A Caçadora

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Fotos da Florence Pugh ruiva e com os cabelos mais curtos, porque eu gosto de imaginá-la como Ellie no meu Universo. 

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Pode até parecer ingenuidade da minha parte, mas estou realmente feliz por Ellie ter decidido ficar.

Sei o que ela disse. "Já estou arruinada". Quis dizer que, indo embora ou permanecendo, nada mudaria. Quis dizer isso num sentido ruim, eu sei, mas ainda assim me dá esperanças de que pode ter outro significado além.

Talvez Ellie não quis partir porque, apesar de quem eu sou e das coisas que fiz, ela me ama. Me ama a ponto de não suportar, assim como eu, a ideia de nos separarmos. Só que não pode admitir isso nem para si mesma depois da merda que eu fiz.

Eu nunca fui amada, é um campo novo para mim. Confesso que estou me adaptando a ideia. É muito bom, mas assustador. Principalmente porque parece que nos coloca uma certa responsabilidade. Sou responsável pelo amor que cativei, tal qual O Pequeno Príncipe nos ensinou. Então eu não posso errar com Ellie. Não novamente.

Estou determinada a ser o mais cuidadosa possível, a gerenciar cada maldito pensamento devasso da minha cabeça para impedir que as coisas terríveis que habitam em mim venham à tona. Terei toda a disciplina do mundo para nunca mais fazer nada que machuque Ellie, nem física nem emocionalmente. Eu quero ser perfeita - ou o mais próxima possível disso. Por ela. Para ela.

Modéstia à parte, sou uma criatura muito obstinada, focada nas coisas do meu interesse. Por falta de amigos, desde criança me mantinha ocupada com meus hobbies, como taxidermia e jardinagem. Quando eu realmente gosto de alguma coisa, fico obcecada, passo a estudar a respeito e me dedicar ao máximo. Foi o que eu fiz com Ellie desde o início, mas por um momento me deixei levar e me perdi. Isso não irá se repetir.

Tenho um caderno com todas as informações possíveis sobre Ellie anotadas, desde coisas que descobri na época que apenas a observava até pequenos detalhes que só passei a notar quando começamos a conviver diariamente. Sei todos os seus gostos em relação à comida, música, cinema, televisão, literatura. Conheço sua alma traumatizada e sei que ela conversa direto com a minha, mas não sei os detalhes cruciais de sua vida. Ellie nunca os contou para mim, e essas coisas não são acessíveis em redes sociais. Ninguém posta no Instagram uma foto com um texto sobre o grande trauma de sua vida. Ou pelo menos as pessoas normais não fazem isso.

Pronto. Já sei o que tenho que fazer a partir de agora: me dedicar a conhecê-la completamente, da maneira mais profunda. Quero saber todos os seus traumas, descobrir como ela ganhou cada cicatriz emocional que a impede de receber amor e de se sentir suficiente. Quero ajudar Ellie a curar - embora eu não acredite que a gente possa realmente se curar das coisas. Mas talvez a alcançar o nível máximo que alguém pode de uma vida feliz.

Eu quero fazê-la feliz.

Eu nunca me preocupei com a felicidade de ninguém, nem com a minha. Porque nunca pensei que fosse possível, para mim, ser feliz. Era um sentimento tão abstrato quanto o amor. Uma palavra que eu lia nos livros e ouvia por todos os cantos, mas que nunca me alcançou. Eu desconhecia a felicidade até tê-la em meus braços, até dançar com Ellie nas nossas festinhas, até ouvir sua gargalhada quando bêbada, até admirar seu sorriso no intervalo dos nossos beijos. O calor e a agitação em meu peito toda vez que ela me abraçava, como se sentisse segura comigo. Isso é felicidade. Isso é amor.

Eu conheço as duas coisas agora. Graças a Ellie.

Passei a deixar a porta de seu quarto aberta o tempo todo, tirando o estigma de prisão. Porque agora ela não é mais minha prisioneira. Pode sair quando quiser.

A Caçadora [ellabs]Onde histórias criam vida. Descubra agora