Capítulo 11

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Abri os olhos lentamente e senti a claridade incomodar. Não parecia estar em meu quarto. Olhei para o lado e Dulce não estava e eu também não estava deitado em uma cama de casal. Franzi o cenho, totalmente confuso.

— Dulce? – chamei, olhando para o outro lado e vendo minha avó sentada em uma poltrona com um livro na mão. Quando ela me olhou, arregalou os olhos e suspirou aliviada.

— Você acordou! Meu Deus! – ela se levantou rapidamente e apertou um botão que estava ao lado de minha cama.

— Dulce? – chamei novamente. Onde estava minha esposa?

O que estava acontecendo? Porque eu estava em um hospital?

— Calma, meu filho. O médico já vem – ela afagou meus cabelos.

Eu só queria entender o que estava acontecendo comigo e porque de uma hora para outra eu simplesmente acordei em um hospital. Será que desmaiei quando Dulce me disse que estava grávida? Mas o quarto em que eu estava não parecia ser tão simples.

— O que está acontecendo? Onde está Dulce?

— Dulce? – ela franziu o cenho me olhando – Já conversamos sobre isso.

O médico entrou no quarto e iniciou uma sessão de exames para checar os sinais vitais. Eu fiquei em silêncio para que ele concluísse todos os exames, mas por dentro estava me corroendo querendo entender o que estava acontecendo. Por fim ele apenas fez algumas perguntas para ver se eu me lembrava quem eu era e quem minha avó era. Quando ele finalmente saiu do quarto, dizendo para minha avó ter calma na hora de contar o que aconteceu, virei-me para ela esperando que começasse.

— Você saiu de casa dizendo que estava indo para a casa do Poncho. Se lembra disso?

Apenas concordei com a cabeça.

— Algum tempo mais tarde, recebi uma ligação dizendo que você tinha sofrido um acidente. – ela suspirou, antes de voltar a falar – Você entrou em coma, Christopher.

— Há quanto tempo estou em coma? – perguntei, sentindo um nó se formar em minha garganta.

— Três meses. Eu tentava renovar minhas esperanças todos os dias, mas quase já não acreditava mais em uma recuperação. É tão bom ouvir sua voz e ver que você está bem. – seus olhos se encheram de lágrimas e ela me abraçou, abracei-a também.

Minha ficha caiu assim que entendi tudo. Eu nunca vivi realmente tudo aquilo, o casamento com Dulce, a pequena Ayla, ser o CEO da empresa e ser pai. Tudo não passou de uma realidade criada em minha cabeça. Foi a primeira vez que senti vontade de chegar após a morte do meu avô, o baque da realidade me acertou em cheio.

— Onde está Dulce? – perguntei.

— Como assim, meu filho? – minha avó franziu o cenho.

— Ela veio me ver? Está bem?

— Ela dormiu aqui alguns dias porque não aceitava que eu passasse todas as noites aqui. Dulce está bem. – ela me olhou confusa, mas não perguntou nada.

Me lembrava dos acontecimentos perfeitamente e os sentimentos estavam aqui como se eu realmente tivesse vivido tudo aquilo. O problema é que a realidade era outra, Dulce não era apaixonada por mim, Alfonso e Anahi não estavam juntos e consequentemente Ayla não existia. Senti um aperto em meu coração ao assimilar que provavelmente eu nunca chegaria a vê-la novamente.

Talvez, também nunca mais conseguiria estar com Dulce tão intimamente como éramos. Senti a necessidade de desabafar com alguém, explicar tudo o que aconteceu comigo nesses três meses, mas sabia que aquele não era momento e não sabia ainda com quem conversar. Mas, pela primeira vez na vida real, eu preferia estar em uma outra realidade.

»»»

Graças a Deus eu estava bem. Não havia nenhuma sequela física, o médico disse que Deus com certeza me ajudou a não sofrer algo mais grave. Precisava agradecer por estar vivo e ter acordado.

As visitas foram liberadas após alguns exames necessários que foram pedidos pelo médico. Poncho foi o primeiro a me visitar, ele disse que estava muito feliz por eu estar bem. Nós sempre fomos muito amigos, ele era como um irmão para mim. Perguntei como estava sua vida e ele disse que estava na mesma, o que me fez lembrar de como ele tinha um olhar mais alegre quando estava com Anahí e Ayla na minha outra realidade. Pensei em perguntar sobre a Dulce, mas não faria sentido algum. Será que ela viria me visitar?

Depois, meus pais entraram e eu senti meu coração apertar me mostrando a saudade que eu senti deles. Não cheguei a vê-los em minha outra vida, não sabia como chamar aquilo. Quando eu era pequeno, Víctor não foi um pai muito bom e presente, ele costumava beber muito e passava o máximo de tempo que podia fora de casa, além de ser um pouco agressivo. Quando eu estava na fase da adolescência, ele decidiu que iria atrás de um tratamento para finalmente parar com a bebida, mas infelizmente eu não conseguia mais nem olhar em sua cara. Fui estudar fora e fiquei alguns anos sem vê-los.

Minha mãe sempre foi uma mãe incrível e uma grande guerreira. Eu sempre apoiei que ela pedisse o divórcio, não achava certo que continuasse vivendo assim, mas ela nunca quis. Eu era muito apegado a ela e quase não fui estudar fora apenas para não deixá-la sozinha, mas ela insistiu muito para que eu fosse.

Meu pai realmente mudou, se tornou um homem totalmente livre de bebidas alcoólicas e eu podia ver que não havia nem resquício do homem que eu conhecia. O problema era que eu simplesmente não conseguia mais enxergá-lo com outros olhos. Ele tentou de tudo para reconquistar minha confiança, mas sempre me esquivei.

Então, quando ele entrou no quarto e me viu acordado, pude ver o quanto estava sofrendo por eu estar em coma. Ele me abraçou junto com minha mãe e chorava tanto, de uma forma que nunca vi. Meu pai não chorava com facilidade. Ali eu vi que precisava dar uma chance a ele, a chance que eu não fui capaz de dar nem em minha outra realidade.

— Você está bem! – ela dizia mais para ela do que para mim, talvez para ter certeza de que eu realmente estava bem.

Os dois me abraçavam apertado, um de cada lado.

— Me desculpe por tudo, filho! Tive tanto medo de te perder e não ter a oportunidade de dizer tudo o que sinto, de conversámos francamente! – meu pai disse.

— Vamos ter tempo para conversar, pai. E eu estou bem, mãe. – eu disse tentando não chorar por ver o sofrimento deles.

Eu não me lembrava muito bem do acidente, só me lembrava de estar indo para a casa de Alfonso e de uma hora para outra tudo escureceu. Não sabia dizer o que aconteceu e não tinha vontade de saber naquele momento. Outra coisas estavam mexendo comigo de uma forma mais intensa, coisas que eu sabia que provavelmente nunca teria uma explicação.

Eles ficaram comigo até o horário de visitas acabar. Confesso que me senti frustrado por não ver Dulce, mas a realidade era essa e eu não podia esperar algo diferente de alguém que eu tratava mal. Será que ainda tinha tempo de mudar as coisas?

Estava ansioso para sair do hospital e voltar para casa. Não queria mais ser o mesmo Christopher de antes, não queria mais dar preocupações para minha avó. Muito pelo contrário, quero encher de orgulho, quero que ela me olhe com os olhos brilhando de orgulho, como vi naquela outra realidade. Deus me deu uma segunda chance, e eu não queria cometer os mesmo erros.

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