Epílogo

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Nunca pensei em toda minha vida que um dia encontraria a felicidade. Tampouco que ela seria duradoura.

Em uma piada insana do destino, encontrei essa felicidade através de meios incomuns. Por um sequestro que quase roubou o pouco de lucidez que me restava, mas que ao mesmo tempo me trouxe a luz no fim do túnel que eu precisava.

Provavelmente se Abby Anderson nunca tivesse entrado em minha vida, à essa altura, eu teria me suicidado. Sem querer ou de propósito com o excesso de álcool e comprimidos. Porque minha vida era vazia, sem sentido e todos que um dia amei haviam me abandonado. Mas não Abby.

Depois dos percalços que tivemos de percorrer para nos entendermos, chegamos a compreensão de que nos amávamos. E isso ia além dos nossos defeitos e das coisas terríveis que havíamos feito - especialmente ela.

Eu tive que perdoar e compreender muita coisa. Talvez eu não tivesse conseguido caso não descobrisse logo após aqueles filhos das putas tentarem me pegar à força que estava grávida. Mas quando eu soube que a semente de Abby, que a semente do nosso amor crescia dentro de mim, tudo mudou drasticamente.

Foi ali que eu percebi uma oportunidade, uma chance que eu deveria agarrar de ser feliz.

Nunca em minha vida imaginei que seria mãe, muito menos que a criança sairia dentro de mim. Mas nosso pequeno Kai saiu das minhas entranhas nove meses depois, em nossa fazenda, com o auxílio de Abby, que fez o parto sem nenhuma dificuldade, me acalmando o tempo todo e se certificando de que tudo daria certo.

E eu confiei nela. Eu realmente confiei.

E tudo deu certo.

Kai nasceu perfeito, grande, cabeludo e mal tinha rugas no rosto. Não parecia um recém-nascido. Era lindo e forte - como a sua outra mãe. Tinha seus olhos azuis, vi assim que ele os abriu de primeira, me encarando como se me reconhecesse.

Abby ficou ao meu lado e ao dele o tempo todo nos paparicando depois de cortar o cordão umbilical e limpar todo o quarto. Ela se fazia presente até demais, diferente das histórias que a gente cresce ouvindo dos pais. Não que ela fosse o pai exatamente, mas...

Nas madrugadas frias em que eu estava exausta, Abby se levantava para pegar o bebê chorão e se certificava de cuidar dele. Se o problema fosse fome, ela o me entregava para mamar, mas continuava acordada, pronta para levá-lo assim que ele terminasse. Ela não deixava que eu me sobrecarregasse e continuava fazendo todo o serviço da fazenda sozinha no meu resguardo de exatos quarenta dias em que sequer ousou me tocar, o que me irritou um pouco, porque eu estava subindo pelas paredes.

Eu queria transar. Sentia falta de ter seu corpo forte em cima do meu. Mas nós dormíamos abraçadas em todas as madrugadas. Ela sempre me aquecia, me beijava, me enchia de carinho e paparicos, como café da manhã na cama com flores colhidas do jardim e todas essas merdas românticas que nunca sonhei. E quando me dei conta, eu estava vivendo uma vida de sonhos. Um sonho que nunca ousei sonhar: ser mãe de família ao lado de alguém que me amava e respeitava.

Quando os quarenta dias passaram e fomos fazer amor, Abby se colocou sobre mim, entre minhas coxas, bem devagar.

— Ouvi falar que é muito doloroso para as mulheres que pariram fazer sexo depois do parto... — explicou, sempre cuidadosa, com seu olhar atento ao meu. — Não quero te machucar, então vamos fazer com calma e se doer, nós paramos.

— Ok, meu amor... Nem que for só com os dedos e a boca... nem que for só esfregando... Preciso sentir você, Abby... venha para mim... — a puxei devagar pelo pescoço e nos beijamos.

Ela me tocou com todo o carinho do mundo, sem pressa. Apertou meus mamilos e com certo fetiche, chupou um deles, provando meu leite. Achei estranho no começo, mas ao beijá-la depois eu nem liguei para o meu próprio sabor. Me sentia uma vaca leiteira - meio inchada e dando leite -, mas era para o bem do meu garoto, então...

A Caçadora [ellabs]Onde histórias criam vida. Descubra agora