CAP 11: Superar

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O show acabou e Elliott decidiu me levar para casa.
Estamos rindo pois Krombus estava admirando o cabelo do homem faz umas 2 horas.
-Quer tocar? -Elliott sugere,fazendo Krombus aceitar e o mesmo ajoelhar.
-Uau...-É a única coisa que o ser consegue dizer.
O homem de cabelos dourados pega o meu filho pelo colo e sorri pra mim.
-Quem é a mãe ou pai dele Mey?
Eu e Krombus nos encaramos.
-Bom,eu não sei.
A confusão no olhar do dono dos olhos mel me faz sorrir de canto.
-Oh. É um assunto delicado?
-Não,eu só não sei! Ele é adotado,entende?
-Ah sim! Então faz sentido. Se quiser posso te ajudar com ele,sou ruim com crianças mas amo ler histórias.
Krombus ergue a cabeça.
-Ele ama histórias! A favorita dele é "Baronela",certo?
-SIM! Mamãe fez até um vestido para mim! Irei usar caso um dia eu for pra uma escola!
-Ele não estuda?
-Não. Ainda não. Planejo deixar a Penny ensinar ele!
-É uma boa ideia! Enfim,tenho que voltar para a praia! Tchau Mey! Tchau Kyle!
-Tchau moço do cabelo bonito! -Krombus se despede.
Quando o homem de vestimenta antiga se vai,olho o meu acompanhante restante.
-O que achou?
-Hum? Do que?
-Do show!
-EU ADOREI! Mas não entendi nada do que eles faziam.
-Um dia te explico. -Ajoelho em frente de Krombus. -E do Elliott? O que você achou?
-Ele é legal,sempre quis tocar naquele cabelo! Eu tinha jurado que era peruca!
-Haha... Ele é legal mesmo! Eu também pensava.
Krombus demonstra insegurança.
-Você tá bem Krombus?
-Sim! Só que é a primeira vez que vejo humanos que não sabem do jogo,é meio triste pensar que tanto eu,quanto eles não existem.
É um pouco macabro pensar que é verdade,apenas eu existo neste mundo,nem Aurora e muito menos Krombus realmente estão ali.
-Como é?
-Como é o que? Saber que eu não existo? Assustador. Eu nem respiro realmente. É como se eu fosse apenas algo que vai começar,de novo,e de novo,até alguém cansar do jogo.
-Deve ser assustador você e a Aurora serem os únicos a terem noção disso.
-Wizard também sabe. Mas no caso dele,ele sabe exatamente que não pode afetar ninguém que o jogo vai começar novamente,mas com você,ele pode,já que você existe realmente.
-Se ele me matar aqui,eu morro de verdade?
-Não só ele. Se a Aurora não tivesse parado aquele dia na casa antiga dela,você teria morrido aqui,e no mundo real.
Meus olhos se arregalam e começo a tremer.
-Se eu falhar,eu também morro?
-Não. O jogo só reinicia,e o meu inferno e o de Aurora começa,de novo. Mas não tenha a urgência de não falhar,eu e nem ninguém aqui vai lembrar que você já jogou. Mas... -Ele tenta não chorar. -Mas eu vou ter que novamente esperar por 10.008 anos para finalmente ter algum amigo. -Ele se rende,e chora. -Vou ter que esperar de novo para ficar bem,mesmo não existindo,eu só queria um amigo,um amigo que não tenha sido trancado por sei lá quantos anos em uma casa.
Abraço o mesmo,enquanto ouço passos atrás de nós e Aurora vindo nos abraçar.
Eu odiei saber que eu posso morrer no meio do jogo,mas me dá mais ódio ainda,saber que eles sabem que são apenas npc's e devem continuar agindo normalmente pelo bom funcionamento do jogo. Isso é uma crueldade inabalável da pessoa que criou o jogo.

Estou fazendo o café da manhã dessa vez.
Aurora passou a noite acordada.
De acordo com a bruxa,os sonhos com Wizard pioraram,fazendo a mesma ter até paralisias do sono por conta dele.
Falando dessa assombração,falta apenas 2 dias para o festival das medusas da lua,onde eu finalmente poderei ver esse homem,se é que isso é algo mortal.
Deixo o café numa cômoda perto do sofá onde a dona dos cabelos pretos dormia.
Vou admitir,mesmo sendo macabro pensar que Aurora poderia ter me matado dias atrás,é bom ter a ajuda dela na fazenda.
A mulher até ronca depois de ter desmaiado no objeto,e eu olho ela com um sorriso sincero.
"Se você existisse,eu amaria ser suê amiguê." Penso.
Um suspiro pesado vem,e Krombus surge com seu vestido.
-Krombus? O que faz vestido assim?
-Nada. Eu só gosto de usar,é bom quando estou inseguro. E você mãe? O que faz olhando a Aurora?
-Pensamentos. Enfim,eu vou entregar algumas coisas para a Pam,por conta de uma missão que a mesma me passou. Ela prometeu uma boa recompensa,se for dinheiro,eu prometo te trazer algo de humanos. Tem algo que queira?
-MAQUIAGEM!
-Hum? -Ergo uma sobrancelha. -Ok? Mas o que te faz querer isso?
-Vi a Haley aquele dia na fazenda,e a mesma disse que ama passar maquiagem! Quero saber o que é!
-É literalmente tinta e brilho pra passar na face.
-Mas parece divertido! Posso te maquiar mãe?
Um flash de lembranças passa em meus pensamentos.
"Você deve ser femina."
A voz da minha mãe passa pela minha mente.
-Não passa isso em mim.
-Desculpa! Eu juro que não vou. Mas você pode me maquiar,né?
-Isso sim. Eu vou indo,cuida da Aurora.
-PODE DEIXAR!
-Tcha...-Krombus segura minha blusa. -Ei! Vai esticar! O que houve?
Ele pega uma flor.
-Desculpa por lembrar da sua mamãe ruim... Eu não queria isso. Eu te juro! Se quiser eu paro de te chamar de mãe.
Percebo que o mesmo segura o choro.
Ele lembra um pouco eu com 8 anos,pedindo desculpas por tudo para minha mãe.
Me viro totalmente para ele.
-Pode continuar chamando assim. Mas eu também gostaria que me chamasse de pai,pode ser?
-CLARO! -Ele dá pulinhos. -Eu te amo papai!
-Eu também serzinho. Agora posso ir?
-Sim! Desculpa.
Dou algumas batidas leves em sua cabeça e coloco a flor em meu cabelo.
-Tudo bem filho.

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