Harvey é brutalmente chacoalhado por mim.
Meu choro é evidente, mas eu sei que não é só por causa da chance de eu ter acabado de perder o jogo ser enorme, mas a de Harvey morrer também ser.
Ele colocou tantas pílulas na boca que uma overdose seria pouco pro mesmo.
Seria muita esperança se eu se quer ligasse pra ambulância na esperança de conseguirem de alguma forma MILAGROSA salvarem ele.
Isso me lembra uma cena que ocorreu antes do jogo fazer literalmente a felicidade brilhar em mim por alguns segundos, meu vô, e isso só faz meu choro ser mais e mais sufocante.
Quando vi ele morto na minha cama, eu só conseguia pensar que ligar para a ambulância seria muita esperança da minha parte, que eu deveria ser realista e que a morte seria certeira.
Eu me culpei.
Me culpei por não ter conseguido salvar meu vô, me culpei por não ter visto que ele não estava bem no momento certo, assim como me sinto com o Harvey.
Meu vicio em salvar todos e esquecer do meu vô me sufoca tanto que apenas grito comigo internamente.
A palavra "de novo" repete e repete no meu grito interno e eu só consigo implorar pro Wizard aparecer e salvar o Doutor de alguma forma que desconheço.
Eu implorei para aquele maníaco que provavelmente tinha colocado as pílulas na mesa de Harvey para o surto dele ocorrer salvar o mesmo.
Isso era até engraçado, pedir pro talvez assassino salvar sua vitima.
Esse pensamento só me fez acreditar que ele não iria aparecer. Me fazendo chorar e gritar.
Eu não lembro o que eu fiz, ou o que eu disse mas apenas senti uma mão pesadamente pousada em meu ombro, com aquele olhar vermelho sanguinário.
—Você me chamou, não? —A voz rouca dele me fez finalmente tomar coragem para secar minhas lágrimas.
—Sim.
—E o que foi?
—TEM UM CORPO NA SUA FRENTE PORRA! VOCÊ PRECISA FAZER ALGO CARALHO! —Seu olhar magnético me penetra e eu me acalmo com medo do que ele faria ou seria capaz de fazer. —Olha, é minha segunda vez vendo um corpo e eu não quero passar por isso. —Um suspiro que é o máximo que posso fazer para segurar meu choro.
—De novo?
—É... —Uma pausa. —Eu só preciso da sua ajuda! Faz algo pra salvar ele, por favor! Eu imploro Wizard. Eu não quero que ele tenha o fim que meu vô teve! Não por minha culpa!
—E é sua culpa? —Continuo chorando e apenas concordo. —Você que está dizendo isso. Mas me explique Mey, por que eu salvaria alguém que eu teoricamente matei? —Fico sem resposta, assim arregalando os olhos percebendo que era o fim de fato. —Mey. —Ele chama.
—Sim?
—A Aurora vai saber como fazer isso.
—M-mas, você tem posse do jogo agora! Como você não consegue fazer ele ficar bem?!
—Eu nunca disse que não consigo.
—Você não vai fazer por que não quer?! Sério?!
—Eu sou um assassino filho da puta não? Foi disso que você me chamou na mente.
—ME DESCULPA! EU JURO QUE NÃO FOI POR MAL! ME DESCULPA!
O silêncio dele faz meu coração errar os batimentos de uma forma louca.
—Você quer mesmo salvar ele né? Hahaha... —Sua risada um pouco sem graça me faz pensar seriamente se temos intimidade ao ponto dele perguntar sobre meu vô e isso de uma forma tão natural.
—Sim.
—Sabe qual o seu MAIOR defeito Mey?
—Qual?
—Você quer ajudar todos mas não quer SE ajudar. Se você quer mesmo ganhar esse jogo, como você espera sair dele?
—Esquecendo.
—Esquecendo o que? Eu quero ouvir da SUA boca.
—Meu vô.
—Essa é a primeira vez que sinto que temos algum tipo de laço profundo. —Wizard me abraça, me fazendo ficar sem reação e estranhamente abraçar de volta. Ele tem um cheiro que me lembra os corpos decompondo, e vai por mim, é o pior cheiro que existe no universo inteiro. Suas mãos me agarram como se eu fosse de sua posse e seu corpo é estranhamente reconfortante mesmo com aquele cheiro horrivelmente desagradável. —Eu vou salva-lo. —Wizard me solta com um olhar genuinamente muito sincero e eu apenas solto um sorriso um pouco sem graça e sem reação. —Agora seque essas lágrimas.
—Certo. —Eu seco meu rosto. —Obrigado Wizard, eu juro que vou pagar.
—Sua consciência é um ótimo pagamento e você sabe disso.
—Justo.
Aperto suas mãos e antes de ir embora, o das longas barbas e cabelos roxos sorri e sussurra:
—Manda um abraço para a Abigail por mim.
Ele some com o vento ao seu redor e eu apenas fico me perguntando o motivo disso ter ocorrido.
Mas nem tenho tempo de pensar e já ouço tosses atrás de mim.
Harvey levanta atrás de mim e eu já corro para abraçar ele.
Eu realmente estava com medo dele morrer e a culpa ser minha.
O alivio é abundante em mim e eu até erro o respirar ao ver ele levantando e me olhando com aquele olhar de quem pensou mesmo que iria morrer.
—Obrigado. Eu não sei o que você fez mas eu nunca vou ter palavras para agradecer você Mey. —O moreno me abraça de volta e começa a chorar e rir comigo. —Eu fui fraco, me desculpa. E-Eu juro que nada disso sou eu. Eu juro Mey, você realmente me salvou hoje...
—Não foi eu que te salvei Harvey..
—Não? Como?
—Não importa, você precisa descansar. Dorme, depois eu converso com a Maru e tudo vai ficar bem.
—Você jura?
—Eu juro.
Ele adormece em meus braços e eu apenas dou um sorriso de canto colocando ele na cama.
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SEMPRE VALLEY
Fanfiction"Sempre Valley" é uma narrativa que mergulha profundamente no universo de Mey, um jovem que herda um Nintendo do seu avô após a sua morte. Diante do luto e da dificuldade em lidar com a perda, Mey encontra uma fuga para fugir da realidade: o mundo...