70. Fugir ou pensar

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—Sis, mulher, tem certeza que precisa mesmo comprar essas coisas de mercado essa hora da noite? Achei que a gente ia parar, comprar coisas hiper calóricas, comer e desmaiar...cê não tá podre não? Eu tô só a capa—Raquel voltava do treino de carona com Mari, e saía com sacolas nas mãos, após insistir em ajudar a loira, numa parada dela, num supermercado pelo caminho.

Mari andava rápido e Loff saltitava atrás dela.

—Nem tá tão tarde assim. Cê vai lá pra casa e vou cozinhar pra gente.

—Mari, não sei se é uma boa.—Naturalmente, Loff pensou em Sheilla dar um piti quando soubesse, em seguida, lembrou-se da loira deixando claro que tinha apenas amizade com ela. Assim, Loff tentou mudar o foco, ela não queria insistir nessa conversa de ciúme onde não existia nada. —Está muito tarde, e estamos moídas, num outro dia talvez fosse melhor...

—Você vai pra casa sim. Pode dormir lá se quiser. Hoje quero comer penne, e não cozinho para eu sozinha. Cê sabe fazer brigadeiro?

Meu Deus do céu, dormir lá com essa mulher? Loff pensou rapidamente.

A central entrava no carro através da porta aberta por Mari. Reparou pela milésima vez no belo rosto de Mari Steinbrecher. Havia certa tristeza. A central de Bauru rebobinou o dia:

Mari, apesar de concentrada no treino de equipe, mostrou-se um pouco distante durante as pausas do treinamento durante a tarde no clube. A loira agitava os pés, tinha os olhos e pensamentos por vezes distantes e tocava as próprias cutículas com as mãos às vezes, como se as quisesse tirá-las à unha .

Raquel recordou do início da noite anterior, véspera de viagem de Sheilla, noite em que Mari lhes mandou mensagem pedindo pra fazer lhes o favor de comprar analgésicos, e posterior a isso, nos poucos segundos que esteve diante da loira, percebeu-a com cara de choro e os olhos bem tristes.

Talvez, Mari estivesse triste com a viagem de Sheilla, e não quisesse estar só em casa, assim, tão recente. Provavelmente, ela precisava de companhia.

A central do Bauru se deu por vencida e foi jantar e fazer companhia à Mari.

Já no apartamento, Marianne estava falante, barulhenta. Loff percebeu que tem bem em ir com ela. Falaram de últimas notícias e boatos do campeonato da Superliga, das expectativas e chances reais do clube. A partir de agora, Mari já iria uniformizada para as partidas. Em pouco tempo seria relacionada para as partidas.

Recusadas todas as tentativas de ajuda oferecidas, Loff, empoleirada numa cadeira, assistia a loira cozinhar com destreza. Ambas bebiam vinho rosé, o cheiro bom estava em tudo.

—Bem dizem que você é uma pessoa multifacetada e talentosa, Sis.

—Hum, modéstia à parte, eu me garanto numa comidinha, viu? —Mari lavava o pouco de louças que tinha sujado. —Requer dedicação né, Sis? Nosso tempo é corrido pra caramba, o processo é chatinho, tem de ir escolher ingredientes, comprar, depois ficar de pé uma pancada de tempo... e minhas costas doem pra cacete, pois os móveis são baixos, né? Então, se sinta especial. Valorize.

Loff sorriu. —É verdade. Claro que vou valorizar, sou doida por acaso? Ei, acho que vai chover né? Tanto relâmpago...

—Deu previsão sim. É bom, aqui em Bauru é um inferno de deserto, apesar que tempestades me pegam...

E o brigadeiro, sai ou não?

—Tenho até medo de fazer brigadeiro para tão "profissa" cozinheira! Pode ser do meu jeito?

—Lógico, como você é boba!

—Que delícia, você tinha razão! Cê se garante mesmo. Só que agora ficou meio contrastante...—Loff sorriu, já após o jantar, com uma tigela de brigadeiro de colher, enquanto Mari comia na própria panela, com uma grande colher.

Between Us - SHARIOnde histórias criam vida. Descubra agora