Capítulo 9 - Invasão

1.4K 204 33
                                    

1 mês depois | Sexta-feira, 22h31


Eu realmente não sei como isso aconteceu comigo. O que vem acontecendo, na verdade.

Se eu fosse escolher um emoji para representar a minha vida, seria esse: "🤡" — o palhaço.

E agora aquele cheiro característico está no meu apartamento. No meu quarto. Na minha cama.

Nem posso dizer que é ruim, e sim as circunstâncias para isso que são complicadas.

Mesmo que eu não admita em voz alta... É verdade que, para mim, é sempre fácil confiar nela. E eu não entendo o porquê.

Logo eu, que sou desconfiada até da minha própria sombra. Como posso confiar em alguém que mal convivi na vida?

E por que não estou assustada com isso?



XXX



Sexta-feira, mais cedo naquele dia, 14h15


Apesar dos pesares, as coisas até que estavam fluindo normal desde o episódio do ex-cliente biruta da minha advogada assistente. Sinceramente, se todos os meus casos sucedessem tranquilos como o de Freen, eu mal viria ao escritório.

Mas devo me manter atenta. Está fluindo fácil demais. No meu ponto de vista, mesmo não sendo criminalista, é preciso estar atenta de qualquer maneira porque as coisas podem estar tranquilas demais exatamente para que a pessoa não perceba, se desleixe, deixe brechas. Eu venho, então, orientando-a sempre, porque, até agora, não tivemos nenhuma notícia do atrevido.

O que me deixa com a pulga atrás da orelha, admito. Simplesmente sumiu ou se fez como se tivesse sumido. Preocupante. Porém curioso.

Alguém como Freen lidar com clientes barra pesada assim? É um tanto inesperado. Ela tem muita compaixão para com as pessoas, então penso que não combina muito com seu perfil. Mas muitos de nós aceitamos casos que não nos interessam para... bom... pagar as contas?

Não que eu me preocupe com dinheiro, realmente. Minha família é dona do escritório, vivem muito comodamente na Inglaterra, eu trabalho aqui, também vivo com muita comodidade por aqui. Mas muitas vezes tive que aceitar casos por questões estratégicas da empresa. Ah. No fim, é tudo sobre dinheiro mesmo.

Também nunca passei por situações em que fui perseguida nem nada do tipo. No máximo, a imprensa me acompanhou em algo, alguns "colegas" de trabalho, dependendo do caso em que eu estivesse inserida. Mas o que quero dizer é que nunca quiseram meu mal deste jeito.

Saindo disso, às vezes sinto saudade da convivência contínua com a minha família, mas também adoro a liberdade de viver como eu quiser, ser e estar onde eu quiser, quando quiser, apesar de eu sequer ser uma pessoa que sai muito ou é muito sociável. Gosto muito do meu lar e de uma rotina tranquila.

É até estranho se dar conta disso quando eu trabalho do jeito que trabalho. Mas sim. Eu sou uma pessoa "tranquila".

Eu gosto de dias assim: hoje é sexta-feira, todo mundo já mais relaxado porque em breve é final de semana. Estou no meu escritório, não há nenhuma reunião agendada hoje, posso trabalhar à vontade seguindo meu planejamento, sem interrupções ou interação humana.

Estou planejando o que farei essa noite, se preciso comprar mais ração para Bonbon, o que vou comer enquanto assisto a série XO Kitty que estou para ver há séculos e nunca consigo ver, ao passo que leio a documentação que Freen enviou mais cedo de um curioso caso que a diretoria pediu urgência, com bastante sigilo por sinal, de um spa especializado no bem-estar, terapia e relaxamento para "pares" de mulheres.

Avesso (FreenBecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora