Capítulo 1

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"through my window"

[ Emma Carter

Confesso que nunca lidei muito bem com mudanças, e ver aquele caminhão cheio de móveis na casa ao lado me fez relembrar o momento em que me mudei para California. No começo eu estava assustada, não pela mudança em si, mas sim pela minha adaptação na nova escola e com as novas pessoas.

Não me leve a mal, mas quando você já está acostumada com um lugar e já tem um ciclo de amigos formado, a opção de se mudar e deixar tudo para traz é a menos viável e mais patética possível. E foi esse pensamento que me fez querer ficar trancada em meu quarto por meses e nunca mais sair de lá.

Mas tenho apenas 16 anos, uma longa vida para desfrutar, e não posso deixar que uma "pequena" mudança me atrapalhe nas decisões do meu futuro - Palavras da minha mãe óbvio.

Na primeira semana em minha nova casa, meus pais procuraram uma escola por perto, para me matricular,  eu nem preciso dizer que odiei a ideia, ainda estava cogitando fugir daqui e voltar para minha antiga sala e meus amigos, mas nem se eu quisesse muito conseguiria.

Não pude deixar de fazer meu drama, mas vi que não adiantaria de nada, então apenas aceitei e fiz de tudo para me enturmar rápido nessa escola, odeio me sentir deslocada.

Na primeira semana de aula, a possibilidade de voltar á Chicago já nem era tão interessante assim. Lauren e Tom me fizeram - e fazem até hoje - sentir como se estivesse em casa naquele lugar, como se eu pertencesse aquela escola a décadas. 

Agora, um ano e pouco mais de um mês morando aqui, já posso dizer que me sinto em casa, California é minha nova casa. Não que eu tenha esquecido do meu antigo lar - até porque ainda mantenho contato com meu antigos amigos e família -, mas nem tudo é tão perfeito assim. Na teoria sempre parece mais fácil, mas na prática é completamente diferente, e agora tenho uma nova vida, novos amigos e uma rotina totalmente diferente de antigamente.

Saio da minha "bolha" de pensamento quando finalmente vejo o caminhão se distanciar da casa, anunciando que meus novos inquilinos já haviam despachado tudo que era necessário. Perdi a noção do tempo que nem notei tais atos, perdendo a oportunidade de ver o rosto do novo, ou dos novos moradores.

A casa já estava á venda a um bom tempo, nem me lembro mais de meus antigos vizinhos. Seja lá quem tenha a comprado, que faça bom uso e não nos dê problemas.

Agora são exatamente 19:35 e eu estou deitada em minha cama, rolando meu dedo pela tela do celular, quando vejo o pop up de ligação de vídeo aparecer no mesmo. Era Mia, minha melhor amiga desde que tinha meus 5 anos de idade, quase que minha irmã.

Desde que me mudei mantínhamos contato.

- Sua vaca, achei que nunca mais me ligaria! - Falei assim que atendi sua chamada, ouvindo o riso da mesma.

- Me perdoa Emma, eu realmente estava muito ocupada essa semana, ocorreram muitas coisas e olha só... - A garota ruiva mostra seu novo anel no dedo, e não, não era como os outros, era um anel de compromisso, eu conhecia bem.

- Safada, não me diga que esta tempo todo estava me trocando por macho!

Eu e Mia sempre fomos próximas uma da outra, e não nos escondemos nada. Amo nossa relação e amo a confiança que depositamos em nós. Ela é realmente muito importante para mim.

- Emm, sabe que não te trocaria por nada nesse mundo, eu só... abri um espacinho em meu coração para Victor. - Reviro os olhos. - Você sempre será minha melhor companheira.

Sorrio com a fala dela, Mia era um anjo, e as vezes acho que não mereço a amizade dela.

- Sempre soube que esse papinho de "ele é só um amigo" era furada. - Digo e faço aspas com as mãos. - Vocês nunca me engaram. - Digo com os olhos cerrados e rio.

- Amiga ele é perfeito, sério!

Mia falava dele com brilho nos olhos, e eu não pude deixar de sorrir com isso. Victor era nosso colega de classe e desde que me entendo por gente, esses dois trocam farpas por ai, não foi tão difícil adivinhar o novo parceiro dela.

Eles eram tão previsíveis.

Sinto falta disso.

Conversei com a garota por longas horas, colocamos o papo em dia, já que não nos falávamos a semanas. É bom manter contato com ela.

Mais tarde tive que desligar, pois minha mãe veio me chamar para jantar; nos despedimos mais uma vez e eu a parabenizei pelo relacionamento, não deixando de ressaltar que caso ele a magoasse, não pensaria duas vezes antes de cortar sua genitália e dar de comida aos pássaros.

01:25

O jantar ocorreu bem, falamos dos novos vizinhos e mamãe disse que depois iria dar boas vindas à eles. Sempre tão receptiva.

Queria ser como ela, mas no momento não ligo e nem dou a mínima pra quem quer que seja esses vizinhos.

Agora, uma da madrugada, perdi meu sono pois um barulho estridente de uma parafusadora - eu acho - começou a estourar meus ouvidos, fazendo com que eu abra a janela procurando o ser humano capaz de fazer tal proeza uma hora dessas.

Meu olhar vai de encontro a casa ao lado, onde mais cedo o caminhão se encontrava, notei a janela do andar de cima aberta e as luzes acesas.

Ótimo.

Me assusto com a silhueta de uma garota, que rapidamente some, mas parece que ao perceber que eu a encarava, voltou ao meu campo de visão, se apoiando um pouco na madeira e me encarando fixamente. Nossas janelas não é tão distante assim, me permitindo ver alguns detalhes da garota que aparecera segundos atrás. Cabelos médios, abaixo dos ombros, olhos azuis, tão claros que tive que me esforçar para enxerga-los e... uau, devo admitir que se essa for minha nova vizinha, era extremamente linda e me deixou encantada pelos seus traços.

Por um segundo me esqueço do importuno que me acordara e ao ver a ferramenta na mão da garota reviro meus olhos, por Deus! Ela desvia o olhar e volta ao que estava fazendo, ainda assim sem sair do meu campo de vista.

A vejo levar a ferramenta até a parede, pouco ao lado da janela - não pude ver muito - e a ligar, fazendo novamente um barulho ensurdecedor.

- Céus, quem em sã consciência decide parafusar seja lá oque, uma hora dessas?! - Resmungo baixo para mim mesma.

Estava pronta para reclamar, mas a garota a minha frente foi mais rápida, me encarando uma última vez e fechando a janela com certa brutalidade, voltando a fazer seu trabalho.

Pelo menos senso ela tem.

Fecho a minha também e me deito novamente, podendo em fim me desligar de tudo e me entregar - mais uma vez - ao sono.

A vizinha - Billie Eilish G!POnde histórias criam vida. Descubra agora