Capítulo 6

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Eu tentava me concentrar cem por cento em todos os meus afazeres, mas naquele dia estava mais difícil do que o normal. Não sei explicar o que estava acontecendo comigo, porém, sei que nunca me senti assim antes.

A noite anterior com Dulce não sabia da minha cabeça, não sei dizer exatamente o que estava acontecendo porque eu simplesmente não conseguia entender mais nada que estava acontecendo em minha vida.

Olhei o relógio e vi que estava quase na hora do almoço, como não estava mais com cabeça para continuar tentando me concentrar, decidi ir para o restaurante que tinha na frente da empresa. Além de tudo, estava morrendo de fome.

Sentei-me na mesa que já estava habituado a sentar e fiz meu pedido de sempre. Peguei meu celular para responder Dulce que dizia estar cheia de coisas para fazer em sua empresa. Sentia um grande orgulho dela, mesmo não sendo muito próximos eu sabia o quanto ela se esforçava para um dia assumir a empresa de sua família. Todo o esforço que eu não dava a mínima, era tudo tão cômodo. Hoje vejo o quanto minha avó se orgulha de mim e o mais importante e mais legal, me sentir uma pessoa importante, que está a frente de uma grande empresa. Certamente nunca quis isso antes porque não havia experimentado e nunca pensei que diria isso, mas acho que nunca estive mais realizado.

O mais irônico de tudo é que estou vivendo tudo o que abominava.

— Christopher? — Ouvi uma voz feminina e levantei meu olhar para ver quem era.

A loira de cabelos ondulados me encarava sorridente.

— Bruna? — Sorri.

Ela assentiu e eu me levantei para dar um abraço nela.

Eu e Bruna estudamos na mesma escola praticamente a vida toda, Dulce também. Ela era um dos amigos que tínhamos em comum. Após o fim do ensino médio, ela foi embora para a Espanha estudar moda. Todos nós perdemos o contato com ela.

— Como você está? — Perguntei quando nos separamos.

— Estou ótima. Estou noiva e me caso no ano que vem! — Ela sorriu — Fiquei sabendo que você e Dulce se casaram.

— Sim! Parece até loucura, não?

— Sinceramente? Eu não fiquei nada surpresa.

— Sério?

— Sim. Eu sempre percebi que havia algo a mais entre vocês dois e que vocês praticamente fingiam ter aquele ódio todo para fugir do que realmente sentiam. O modo como você viviam discutindo sobre coisas completamente bobas escancarava que tinha algo a mais.

— É a primeira pessoa que me diz isso — Não pude evitar o sorriso que surgiu em meus lábios. A convidei para se sentar comigo a mesa e ela aceitou.

— Acho que eu era a única que via dessa forma, mas só comecei a pensar isso depois que ela ficou com Michael.

— Como assim? — Perguntei, franzindo o cenho.

Michael era meu melhor amigo quando eu tinha uns 14 anos.

— Você não lembra sua reação quando eu te contei que Dulce tinha ficado com Michael?

Franzi o cenho novamente e neguei com a cabeça, ainda mais confuso.

— Você ficou muito bravo. Tentava disfarçar, mas não conseguia. Me lembro que você tentou levar para o lado que seu amigo estava ficando com a menina que você mais odiava, mas eu sabia que você não era do tipo de pessoa que ligava para isso. Depois disso percebi o quanto você a olhava quando achava que não tinha ninguém te observando. Acho que você não sabia lidar com seus sentimentos.

Enquanto ela contava me lembrei sobre o dia em que isso aconteceu e tudo o que ela dizia realmente fazia sentido. No fundo eu sabia que o que realmente estava me incomodando era ela ter ficado com ele, mas quando fui tirar satisfações com Michael, disse que era um absurdo o meu melhor amigo ficar com alguém que eu tanto odiava. Tivemos uma briga feia e nunca mais nos falamos, no ano seguinte ele foi embora da escola. Tínhamos 14 anos na época em que isso aconteceu.

— Você realmente tinha razão, Bru. — Então comecei a contar para ela o que eu sabia sobre quando eu e Dulce começamos a ficar e sobre nossa história. Nunca vi alguém tão empolgada em ouvir uma história como Bruna estava naquele momento, pude perceber o quanto ela realmente torcia por nós na época da escola e o quanto estava feliz naquele momento.

— E os filhos, vocês pretendem ter?

— Sim, estamos planejando. Acho que muito em breve vem. — Sorri, mas quase não acreditava no que estava dizendo. O mais louco é que depois de ter contato com Ayla, isso já não parecia mais tão surreal para mim.

Afinal, o que estava acontecendo comigo?

Continuamos conversando e almoçamos. Quando terminamos, nos despedimos e eu voltei para a empresa. Não conseguia parar de pensar na conversa que tive com Bruna e o quanto fazia sentido todos os sentimentos que eu tinha por Dulce antigamente. Tudo o que estava sentindo agora não era algo novo e momentâneo, mas sim algo que estava guardado a sete chaves. 

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