A FERA EM MIM

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Eis a versão dos fatos pelos olhos do Cobrão.

Se restar dúvidas, me perguntem.

Votem e comentem!

Beijos! ❤️🥰😘😍
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Rei Ananta

Ao me aproximar de Armet, tudo que povoa minha mente é como o quero agonizando diante de mim. Minha vontade é desmembrar esse maldito transgressor. Mas me detenho assim que sua companheira se refugia atrás dele. Somos machos extremamente protetores e territorialistas e mesmo ela sendo a fêmea de outro, não me arrisco a machucá-la enquanto o esmago. Ainda sou capaz de sobrepujar meu instinto assassino.

— Seu bastardo, tenho sido muito generoso com você! Uma fêmea não é o bastante?! Você também quer tirar uma debaixo das minhas vistas?! — Armet se encolhe ante minha fala.

— Não é o que está pensando… — ele tenta se explicar, o que só serve para me irritar, me fazendo ameaçá-lo com minha cauda.

Nesse momento, percebo que a minha humana quer escapar, coisa que não vou permitir. Ela teve a ousadia de vestir a pele de outro macho, como posso tolerar uma afronta dessas?!

— Você vem comigo…

— Você está maluco?! Não vou a lugar nenhum…

Ela grita comigo e não conto estória, enlaço-a pela cintura e a tiro dali. Lidarei com o guardião noutra ocasião.

— Me põe no chão sua cobra estúpida! — brada enraivecida. Sequer me importa seus protestos. Tudo que desejo é arrancar essa roupa dela, mas não no meio de todos.

E ela continua a gritar por ajuda, porém ninguém se atreve a interceder. Arrasto-a para os meus aposentos sem me importar com os olhares direcionados a nós.

— Tire isso! — exijo assim que a porta se fecha e a coloco no chão.

— Tirar o quê?! — ou ela não entende o que estou pedindo ou se faz de desentendida.

— Essas vestes! — aponto.

— Você enlouqueceu?! Por que eu faria isso?! — Ela fica fora de si e eu também não estou nos meus melhores dias. Há uma tempestade cósmica acontecendo no meu interior, nesse exato instante, o que faz meus fluidos estarem quase a ponto de ebulição.

— Porque não gosto do que está vestindo… — não tem como eu gostar, afinal é a pele trocada por aquele macho bastardo. Ele teve a ousadia de oferecer isso a ela…que desgraçado! Isso é muito íntimo, só se oferta para as companheiras ou aquelas que cortejamos. Se ele pensa em torná-la sua, está com muita vontade de encontrar seus ancestrais no pós-vida.

— Você não tem que gostar de nada, vá se tratar…esqueceu de tomar o remédio hoje?! Não vou tirar nada… — nunca que deixarei ela ficar com essas vestes. Nem sob meu cadáver. Sinto a fera dentro de mim brigar para se libertar com essa negativa.

Encurto a distância entre nós e ela se afasta.  Se ela não quer tirar por vontade própria, eu mesmo o farei. Uso a ponta da cauda para rasgar o que a cobre, é então que percebo que até a sua roupa de baixo é feita da pele do maldito.

— Até isso?! Como ele ousa?! — Meus instintos rugem  ainda mais alto, então prendo-a novamente, elevando-a do chão.

— O que vai fazer?! Olha eu tenho gosto péssimo…me deixa ir e não apareço mais na sua frente…— ela acha que sou um selvagem?!

— Eu não vou te devorar…só quero tomar isso…— saliento minhas garras, algo comum em minha espécie e as uso para rasgar o tecido medíocre que cobre sua intimidade.

— Seu desgraçado, o que você quer de mim?! — ela se cobre com as mãos, o que de certa forma me causa incômodo. Não a quero se escondendo de mim.

— Você está proibida de aceitar presentes de outros machos! — exijo…ela só pode usar aquilo que eu lhe der…somente a minha pele terá a honra de cobrir sua nudez.

— Quem você pensa que é para me exigir isso, cobra imbecil?! Eu não te conheço, não temos parentesco algum… e você agora me deve roupas novas! — ela se contorce sobre seu agarre e a trago  bem próximo do meu rosto. Sua respiração está ofegante e quente.

— Não temos parentesco, "ainda"…— sussurro em seu ouvido, fazendo nossos corpos quase se tocarem.

— Se não me soltar agora, vou arrancar tua pele e fazer roupas novas para mim… — imaginá-la usando minha pele me traz um sentimento possessivo. Eu sou o seu macho.

— "MINHA". — A palavra estala em minha boca, totalmente sem controle.

Meu instinto se sobrepõe à razão e meu corpo ganha vida própria quando a subjugo, envolvendo meus braços ao seu redor e mordendo o espaço entre seu ombro e pescoço, marcando-a para que todos os machos saibam que ela é minha e que qualquer um que se atrever a chegar perto dela, eu irei matá-lo. Injeto uma pequena quantidade do meu veneno, como no processo de acasalamento…

Não, espera…Acasalamento?! Pelo deus Naga…o que estou fazendo?!

Afasto-me bruscamente quando a realidade me atinge.

— Eu sinto… — sou incapaz de formular um pedido de desculpas válido. Como pude ser tão insano?! Acabei de marcar uma fêmea que não me pertence.

Céus! Por que fiquei tão fora de mim ao vê-la vestida com a pele de Armet?! Isso não deveria me importar de qualquer forma…ela pode ter o macho que desejar. Mas o simples pensamento de vê-la em outros braços me fez desejar tomá-la agora mesmo, minha fera clamava por isso, mas não sou o tipo de macho amarrado por instintos. O que mudou?!

Antes que eu fizesse uma outra temeridade, coloco-a na cama e cubro seu corpo nu, saindo dali imediatamente.
Ninguém se interpõe em meu caminho quando saio do palácio furiosamente e me jogo no lago, nadando para o mais distante que consigo ir. Meus instintos fazem meu peito doer, exigindo que retorne e dê assistência à minha fêmea.

Minha fêmea?!

Eu realmente enlouqueci por estar pensando assim. Ela não é minha, tento me convencer quando nado ainda mais fundo nas águas geladas. Já ouvi sobre lendas dos meus ancestrais, quando a fera interior era quem escolhia a sua companheira predestinada, porém foram fatos que aconteceram muito antes de nos tornarmos a civilização que somos hoje. Não senti sequer uma fagulha disso ou por Lígia ou pela fêmea traidora.

Eu precisava de respostas, o que me levou à caverna sagrada. Ela é o testemunho escrito de todas as gerações antes de mim. Eu não havia retornado ao lugar depois da minha transformação. Tudo permanecia igual e intocado, nem mesmo o tempo fora capaz de danificar uma pedra do lugar. Adentrei as câmaras mais profundas, onde os sânscritos preenchiam as paredes iluminadas por pedras de luz incrustadas, no teto abobadado.

Haviam várias câmaras ali; fui percorrendo uma por uma, até chegar na que tinha os sânscritos referentes a reivindicações de companheiras. Fiquei paralisado ao ler uma parte que dizia que  nenhuma fêmea deveria ser marcada contra sua vontade, pois se não for capaz de se vincular ao macho que a reivindicou, ambos seriam amaldiçoados pelo deus Naga. Ela morrerá e ao macho transgressor seria negado o pós-vida.

A maldição foi uma forma de controlar os machos com instintos primitivos. Enquanto se deixavam dominar, costumavam cometer atrocidades com as fêmeas objeto de seu desejo. A marca esponsal não podia ser algo unilateral, deveria ser consentindo pela escolhida, uma vez que carregar a simbologia do parceiro a impediria de optar por mais de um companheiro. Por outro lado, feras despertas são muito leais e possessivas com suas escolhidas, podendo confrontar o ser vivente que habita para tê-la, pois nem sempre ambos concordam com a escolha.

Agora sobre a punição, não é uma punição sem sentido?! Por que eu me incomodaria com a morte daquela encrenqueira?! Quanto ao pós vida, sequer penso nisso, quando tudo que desejo é vingança.
Esse simples pensamento subversivo fez minha fera rugir em desaprovação.
O que há comigo?! Uma fera desperta não é algo que tenha acontecido nos últimos milênios. Há apenas registros disso nessa caverna.
Talvez esteja ligado à minha última transformação.

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O REI DE NAGAH: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora