[POV Rebecca]
Juro pelo Deus que está no céu que eu estava morrendo de fome, mas, ainda sim, engolia cada pedaço da pizza sem sentir o gosto, ainda insaciável, porque me sentia muito nervosa. Céus, que péssima ideia.
Estou tão desconfortável. Freen parecia bem, comia tranquilamente, olhando vez ou outra ao redor, em silêncio. Admito que o jeito que ela comia era meio engraçado. Talvez um tanto fofo. Parecia um coelho. Cada pedaço sendo mastigado de pouquinho em pouquinho, sabe? Não sei explicar. Mas era fofo.
Enfim, respirei fundo. Se eu não tirar essa tensão, não vou sentir o gosto da melhor pizza de Bangkok. E isso é inaceitável.
— Então. Como andam as coisas? — Tornei a questionar.
— Hm. — Ela engoliu um pedaço antes de falar. — Sobre...?
— Tudo, Sarocha. — Quase revirei os olhos. Mulher, só preciso de uma conversa. Senão vou morrer de nervoso aqui.
— Certo. Bom, do seu caso, conversei com aquela amiga minha, a Noey. Ela disse que vai falar com alguém que é especialista no assunto e me retornar pra seguirmos. Já abri o BO e estamos analisando mais coisas pros próximos passos, fazendo inventário de casos similares etc.
— E o spa? — Engoli em seco. Saber como estão lidando com meus problemas não foi a melhor forma de iniciar a conversa, confesso.
— Ainda estamos buscando alguém pra investigar ou se seguiremos somente com o que foi documentado. Sabe, tem algumas coisas que não batem...
Ela continuou a falar sobre, mas eu comecei a me sentir um tanto mal por estar pentelhando Freen sobre coisas do trabalho numa sexta-feira a noite. Ela que, ainda por cima, estava no apartamento da própria chefe. Nossa, que situação desgostosa para alguém, sinceramente.
Aprecio que tenha se oferecido para ficar, mas acho que nem eu me ousaria a tanto, seja quem for. Prefiro minha casa.
— ... Então essas coisas me intrigam. Por isso seria melhor alguém lá dentro pra analisar. Tem esses mistérios. De verdade, não esperava lidar com algo nesse nível, ainda mais sendo uma comunidade queer meio que secreta, da elite — comentou essa última parte até com um certo entusiasmo. Eu levantei uma sobrancelha.
— Queer? — repeti.
Freen parou de comer e ficou me olhando meio estática por alguns segundos. O garfo parado próximo a boca.
— Érm... É o Q da sigla... Sabe, LGBTQIAPN+?
— Ah — murmurei, mas pensei um pouco. — Mas é só de queers? Eu não entendi.
Freen pousou o garfo no prato e coçou a cabeça. Será que estou sendo muito incomoda? Acho melhor eu só dar um Google.
— Às vezes, "queer" pode ser usado pra meio que... incluir uma variedade grande de identidades de gênero. E de orientação sexual. Na verdade, é um dos casos de uso, mas... pode ter um significado diferente. Depende da pessoa — explicou bem pausadamente. Senti bastante cautela na sua fala.
Ficamos em silêncio por um momento, mas só porque eu estava absorvendo aquela informação mesmo.
— Isso é legal, pra falar a verdade — confessei. Freen tombou a cabeça ao lado como se fosse um cachorrinho. — É uma sigla grande, né? Uma grande sigla que busca representatividade... porque é minoria... Não soa irônico?
— Nem me fale. — Ouvi dizer baixinho, mas ela engasgou no instante seguinte.
Eu levantei com pressa e dei alguns tapas nas suas costas. Puxei seus cabelos para trás e continuei dando tapinhas, mesmo que aparentemente já estivesse se recompondo. Até que levantou uma mão e gesticulou para que eu parasse.
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Avesso (FreenBecky)
FanfictionEla carrega uma vontade inabalável de causar impacto no ramo jurídico e em qualquer situação em que estivesse envolvida. Sendo sócia e herdeira do mais prestigiado escritório de advocacia de Bangkok, mesmo com poucos anos de experiência, sua posição...