51. O sorriso na moldura

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🎶E as lembranças ficam presas

Na moldura de um retrato.🎵

Mari se desvencilhou com cuidado e carinho dos braços de Sheilla, levantando nas pontas dos pés para não acordá-la. Seu abdômen latejou. No banho morno que tomou poucas horas antes, ele até ficou confortável. Ela firmou-o com a mão sobre o adesivo. Soltou um palavrão mental. A noite puxada com Sheilla a tinha piorado, e muito.

—Deus meu, que dor insuportável. —Ela pensou numa careta, mas logo  sorriu ao lembrar da noite que elas  tiveram.
Doer, doeu, mas valeu e eu quero mais. —A loira sorriu largo.

Olhou para o corpo moreno nu, era a mulher mais linda do mundo inteiro, e apesar dos pesares, dona de todo seu amor. Sheilla tinha o semblante tranquilo e satisfeito, cabelo totalmente embaraçado.

—Amo você, Sheilla, sua gostosa do cacete. 

Ela pensou, e desistiu de morder o bumbum da oposta e cobriu-a, já que estava frio e ela tinha um objetivo diferente lá fora.

Mari vestiu-se. Depois, abriu a porta e saiu devagar. Não antes de ter pego algo na bolsinha que trouxe. Tinha conseguido acordar antes de Tererê. A loira dirigiu-se à cozinha. Cada cantinho ali, tinha ela, sua avó de coração. Torceu para tudo continuar guardado nos mesmos locais, e estava.

Mari preparou o café, conseguindo que saísse como a Dona Terezinha gostava, forte e não tão sem açúcar. 

A gatinha da casa, olhava intrigada a intrusa loira mexendo agora nas porcelanas brancas com florzinhas de Tererê, antes, a tal loira "mexia" na neta dessa.
Mari se agachou como a dor permitiu e disse baixinho —Vem cá, amorzinho. Já me desculpou? "quiança" não pode ver aquilo, vê se esquece tá"?

A gatinha foi. Gatos dificilmente obedecem quando chamados. Mas isso nunca valeu para Mari Steinbrecher, ela os chama, e eles simplesmente vão. Qualquer animal. Com o chamego, a cada passo de olhos azuis, a gatinha de olhos iguais seguia-a, enroscando-lhes nas pernas.

Pronto. Uma rosa amarela  arrancada por ela, enfeitava o pires com a xícara que tinha em sua mão. E claro, não podia faltar, um bibelô de porcelana, que sempre que podia, presenteava Tererê, e ela os colecionava. Não foi o que mais a encantou, pois escolheu com muita pressa em Bauru. 

Mari sabia que apanharia com certeza por arrancar a flor daquela senhora, mas valeria a pena.
As rosas amarelas significam os raios do sol, o ouro, a energia, a prosperidade, a amizade, o respeito e a gratidão. Era Marianne para Terezinha .

A porta do quarto estava destrancada. Mari entrou. O cheiro dali era de refúgio que só as avós têm. Tererê gostava do famoso creme de morango com champanhe da Victória Secrets. Era o cheiro dali.

Já há muito tempo, Mari queria fazer aquela visita, mas antes, ela não teria aguentado. E mesmo ali, naquele momento, já após  alguns anos, o nó em sua garganta ja dava sinal de que os sentimentos do passado pairavam sobre ela.

Olhou tudo em volta. Seus olhos azuis transbordaram. Lá estava, no lugar de sempre, o porta retrato de toda a vida, com o sorriso de Mari emoldurado bem à vista de todos. 

Terezinha brincava que o sorriso de Mari era raro pois era apenas para quem o merecia, e ela exibia com orgulho a foto de Mari feliz em sua casa.

O cheiro de café já tomava o quarto. Mari não quis correr o risco de assustar Tererê. Começou a chamá-la com carinho. Dona Terezinha estava voltada para a parede.

—Vó…—Chamou baixo, depois, mais uma vez. —Vó?

—Filha, por um instante sua voz me lembrou a Mari. Liga para ela agora. Quero falar com ela. Pode ter acontecido algo.

Between Us - SHARIOnde histórias criam vida. Descubra agora