh, saudações, majestade! — a serva se assusta ao me ver ali e faço um sinal para que prossiga. — Desde que acordou ele tem se recusado a comer…queria vê-la, porém não a encontramos em lugar algum…

— Ah, pois já estou de volta e não sairei mais de perto do meu bebezinho! Agora você vai comer sua refeição todinha. Entendeu, mocinho?! — o modo carinhoso como ela fala com ele faz-me sentir o peito aquecido.

— Vāyu com fome…

Ela ri. Porém seu sorriso morre no rosto assim que seu estômago ronca.

— Bom, acho que você também está com fome! Sua barriga está dando trovoadas. — é uma provocação, o suficiente para ela me fuzilar com o olhar. Acabo rindo.

— Sua pele é tão tentadora, cobrão! — a ameaça está nas entrelinhas e no seu olhar.

Posso viver com isso, minha fêmea!

O REI DE NAGAH: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora