Eu disse que nunca me apaixonaria pela minha sequestradora, mas eu menti.
Acontece que no campo do amor tudo é tão imprevisível quanto no campo de batalha. A gente nunca sabe o que vai acontecer a seguir. E eu, por mais que tivesse erguido meus muros e feito de tudo para me defender no começo, foi inevitável não cair de amores por Abigail Anderson.
No começo, eu achei que tudo o que sentia por ela, ao menos as coisas boas, vinham de uma síndrome de Estocolmo misturada com a minha estranha mania de simpatizar com pessoas fodidas e de caráter duvidoso. Eu realmente fiquei tocada com sua história, me senti solidária a criança sofrida que ela foi. Só que, em determinado ponto, eu não poderia mais continuar me iludindo. Tudo foi crescendo excessivamente dentro de mim, e de uma forma tão impetuosa que quando me dei conta nem havia como fugir.
O início da nossa relação foi complicado por causa das circunstâncias atípicas, dos meus surtos quase que diários - mas justificados! - e porque a minha belíssima sequestradora, apesar de gentil e sempre pronta para me agradar, tinha dificuldade de se mostrar inteiramente para mim. Enquanto eu vivesse como sua prisioneira, por mais que pudéssemos ter momentos bons, as coisas jamais poderiam chegar no nível que chegaram.
Olhando agora para trás, é possível dizer que até mesmo aquela coisa terrível e nojenta que aconteceu (o estupro) serviu como uma forma de nos aproximar definitivamente. Porque provavelmente se não fosse por causa dele, a idiota da loira gigante não teria tido a atitude de enfim me libertar, entendendo de uma vez por todas que o amor não pode ser forçado e que eu jamais lhe abandonaria, pois já estava completamente apaixonada por ela.
Desde que vim morar aqui em cima, tudo mudou drasticamente e para melhor. Não só por questões óbvias, como o fato de eu poder tomar sol e ser livre, o que ajudou com minha saúde mental, mas no sentido de que pude me aproximar verdadeiramente de Abby, vendo-a por completo, conhecendo a sua rotina, lhe ajudando a cuidar da casa, da fazenda, de tudo. Pude enxergá-la de uma forma que não poderia antes e isso foi mais que o suficiente para fazer eu ter a absoluta certeza do meu amor e acabar lhe perdoando por sua estupidez.
Nunca estive tão apaixonada em toda minha vida. Nenhuma pessoa foi capaz de despertar algo tão forte e poderoso em mim. Chega a ser assustador a forma como me sinto perto dela. E também é libertador. Eu me sinto livre aqui. Eu me sinto livre amando Abby. Eu nunca fui livre antes.
Estou tão feliz nestes dias, após perder minha "virgindade", que fico cantarolando Taylor Swift por todos os cantos e até esqueci um pouco das minhas bandas de rock. Acontece que aquela loirinha hetero metida a besta combina com coisas românticas, piegas e dramáticas. Ou seja, combina com Abby e eu...
— Eu não acredito que você tinha a porra de um violão escondido aqui este tempo todo! — falo indignada depois de encontrar um lindo violão preto escondido num quarto que parece mais um depósito, cheio de coisas diversas.
Abby ergue o rosto, está sentada no sofá rabiscando num caderno quando eu a interrompo, parando à sua frente com o instrumento em mãos.
— Não achei que fosse importante te dizer isso. Tem várias coisas inúteis nessa casa que nunca me desfiz... o violão está incluso.
— ISSO NÃO É INÚTIL! — arregala os olhos com minha indignação. — Isso aqui é uma obra prima feita para produzirmos arte.
— Sim, quando sabemos usá-lo. Eu não sei, então...
Dou um sorriso malicioso que a faz erguer as sobrancelhas, deixando seu caderno de lado, toda curiosa, com estes lindos olhos cinzentos me encarando.
— Mas eu sei, grandalhona.
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A Caçadora [ellabs]
Fiksi PenggemarQuando uma caçadora faminta e astuta encontra uma nova vítima bastante peculiar, ela vê a possibilidade de enfim conseguir a comunhão perfeita que buscou por toda sua vida. Direitos Reservados dos personagens a The Last of Us. #ellabs