A Caçadora

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Três meses se passaram.

Nossos dias têm sido os mais incríveis da minha vida.

Temos uma rotina agradável e que se mantém sem dificuldades. Nós acordamos cedo todos os dias, exceto aos domingos. Às vezes bate uma preguicinha em Ellie, mas ainda assim eu a faço levantar-se no raiar do dia comigo. É importante para sua saúde física e mental que faça as mesmas coisas diariamente, como se exercitar, se alimentar bem, ter uma rotina fixa. Às vezes ela me xinga, mas sempre agradece.

Fazemos todas as refeições juntas. O café da manhã e o jantar são minhas favoritas. Alternamos em quem vai se prontificar a preparar cada uma, visto que Ellie é uma cozinheira tão potente quanto eu. Depois, a gente vai correr e se exercitar na academia no celeiro. Eu tenho lhe ajudado a treinar mais pesado, o os resultados têm sido bons. Seu humor melhorou ainda mais graças a isso.

A gente cuida das plantas e da horta. Tudo que sempre foi terapêutico para mim, parece também ser para ela. Eu a vejo sorrir alegremente enquanto mexe nas plantas, pondo as mãos na terra, regando, aparando, cultivando. Ela faz isso com amor, e provavelmente é por isso que tem dado resultados fantásticos.

Continuamos com nosso lance de vermos filmes e séries juntas. Temos muitos gostos em comum. Nos atraímos pelas coisas mórbidas e sombrias, porém temos a tendência a fantasiar um pouco a vida.

Nós nadamos no rio, corremos pela floresta, Ellie me ajuda a consertar coisas quebradas, eu a ensino ser uma boa carpinteira, fazemos receitas novas por pura diversão, bebemos aos fins de semana, brincamos na chuva, conversamos sobre tudo e sobre nada, contamos estrelas deitadas na grama, dançamos à luz da lareira e claro, também temos nossos momentos de privacidade.

Às vezes Ellie fica trancada por horas em seu quarto lendo ou escrevendo. Confesso que tenho curiosidade para ler seus escritos, mas respeito muito intimidade. Jamais mexeria em suas coisas. Eu quero conquistá-la completamente, quero que Ellie confie em mim à própria vida, tal qual eu confio a minha a ela.

Quando temos insônia e não queremos assistir nada, muitas vezes descemos para beber um vinho e jogar baralho. Mas na maioria das vezes dividimos a cama. Ellie não tem receio em me chamar no meio da madrugada, gritando de medo por causa dos seus pesadelos. Então eu me uno a ela em sua cama e dormimos com Ellie aninhada em meu peito. É definitivamente a parte que eu mais gosto.

Três meses vivendo dessa maneira, sem a interferência de outras pessoas, nem é preciso dizer que o clima entre nós está ótimo, sem nenhum sinal da tensão ruim do passado. O que não impede de haver outro tipo de tensão nos rodeando, especialmente quando ficamos muito próximas, quando nadamos quase nuas ou quando estamos malhando e eu vejo o seu olhar para os meus músculos. É a tal da tensão sexual. Mas eu não faço absolutamente nada sobre isso, porque não sei mesmo se Ellie ainda me deseja, se tem alguma vontade de ser tocada por mim depois... depois daquilo. Eu jamais poderia ousar fazer qualquer coisa. Seria inconcebível.

Hoje é sábado. Acordei bem cedo e sai com cuidado para não despertá-la. A deixei dormir e descansar enquanto ia até a cidade fazer compras. Dependendo da quantidade de mantimento que eu compro, posso me dar ao luxo de ficar isolada das pessoas por mais um bom tempo...

Como tenho que comprar muitas coisas a ponto de lotar a picape, demoro quase duas horas na rua. Confesso que é sempre uma angústia sair às ruas, ver pessoas, enfrentar filas. Me sinto ansiosa a ponto das mãos suarem. Provavelmente eu devo ter fobia social, o que não é nada anormal em meu caso, criada na floresta como o Tarzan.

Quando chego em casa, estaciono a picape e decido que vou descarregar tudo aos poucos, mas só depois de beber água e verificar o que minha Ellie pode estar aprontando. Duas horas longe e estou morrendo de saudades...

A Caçadora [ellabs]Onde histórias criam vida. Descubra agora