Capítulo 6 - Visitante

1.4K 208 51
                                    

Confesso que estou um pouco ansiosa com isso. Até porque isso não é lá muito comum da minha parte. Confesso isso também.

Mas também não é impossível. Sou só um pouco seletiva.

E por que parece que estou tentando me convencer de que está tudo bem? Não sei para que tantos pensamentos.

Apertei um pouco a alça da sacola dourada que eu carregava em uma das mãos enquanto olhava as notificações do celular. As portas do elevador se abriram nesse meio tempo e entrei. Richard, meu irmão mais velho, havia enviado uma foto de nós juntos com Bonbon, quando ele ainda era um filhote. Eu não consegui esconder o sorriso. Era a coisa mais fofa do meu mundo todo!

Até que lembrei de selecionar o andar que pararia e levantei a cabeça, também percebendo que não estava só no cubículo. E adivinhe.

— Olá — cumprimentou ela quando nossos olhos se cruzaram de fato.

Esse prédio tem, sei lá, quase cem andares. Não sei quantas pessoas vem e vão daqui todos os dias e usam esse elevador. Milhares, sabe? Mas é incrível a quantidade de vezes que esbarro com Sarocha aqui dentro.

— Oi — falei, meio sem graça.

O pior é que era um péssimo dia para encontrá-la. Porque eu estava ansiosa para fazer o que eu precisava fazer exatamente por causa dela.

Bom, que seja. Será assim mesmo.

— Toma. — Estendi meu braço e ofereci a sacola que segurava a ela. Sarocha me deu um olhar totalmente desconcertado, sem compreender o gesto. — Uma forma de compensação por aquele dia.

— Do que você tá falando? — questionou, confusa. Eu desviei o olhar, não respondi e continuei oferecendo a sacola até ela pegar. Sarocha, por fim, a segurou.

Fiquei ouvindo, meio estática, o barulho que fazia para tirar o que estava dentro da sacola. Jurava que ela não estaria no escritório por volta desse horário, então disse a mim mesma para subir mais cedo. Queria só deixar na sala dela e pronto. Agora vou precisar aguentar esse constrangimento...

— Nem pensar — disse. Eu me voltei a ela já um tanto raivosa com seu tom, até me deparar com o seu semblante. Sarocha estava deslumbrada, diria quase perplexa.

— Você não gostou? — Foi uma pergunta genuína.

— É da DIOR, Khun Armstrong — frisou ela. Eu não entendi. — São simplesmente lindos. Mas você quer que eu guarde pra alguém, é isso?

— Eu falei que era uma compensação pelo outro dia. Não é óbvio que é pra você? — Eu juro que não queria ser grossa, só não entendi por que tantas dúvidas.

— Isso não faz sentido nenhum — contestou. Eu já estava ficando irritada com essa negação. — De que dia você está falando?

— Do dia que me emprestou seus sapatos, Khun Sarocha — ressaltei da forma mais respeitável que pude. Meu Deus, parecia ser impossível não me irritar com ela mesmo quando estou tentando ser uma boa pessoa PARA ELA.

— Ah. — Ela finalmente entendeu. — Mas não posso aceitar, sinceramente. Isso é demais. Agradeço a consideração, mas não há por quê.

— Você realmente vai negar o meu presente?

Eu não estava crendo naquilo. Chegamos no andar do escritório. Saímos do elevador e de jeito maneira eu deixaria Sarocha ir sem aqueles saltos.

Sim, eu estava lidando com a situação como se ela estivesse cometendo um crime.

— Khun Armstrong, não me leve a mal... — começou olhando aos lados, como se fosse contar um segredo, mas apenas disse: — eu sou uma pessoa simples. Isso aqui é sofisticado demais pra mim.

Avesso (FreenBecky)Onde histórias criam vida. Descubra agora